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Os lançamentos de HQs no Brasil

15.08.2006, às 00H00.
Atualizada em 23.11.2016, ÀS 07H08
Blacksad Juan Díaz Canales e
Juanjo Guarnido (Panini)
5 ovos!
Cinderalla Junko Mizuno
(Editora Conrad)
3 ovos
Estranhos no Paraíso - Inimigos mortais Terry Moore
(HQ Maniacs)
5 ovos!
Vingadores Anual Joe Casey e
Scott Kolins (Panini Comics)
4 ovos
DC Especial 10 Giffen, DeMatteis e Maguire (Panini Comics)
3 ovos

Blacksad - Volume 1
Érico Borgo

As novidades em quadrinhos nas bancas de jornais e livrarias têm alegrado os corações calejados de velhos amantes da Nona Arte. Cansados de colantes e saudosos dos bons tempos do início da década de 1990, quando cada passada no "jornaleiro" significava obras-primas nas estantes, os fãs não têm do que reclamar hoje em dia. Há mangás, HQs de heróis, quadrinhos independentes, gibis infantis e álbuns europeus pra todos os gostos. Uma verdadeira fartura como não experimentávamos havia um bom tempo!

Mas de todos esses produtos de qualidade, um se destaca imponente: Blacksad - Um lugar entre as sombras, álbum de autoria do escritor Juan Díaz Canales e do desenhista Juanjo Guarnido que a Panini Comics colocou recentemente ao alcance dos brasileiros.

Premiadíssimo na Europa, o gibi apresenta as aventuras do personagem-título, um gato detetive no melhor estilo noir, em um local habitado por animais antropomorficos. O gênero se refere aos filmes policiais - geralmente em preto e branco - produzidos nos Estados Unidos a partir de 1940 e ficou no imaginário cinéfilo por suas femme fatales, anti-heróis, tramas investigativas e muita fumaça de cigarro (são exemplos dele O Falcão Maltês, A Marca da Maldade e O Crepúsculo dos Deuses, entre muitos outros).

Os autores fazem um trabalho magnífico na transposição dessa atmosfera aos quadrinhos. Os detalhados traços e sérios tons de Guarnido - ocres, cinzas azulados e um eventual e marcante vermelho - tornam a leitura da competente, e bastante honesta, trama de Canales indispensável para qualquer um que se considere amante dos quadrinhos ou mesmo do cinema. O momento em que Blacksad relembra a época mais feliz de sua vida é antológico, pela habilidade do artista em retratar essa felicidade apenas com o uso dos tons - subvertendo-os na página seguinte com sutileza, de volta à realidade. Disparado o melhor lançamento de 2006 no Brasil.

A edição é simples, mas elegante. Diferente das demais HQs européias que a editora está lançando por aqui, tem apenas uma história de 46 páginas com começo, meio e fim. A expectativa pelo segundo volume já é enorme aqui na Cozinha.

(Blacksad 1: Quelque Part Entre Les Ombres) De Juan Díaz Canales e Juanjo Guarnido. Panini Comics. Formato: 20,5 x 27,5 cm. 50 páginas. Preço: R$ 13,90.

Cinderalla
Érico Borgo

Lançamento do Conrad, Cinderalla é o mangá mais bizarro que já li. Mas não me entenda mal... não é bizarro no sentido dos recentes lançamentos sadomasoquistas escatológicos da mesma editora, mas pela estranheza visual e narrativa de uma história quase infantil, mas cheia de toques sacanas e meio alucinógenos.

A jovem autora Junko Mizuno é dona de um traço que parece o tempo todo com design de flyer de rave. As cores que ela aplica - tons cítricos, chocantes e suas retículas - também ajudam nessa impressão. O resultado é quase igual a uma xícara de café forte: uma história que você engole em minutos e te deixa ligadão.

Sente só que trama maluca: Cinderalla era uma feliz garçonete até que o pai, cozinheiro de uns bolinhos campeões, morre. Desesperada, ela não sabe o que fazer, já que cozinha mal. Mas a ajuda chega do lugar mais maluco possível: o cemitério. É que a moça descobre que o pai virou zumbi (e voador). Contente com a chance de voltar ao restaurante, o velho carrega junto toda a nova família defunta: madrasta e duas irmãs megeras. Não demora para que surja um morto-vivo que também é príncipe-astro-de-rock para encantar Cinderalla. E tome fadas madrinhas alcoólatras, peitos de fora, olhos rolando escadaria abaixo e outras pirações.

Pra quem quer fugir dos mangás fofinhos, fantásticos ou de samurais, uma ótima pedida.

(Cinderalla) De Junko Mizuno. Conrad Editora. Formatinho. 125 páginas. Preço: R$ 29,50.

Estranhos no Paraíso: Inimigos mortais
Marcelo Forlani

Estranhos no Paraíso deve ser a HQ norte-americana independente com o maior número de fãs no Brasil. Só assim para entender porque este título - que teve sua primeira minissérie publicada pela Editora Abril em 1998 - chega agora à sua quarta editora diferente (se eu não perdi as contas).

EnP, como é chamada pelos fiéis leitores, é realmente diferenciada. Ela une humor, romance, drama, suspense, amizade e muita humanidade. Parece uma daquelas séries que você acompanha por anos na TV, mas na verdade é melhor. É melhor porque Terry Moore não se restringe a usar apenas quadrinhos na sua história. Ao virar as páginas é possível dar de cara com poesias, músicas, narrativas, além - é claro - de lindíssimos desenhos.

Inimigos mortais é o sexto volume da série escrita, desenhada e diagramada por Terry Moore, e todo este suposto fã-clube se justifica. Este encadernado publicado com muito cuidado pela HQ Maniacs vem para fechar um excelente arco de histórias que envolve prostituição, aliciamento de menores, assassinatos, conspirações de altíssimo escalão e tudo mais de sórdido que você conseguir imaginar - sem jamais apelar para violência gratuita.

Se você está chegando agora ao universo de Enp, a orelha do livro faz um bom resumo da história até aqui. Mas o certo mesmo é correr atrás dos volumes anteriores e acompanhar com seus próprios olhos todas as aventuras de Katchoo, Francine e David. Depois que você começar vai entender porque sempre tem alguém querendo publicar essas histórias por aqui.

(Strangers in Paradise: Immortal Enemies) De Terry Moore. Editora HQ Maniacs. Formato 16,5 x 24 cm, 148 páginas. Preço: R$ 27,90.

Vingadores: Anual
Marcus Vinícius de Medeiros

Histórias modernas que se propõem a revisitar períodos clássicos da trajetória de super-heróis consagrados já se tornaram comuns no mercado de quadrinhos. Como exemplos, podem ser mencionados os projetos da dupla Jeph Loeb e Tim Sale, como Homem Aranha:Azul e Demolidor: Amarelo, e as minisséries Ano Um com os heróis DC. A intenção se repete aqui com a primeira edição anual dos Vingadores no Brasil - Os heróis mais poderosos da Terra. O resultado é bastante satisfatório.

O texto enxuto de Joe Casey aborda a formação original dos Vingadores, seus primeiros confrontos e choques de personalidades, o ressurgimento do Capitão América e, finalmente, a despedida dos membros originais, que dão lugar a uma nova equipe. Como pontos fortes, estão as caracterizações bem cuidadas e o tom contemporâneo dado à história. Desde o início, percebe-se o quanto é difícil o trabalho em equipe envolvendo um deus nórdico e gênios da ciência com visões de mundo tão diferentes. Questões como a credibilidade de uma equipe de seres superpoderosos junto à população e seu relacionamento com o Conselho de Segurança Nacional também são abordados, de forma direta e pertinente.

Casey e o desenhista de personalidade forte Scott Kolins têm o mérito de apresentar o passado dos Vingadores de forma palatável e atraente não só para os fãs, mas também para novos leitores. A história não pretende apenas glorificar os heróis, tampouco mostrar um seu lado sombrio e mundano gratuitamente. Consegue, efetivamente, mostrar por que os Vingadores são o maior supergrupo do Universo Marvel e como o lado humano dos personagens contribui para isso. Kolins apresenta ilustrações poderosas, com destaque para os diversos closes no rosto de personagens refletidos na máscara do Homem de Ferro.

Todos os personagens têm seus momentos na história, que é estruturada de forma primorosa. Ela, afinal, não trata de confrontos com supervilões, mas da própria evolução da equipe e dos dramas pessoais de seus membros. Tony Stark (Homem de Ferro) é a força motriz que no funcionamento do grupo. O Capitão América recebe um tratamento digno, representando ao mesmo tempo a esperança e o idealismo de tempos perdidos como o tormento pelas perdas sofridas na guerra. Finalmente, o Gavião Arqueiro muda a face do jogo por seu passado duvidoso. Enfim, um quadrinho de super-herói convencional, mas inteligente e sem apelações.

(Avengers: Earth’s Mightiest Heroes 1-8) De Joe Casey e Scott Kolins. Panini Comics. Formato americano. 196 páginas.

DC Especial 10 - Eu não acredito que não é a Liga da Justiça
Marcus Vinícius de Medeiros

Após o crossover Lendas, no final da década de 1980, a DC Comics investiu num projeto de reformulação de sua principal superequipe, a Liga da Justiça, mas encontrou um grave problema. Os grandes ícones da editora, que compõem o cerne do grupo, já estavam sendo reformulados e não puderam participar por questões editoriais. Então, restou à dupla de roteiristas - Keith Giffen e J.M. DeMatteis - trabalhar com heróis menos conhecidos. A solução encontrada para o desafio foi empregar o humor escrachado nas histórias. Décadas depois, a Liga voltou a contar com os super-heróis mais consagrados do Universo DC, e os roteiristas da fase cômica retornaram num projeto paralelo de revival da época mais divertida dos quadrinhos.

O arco de histórias reunido em DC Especial 10 dá continuidade à minissérie Já Fomos a Liga da Justiça, e apresenta seus mesmos pontos fortes e fracos. Em primeiro lugar, deve-se encarar a realidade a admitir que a piada já havia perdido muito de seu fôlego após os primeiros anos da Liga da Justiça Internacional. Sendo assim, o fato dos roteiristas apostarem no mesmo estilo de texto agrada, sobretudo, pelo valor nostálgico. Em termos de temática, estrutura narrativa e diálogos, a saga apenas repete o que foi feito nos últimos anos da LJI, quando a fórmula já se desgastara. Por outro lado, é interessante rever os personagens que tanto cativaram o público, como Besouro Azul, Gladiador Dourado, Homem-Elástico, Guy Gardner e Fogo, anos após a dissolução de sua equipe, e descobrir como estão eles agora. Funciona mais ou menos como uma revista de fofoca que revela celebridades esquecidas.

Embora a história seja um pouco arrastada, devido à quantidade excessiva de capítulos, a premissa é original. Os ex-integrantes da Liga, hoje os Superamiguinhos, são um grupo de apoio a pessoas em necessidade de apoio super-heróico. Pura desculpa para reunir a velha turma. Na trama, o Gladiador Dourado, através de um artefato místico, transporta a si e a seus companheiros para o inferno - ou, possivelmente, uma dimensão que corresponda a suas expectativas sobre o inferno. O grande acréscimo é a presença da heroína Mary Marvel, cuja inocência nunca deixa de encantar e funciona perfeita em contra-ponto ao estilo "cafajeste" de seus companheiros. Outra grande sacada é a aparição da saudosa Gelo, morta num crossover esquecível, que propicia um drama comovente. E os fãs devem se deliciar também com um certo ex-Lanterna Verde canino, que marca presença de forma inusitada. O desenhista da série original, Kevin Maguire, continua dando um show nas expressões faciais.

Mesmo que o texto de Giffen e DeMatteis já não tenha a força de anos passados, o especial é digno de ser conferido pelos fãs da versão mais improvável que já existiu da Liga da Justiça. Com os recentes desdobramentos ocorridos nos eventos Crise de Identidade e Contagem Regressiva para Crise infinita, fica clara a intenção da editora de investir cada vez mais numa direção sombria e violenta para seus personagens. Infelizmente, os heróis da LJI foram o alvo preferido de Dan Didio. "Não Acredito que não é a Liga da Justiça" pode ser a última celebração de uma época mais simples e divertida, na qual transformar heróis em assassinos não era sinônimo de torná-los mais humanos.

(JLA Classified 4 a 9) De: Keith Giffen, J.M. DeMatteis e Kevin Maguire. Panini Comics. Formato americano. 148 páginas. Preço: R$ 14,90.

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