![]() Yellow Kid |
Quadrinhos para imigrantes
![]() Beco Hogan em 1894 |
Praticamente desde seu início como grande meio de comunicação de massa e instrumento privilegiado para o aumento do consumo de jornais, os quadrinhos buscaram refletir situações que falassem mais de perto à realidade de seus leitores. Isto se consubstanciou mais particularmente no meio ambiente norte-americano de final do século 19: ali, os magnatas da imprensa buscavam agregar, às suas multidões de consumidores, todos aqueles imigrantes, principalmente europeus, que haviam ingressado no país para atender às demandas do desenvolvimento industrial. Por esse motivo, grande parte das histórias em quadrinhos que inicialmente surgiram nos suplementos dominicais das duas maiores cadeias jornalísticas do país, as de Pulitzer e Hearst, ambientavam suas peripécias humorísticas nos guetos de Nova Iorque. Era o que acontecia, por exemplo, com a célebre personagem Yellow Kid, criação de Richard Felton Outcault em 1895, que vivia suas peripécias no beco de Hogan, no qual predominavam os habitantes de diversas etnias não norte-americanas.
![]() Pulitzer (à direita) e Hearst (à esquerda) enfrentam-se por causa da Guerra Hispano-Americana. Ambos vestem o roupão do Yellow Kid. Daí a imprensa sensacionalista americana ser chamada de amarela e não marrom como no Brasil. |
Outras histórias em quadrinhos também seguiam o mesmo tom. O colosso ianque desejava aculturar as levas de imigrantes que passara a abrigar e as histórias em quadrinhos apareciam como o instrumento por excelência para atingir esse objetivo. Eram baratas. Eram fáceis de compreender. Eram atrativas ao leitor com pouco conhecimento do idioma inglês. E, além de funcionarem muito bem em todos esses quesitos, atingiam em cheio o seu público e contribuíam para uniformizar as diversas etnias em torno de uma maneira única de encarar o mundo.
Gêneros diversos desde o começo
Aos poucos, os dois objetivos complementares dos quadrinhos industrializados norte-americanos, ou seja, o de ampliar a venda de jornais e, ao mesmo tempo, incorporar levas de imigrantes à sociedade em acelerado processo de desenvolvimento, geraram a busca de maior diversidade temática nos produtos disponibilizados pelos suplementos dominicais em cores (e, a partir de 1907, também pelas tiras cômicas de quadrinhos, inseridas nos jornais diários). Embora a comicidade de personagens e situações fosse ainda, durante um bom tempo, o elemento dominante daquelas histórias em quadrinhos, categorias específicas podem, desde o início, ser vislumbradas, como uma espécie de incipiente segmentação de mercado. É assim que, desde o final do século 19, algumas séries começam a enveredar para um universo ficcional em que pontificam personagens infantis e animais antropomorfizados. Elas se constituíam, pode-se afirmar, os primeiros passos para a constituição das kid e animal strips. Outros gêneros se seguiriam, posteriormente, com a distribuição massiva dos quadrinhos pelos Syndicates. Por intermédio das family e girl strips, essas grandes organizações voltadas para a distribuição internacional de histórias em quadrinhos puderam fundamentar o sonho americano de uma vida feliz e saudável, depois catártica e emocionalmente complementado pelas histórias em quadrinhos de aventuras.
A discussão de cada um desses gêneros pode ajudar a compreender o desenvolvimento das histórias em quadrinhos na primeira metade do século 20 e será objeto desta série de artigos.
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