Cartas da Metrópole: A banda desenhada em Portugal
Cartas da Metrópole: A banda desenhada em Portugal
Olá,
leitores do Omelete.
Bem-vindos à minha nova coluna, que irá falar todos os meses (espero!) sobre HQs (e ocasionalmente outros assuntos), em especial as publicadas aqui na Europa.
Para quem não me conhece, meu nome é Pedro Bouça, vulgo "Hunter", e eu escrevo sobre HQs, cinema e outros assuntos no Omelete desde a criação do site. Recentemente eu me mudei do Brasil (onde vivi quase toda a minha vida) de volta para meu país natal, Portugal. Em termos de leitura de quadrinhos (que, afinal, é o assunto principal dessa coluna) é uma mudança radical! Em Portugal são raras as bandas desenhadas (como as HQs são chamadas por aqui) de super-heróis americanos e não há praticamente nenhum mangá, mas as livrarias estão cheias de HQs européias que simplesmente não existem e, a julgar pela tendência corrente das editoras brasileiras, nunca existirão no Brasil. Eu falarei sobre esse material, mas também sobre as HQs importadas da França que se pode conseguir facilmente por aqui (a União Européia é uma benção!).
Vamos agora a uma rápida exposição do que se pode encontrar em Portugal:
Nas bancas
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Enquanto as bancas de jornal são o lugar onde se concentra o maior número de lançamentos de quadrinhos no Brasil, em Portugal a história é bem diferente. Aqui é difícil encontrar HQs nas bancas! Apenas as maiores editoras têm alguma coisa. A saber:
- HQs Disney, publicadas em Portugal pela Editora Edimpresa. A qualidade das revistas é apenas razoável, sendo similar à da Abril de alguns anos atrás. Não há ainda nenhum lançamento de luxo tipo O Melhor de Disney ou Mestres Disney, mas recentemente os clássicos (Carl Barks, Don Rosa, etc.) começaram a ser publicados em uma revista com papel e formato superiores. Obras Primas da BD Disney é facilmente a sua melhor publicação. O megasucesso mundial Witch também sai aqui, com direito a edições encadernadas em capa dura das primeiras histórias!
- Super-heróis americanos (Marvel essencialmente), publicados pela Devir (sim, a mesma do Brasil!). Saem em edições no formato americano e com papel de alta qualidade, mas menos páginas (e, claro, mais caras) do que as da Panini brasileira. Só Homem-Aranha e X-Men (tanto em suas encarnações "tradicionais" quanto nas versões Ultimate) têm publicações regulares. O resto é relegado a ocasionais edições especiais de luxo vendidas apenas em livrarias e comic shops.
- HQs importadas do Brasil. Só a Mythos (com Conan e os fumetti Bonelli) e a Globo (com as revistas da Turma da Mônica) distribuem seus lançamentos nas bancas daqui. Nenhuma das editoras brasileiras de mangás distribui suas publicações por aqui, o que é incompreensível, já que parece haver uma demanda por estes trabalhos no país que não é suprida pelas editoras locais. Vale mencionar também a Devir, que publica aqui as mesmas HQs que publica no Brasil (e vice-versa).
Fora isso, vale mencionar as HQs vendidas junto com os jornais portugueses. Como no Brasil há uns anos, os jornais portugueses atualmente estão em uma competição ferrenha, encartando pilhas de CDs, DVDs, livros e outros badulaques junto com o jornal em si. Diferente do Brasil, porém, alguns jornais incluem HQs entre estas promoções! Estão disponíveis tanto a famosa Coleção Panini (a mesma que saiu nos jornais da maioria dos países europeus), quanto álbuns de personagens europeus clássicos como Tintin, Blake e Mortimer, Corto Maltese, Michel Vaillant e outras séries européias menos cotadas. Essas são, fácil, o que há de melhor nas bancas, mas o caráter fugaz dessas publicações faz com que não sejam substitutas das "verdadeiras" HQs regulares.
Nas comic shops
As poucas comic shops que eu encontrei aqui em Lisboa até agora eram, como no Brasil, especializadas em HQs norte-americanas. Infelizmente, parece não haver lojas especializadas na importação de HQs francesas, italianas, inglesas ou mesmo espanholas (embora apareçam umas raras edições desses países nas melhores lojas especializadas). Para agravar, os preços são muito altos, com as revistas custando mais em euros do que seu preço regular em dólares (vale lembrar que, atualmente, o euro vale mais do que o dólar!). Nestas condições é difícil comprar alguma coisa! O ponto positivo é que as maiores lojas têm um acervo muito maior do que qualquer comic shop brasileira. A maior que eu vi até o momento (a BD Mania do Chiado, em Lisboa) tinha em suas prateleiras quase todos os TPBs norte-americanos disponíveis no Previews! Independentemente da editora ou do tipo de publicação! Só vi algo sequer parecido no Brasil nos estandes que a Devir faz nas Bienais do Livro de São Paulo e Rio de Janeiro, mas nem isso chega aos pés do acervo dessa única loja. Deveras impressionante!
As editoras portuguesas, porém, não demonstram interessem em fazer algo específico para esse mercado. Ainda assim, as boas comic shops têm todos os principais lançamentos portugueses em suas prateleiras.
Nas livrarias
Este
é o lugar para se comprar HQs em Portugal! Nas livrarias é que
estão concentrados os lançamentos de HQs, sejam estes traduções
de álbuns franco-belgas (em sua maioria) ou encadernações
de HQs norte-americanas (tanto comic books quanto compilações
de tiras de jornal). Os raros mangás publicados em Portugal até
o momento (como Akira) também tendem a ser
lançados apenas neste tipo de ponto de venda.
As livrarias também são o lugar para se procurar HQs importadas da França (em especial nas FNAC, que possuem espaços enormes dedicados às Bandas Desenhadas) e, em menor escala, dos EUA. Curiosamente, não costumam aparecer nas livrarias HQs publicadas no resto da Europa (mesmo Espanha!). Não sei explicar a razão.
Nas livrarias especializadas na venda de publicações estrangeiras também é possível (ainda que incomum) se encontrar algumas publicações importadas, como a inglesa 2000 AD e as francesas BoDoï e Lanfeust.
Em conclusão, Portugal não possui mais variedade de HQs à disposição do público do que o Brasil, apenas tende a se concentrar em um produto diferente (o da indústria franco-belga). Eis a razão pela qual uma análise dos lançamentos em Portugal pode ser interessante aos leitores brasileiros, que serão assim apresentados a uma variedade de HQs virtualmente desconhecidas no Brasil.
Para além dos lançamentos em Portugal, também falarei dos lançamentos em francês a que tiver acesso, não só HQs européias como também alguns mangás, a título de variedade. Deixarei as HQs norte-americanas de lado, pois já existem outros cozinheiros que escrevem sobre o assunto.
Este mês, falarei do novo (novo?) Tintin, da coleção do Corto Maltese publicada no jornal Público e da revista belga Spirou.
Ainda há uma última coisa a destacar a respeito das HQs portuguesas: o Festival de Quadrinhos de Amadora. Leiam o artigo sobre ele e as 100 HQs que foram selecionadas por seus organizadores como as mais importantes do século passado.
Mês que vem tem mais!

