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Crítica

O Boxeador | Crítica

Mais uma HQ, mas não qualquer uma, sobre os campos de concentração nazistas

13.09.2013, às 19H51.
Atualizada em 27.12.2016, ÀS 13H04

Mais uma HQ biográfica? Mais uma HQ biográfica em que o protagonista tem a vida mais difícil do mundo? Mais uma HQ biográfica em que o protagonista tem a vida mais difícil do mundo... nos campos de concentração nazistas?

Dá pra entender que o tema do Holocausto provoque um certo cansaço depois de tantos filmes, tantos livros e tantas HQs sobre a Segunda Guerra Mundial - afinal, é uma das mazelas que a sociedade moderna ainda não conseguiu entender, ou mesmo assimilar, por completo. Mas calma lá. É importante ver o que se conta em torno do tema, e também como.

No caso de O Boxeador, graphic novel do alemão Reinhard Kleist, os campos de concentração são cenário importante. Hertzko Haft, o biografado, foi um judeu polonês que passou por Poznan, Strzelin e pelo tenebroso Auschwitz-Birkenau. Passou também pelos clichês que você conhece: o número de registro tatuado no braço, ser tratado como um bicho, tendo que se virar na esperteza (e até na crueldade) para não morrer de fome e, por fim, tendo a sorte de recomeçar a vida.

Mas o diferencial na história de Haft é que, por uma dessas sortes ou acasos, ele caiu nas graças de um oficial da SS que resolveu que ele seria boxeador. De cabelos raspados, esquelético, mal segurando-se em pé, ele teria que lutar contra outros prisioneiros na mesma condição para entretenimento dos soldados nazistas.

Mais curioso ainda é que a carreira cruel nos ringues improvisados levou à carreira séria de pugilista nos EUA, país para onde Haft se mudou logo após a Guerra. Ele fez sucesso nos ringues de Nova York e teve seu auge numa luta contra o famoso Rocky Marciano, que estava em sua própria escalada rumo ao título de campeão dos pesos pesados.

A graphic novel de Kleist baseia-se no livro Harry Haft, escrito pelo filho do pugilista, Alan Scott Haft, e inédito no Brasil. Kleist, conhecido por biografias em HQ de Johnny Cash e Fidel Castro, voltou-se para um personagem menos famoso, mas com uma história certamente incomum. Não é qualquer biografia em campo de concentração, afinal.

O Boxeador é bastante simples em termos de narrativa, se comparada a grande parte das graphic novels atuais e mesmo a quadrinhos de super-herói. Fora um trecho logo no início que bebe explicitamente em Will Eisner - sem requadros, com traço bem expressivo e personagens caricatos -, Kleist foca na clareza para contar a vida de Haft. É pensado, talvez, para o público ainda pouco acostumado aos quadrinhos; o grande público alemão ainda está descobrindo as graphic novels, assim como acontece no Brasil.

Outra referência inevitável da obra é Maus, a conhecida graphic novel em que Art Spiegelman contou a experiência de seu pai em campos de concentração. Spiegelman foi sem dúvida mais ousado, tanto por transformar seus personagens em animais quanto por explorar a linguagem das HQs. Mas Kleist também se permite algumas experimentações: numa cena de provocar pesadelos, Haft vê prisioneiros do campo literalmente canibalizando outros colegas. É quando a desumanidade atinge um nível tão grande que o traço fica mais grosso, pesado e, como convém, desumano.

Nota do Crítico
Bom

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