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Crítica

Harry Potter e A Criança Amaldiçoada | Crítica

O oitavo livro da saga e os desafios de se lidar com a nostalgia de uma geração de leitores

01.11.2016, às 16H22.
Atualizada em 16.02.2017, ÀS 13H57

Um dos lançamentos mais aguardados do ano pelos fãs brasileiros, a edição traduzida de Harry Potter e a Criança Amaldiçoada finalmente chegou às livrarias do país. A julgar pelos eventos que lotaram as lojas na virada de domingo para segunda e a aposta da Rocco para esta edição, o apelo da saga criada por J.K Rowling ainda segue muito forte, e o livro tudo para ser um dos grandes sucessos de vendas no último trimestre de 2016. Porém, o provável sucesso comercial do livro vem acompanhado de um questionamento: Qual é o objetivo de Harry Potter e a Criança Amaldiçoada?

A história se passa 19 anos depois dos acontecimentos de Harry Potter e as Relíquias da Morte, sétimo volume da série lançado em 2007. Agora quarentão, Harry é um atarefado funcionário do Ministério da Magia, casado com Gina Weasley e pai de três filhos: Tiago, Lílian e Alvo, um adolescente atormentado com o peso de ser filho de um dos maiores bruxos do mundo. Atentos ao fato de que a maior parte dos fãs originais da saga agora beiram os 30 anos, Jack Thorne e John Tiffany mantém Harry, Ron e Hermione por perto, recriando a química entre os três e acertando em cheio na nostalgia dos fãs.

É reconfortante ver Hermione se transformar em uma mulher forte e importante dentro do universo bruxo, confirmando o que muitos já suspeitavam desde o desenrolar da série original de J.K Rowling. Por outro lado, Ron é pintado como uma pessoa caricata, e em muitos momentos serve como um alívio cômico desnecessário. Já Harry continua a figura inconstante de sempre, mas é nos diálogos com seu filho Alvo que vemos surgir um personagem humano e frágil, que sofre por não ser um modelo ideal de pai e falha em conseguir construir um diálogo significativo com seu filho. Também é importante falar sobre Escórpio Malfoy, personagem com personalidade bem definida e uma das grandes surpresas não só deste livro mas de toda a saga Harry Potter.

Porém, se os idealizadores da peça conseguem criar uma história mais madura e centrada nos personagens em detrimento de elementos mágicos, a sensação é de que Harry Potter e a Criança Amaldiçoada não é exatamente o "oitavo livro da saga". Deixando de lado a constatação de que um texto teatral normalmente não é tão rico como uma prosa, os criadores da peça derrapam ao tomar algumas decisões problemáticas na narrativa. Além de apresentar soluções fáceis para grandes desafios, a conexão entre Delphi e Voldemort não é das mais plausíveis. Para quem leu os livros, ter conhecimento do passado "emocional" de um vilão tão desprovido de sentimentos como Voldemort parece sem propósito. Vale notar também o negligenciamento de Tiago e Lílian, irmãos de Alvo, e da construção de Gina como uma personagem absolutamente periférica, sem peso no enredo.

Não existem dúvidas de que os outros sete livros da saga – com seus 450 milhões de unidades vendidos pelo mundo – foram importantes para a formação de toda uma geração. No entanto, é difícil de aceitar que Harry Potter e a Criança Amaldiçoada deva ser tratado como o mais novo livro da série. A obra é uma grande oportunidade para rever alguns dos personagens preferidos da ficção deste século, mas só isso. Se o leitor quiser reviver a magia de Harry Potter, deverá retornar aos sete romances originais.

Nota do Crítico
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