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Ultraman #1 | Crítica

Seriado dos primórdios do tokusatsu ganha uma continuação ao gosto dos mangás de hoje em dia

24.09.2015, às 20H12.

Não são monstros reptilianos e tentaculares do espaço a maior ameaça a Ultraman, no mangá escrito por Eiichi Shimizu e desenhado por Tomohiro Shimoguchi que a editora JBC começa a publicar neste mês no Brasil. A ameaça principal é a descaracterização, porque não há tanto assim na HQ (publicada no Japão desde 2011) que lembre a série de TV de 1966.

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Não só o mundo mudou nesse meio século desde os primórdios do tokusatsu, mas principalmente os gostos do público, e a primeira edição do mangá Ultraman - continuação que se passa duas décadas depois do fim da história da série de TV - comprova isso, com um embate entre defensores da Terra e invasores alienígenas adaptado, com exoesqueletos mais modernos, para a geração pós-Evangelion. Temas onipresentes em mangás hoje, das subtramas escolares (o protagonista antissocial ante a eterna colegial indefesa) às crianças com potencial secreto para superar os adultos, já dão o tom neste Ultraman #1.

Obviamente, não faltam pistas para relacionar o mangá ao Ultraman original, mesmo porque a premissa traz a volta de personagens principais como Shin Hayata (o hospedeiro do Ultraman na televisão agora é um pai que tenta proteger seu filho, o novo herói da história, geneticamente carregado com os poderes do "Gigante de Luz") e Mitsuhiro Ide (que continua à frente da Patrulha Científica, grupo de apoio do Ultraman). Situações consagradas, como toda a preparação de Shinjiro para dar o golpe do raio Spacium, fazem o fan service com competência.

Ainda assim, é difícil enxergar em Bemular, por exemplo, o monstro dessa primeira edição, o mesmo rival do Ultraman de 50 anos atrás: aquela espécie de Godzilla anêmico da série de TV agora se esconde sob uma couraça de escamas metálicas que o torna mais uma criatura genérica do que um monstro icônico (ao fim, a página dupla em que Bemular revela seus velhos dentes afiados tenta preservar um pouco da nostalgia). A própria armadura do Ultraman guarda só algumas semelhanças com a original. O que se faz aqui não é o elogio da tosqueira - é inevitável que a estética dos anos 60 seja revista nessa continuação - mas sim um pedido por um pouco mais de personalidade.

Os desenhos de Shimoguchi neste começo de série fazem o básico, com quadros estreitos com muito close-up nos momentos mais dramáticos e cenários com poucos ou nenhum detalhe nas cenas de luta. O fundo liso (do céu no meio da cidade ou do estádio onde o clímax se passa) ajuda nos quadros mais cinéticos ao leitor se situar na ação, especialmente diante de dois mechas relativamente parecidos, mas fica sempre aquela sensação tão frequente em outros mangás de que o desenhista economiza nas informações de contexto para facilitar seu serviço. Curiosamente, esse fundo liso ajuda um pouco a evocar o original, porque, sem um senso de escala, num espaço vazio, Shinjiro e Bemular poderiam tanto ter 2 metros de altura (como nesta HQ) quanto setenta (como no seriado), dependendo da imaginação do leitor.

A primeira edição de Ultraman termina com a impressão de que não vai muito além do esperado - gigantismo na destruição, pequenos melodramas na relação dos personagens (a filiação de Shin e Shinjiro questionada) - mas então surge uma surpresa no final, com a aparição do alien zettoniano, e o que fica é um alento para os velhos fãs. Ao testemunhar essa virada que inverte toda a lógica estabelecida na série de TV, o leitor recebe a promessa de que o novo Ultraman não apenas contempla os gostos da nova geração, como também desafia os mais velhos a reavaliar seu objeto de culto com outros olhos.

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