Aqui Dentro
Nesta edição: Pixel Media Magazine, Batman Extra, Astro Boy, Literatura em HQs e A Serpente Vermelha
Na coluna irmã da LÁ FORA, o Omelete mergulha nas bancas e livrarias para comentar os principais lançamentos recentes. Nesta edição: Pixel Media Magazine, Pixel Media Preview, Batman Extra, Astro Boy, O Cortiço, Memórias de um sargento de milícias e A Serpente Vermelha.
Pixel Media Magazine 1
Érico Borgo
Depois de meio ano de expectativa e suspense, chega às bancas a primeira revista mensal da editora Pixel Media. A publicação, intitulada Pixel Media Magazine, reunirá o filé das linhas Vertigo, ABC e Wildstorm. A empresa tem como difícil missão pelos próximos cinco anos (esperamos que mais) organizar a verdadeira lambança de títulos e editoras pelas quais as três linhas passaram no Brasil. É um enorme desafio para os editores, mas as primeiras edições mostram que muitos neurônios foram empregados para desatar esse nó. São editoriais, recordatórios e artigos dedicados a situar o leitor e cimentar uma fundação firme a partir da qual será possível levantar os selos por aqui.
Em abril foram lançadas duas revistas, a Preview, comentando o que vem por aí e servindo de aquecimento para algumas séries, e a Magazine regular. A primeira traz uma história que recapitula eventos da ótima 100 Balas e serve como ponto de partida para novos leitores (particularmente, não acredito que leitor algum devesse começar a série desse ponto, já que ela fica complicadíssima e as primeiras edições são sensacionais). Completa a edição um checklist dos próximos lançamentos da nova linha da Pixel: Authority - Terra Infernal, Ex-Machina - Rótulos, WildC.A.T.S. - De volta para casa, WildC.A.T.S. - Círculo vicioso, Preacher - Rumo ao Sul, Preacher Especial 1, Astro City - Guia do Visitante + Especial Samaritano, A Saga do Monstro do Pântano de Alan Moore, Monstro do Pântano - Amor em vão e Fábulas - O Último Castelo e 1001 Noites.
A outra revista é mesmo a imperdível. Traz histórias de Constantine, Planetary, Freqüência Global e Authority, todas pelo milagroso (o cara escreve como poucos e numa quantidade insana) Warren Ellis, além de uma historinha de Alan Moore e sua namorada Melinda Gebbie.
As três histórias de Ellis foram muito bem selecionadas, especialmente a de Freqüência Global. Como leitor novato da série (o dia em que eu abrir pra ler algo da criminosa Pandora Books, extinta editora que publicava a série no Brasil, vocês podem me internar) achei ótima a seleção da aventura e a explicação prévia. Uma trama perturbadora e lindamente ilustrada por Lee Bermejo. Igualmente bacana é a história "O Berço", de Hellblazer, com traços sensacionais de Tim Bradstreet (o cara que definiu o visual atual do Justiceiro). Que saudade de John Constantine! Um pouco menos interessante, ao menos para os leitores veteranos da série, é a história de Authority. Também uma recapitulação de álbuns recentes lançados pela Devir, ela mostra Jack Hawksmoor num momento de descontração, viajando pelo planeta. Na seqüência, outra paulada: Planetary, uma das histórias em quadrinhos de aventura mais legais já produzidas, volta com uma história solo de Elijah Snow, em que ele encontra o homem que o ensinou a ser um detetive. A edição fecha com uma decepção, uma história curta de Cobwebb, extraída de Tomorrow Stories, um dos piores títulos da linha America´s Best Comics, de Alan Moore. A linha do barbudo, ligada à Wildstorm, reuniu ótimos títulos, mas algumas bobagens sem igual. Essa é não é das piores, mas editorialmente, pelo tema erótico-lisérgico-político-setentista, teria muito mais sentido dentro de uma revista Playboy, Rolling Stone ou Piauí. Não numa revista como a Pixel Media Magazine. Fica a impressão que ela entrou apenas para justificar o nome de Moore na capa e/ou aproveitar o barulho que a série dele com Gebbie, Lost Girls, fará em breve por aqui quando for publicada pela Devir.
Outro problema da edição é a capa. A arte não reflete o excelente conteúdo e o limpo e agradável design interior. Ok, vender o peixe é necessário, mas a arte ficou em segundo plano, apagada pelas chamadas e logos. Confesso que fiquei com uma má impressão antes de abri-la. Mas felizmente, logo de cara uma ótima introdução do diretor editorial André Forastieri acabou com esse gosto ruim e abriu as portas para um lançamento excelente, digno de toda a expectativa que o envolveu.
Pixel Media Magazine 1, Editora Pixel Media, 100 páginas, formato americano, 9,90 reais.
Batman Extra 1
Érico Borgo
Ah, que ótima idéia esse novo título do Homem-Morcego! Como é bom ler uma aventura que tem aquele clima clássico do super-herói, com uma diversão simples e sem a necessidade de ler um sem-fim de edições relacionadas incompreensíveis. Só a ausência do selo "Ligação com Crise Infinita" na capa já vale a compra!
A revista, que trará apenas histórias fechadas (mesmo que divididas em algumas edições, como é o caso aqui), começa com a razoável minissérie Batman e os Homens-Monstro, do competente Matt Wagner, que assina roteiro e arte. Nela, o Cavaleiro das Trevas investiga ataques de estranhas criaturas e tem seu primeiro encontro com o vilão Hugo Strange.
O melhor aspecto de uma revista como essa é poder comprá-la mensalmente, sem medo de ficar preso meses - ou mesmo anos - numa fase ruim do personagem, graças a um criador incompetente e a compulsão de seguir adquirindo o título para a coleção. Aqui, mesmo que uma revista traga uma história ruim, ela não vai durar mais que um ou dois meses, logo abrindo espaço para outra equipe. O Morcegão merece - e quem se arrepia só de pensar em mega-sagas pretensiosas e mal-ajambradas, também!
Batman Extra 1, Editora Panini Comics, 76 páginas, formato americano, 5,90 reais.
Astro Boy 1 de 3
Érico Borgo
Não é só o cinema que apela aos remakes pra ressuscitar fraquias e sucessos do passado. Os mangás também. Astro Boy, uma das mais famosas criações do "Deus dos Mangás" Osamu Tezuka (1928 - 1989), foi ressuscitado nos quadrinhos e sai agora no Brasil pela Panini Comics. A nova versão do simpático robozinho é baseada no desenho animado mais recente do personagem e tem adaptação e traços de Akira Himekawa, que faz um trabalho artístico à altura do mestre.
As aventuras, porém, começam um pouco truncadas, confusas, mas conforme se desvinculam da origem e partem para a ação e diversão ficam bem mais interessantes, especialmente quando surge a irmãzinha de Astro, a pequena e superpoderosa Uran.
Editora Panini Comics. Formato 13,7 x 20 cm, 192 páginas (PB, formato oriental), 9,90 reais.
Literatura Brasileira em Quadrinhos: O Cortiço e Memórias de Um Sargento de Milícias
Érico Assis
Literatura brasileira é um porre no colégio - como é um porre qualquer coisa que você lê só por obrigação. Mas se você tem que saber do que se trata algum importante romance da língua portuguesa e quer livrar seus olhos das letrinhas pequenas, pode recorrer à coleção Literatura Brasileira em Quadrinhos, da Editora Escala, que já tem mais de 10 adaptações lançadas em banca.
Não é a salvação, porém. Nos últimos dois volumes lançados pela coleção - O Cortiço, baseado em Aluísio de Azevedo (adaptado por Ronaldo Antonelli e Francisco S. Vilachã), e Memórias de um Sargento de Milícias, baseado em Manuel Antônio de Almeida (adaptado por Indigo e Bira Dantas) -, as adaptações consistem em transportar trechos do texto original para recordatórios e balões, e contar a história com uma narrativa quadrinística bem convencional. Não dá pra dizer que os desenhos apenas ilustram os contos (pois fazem parte da narrativa), mas é quase isso.
O que falta é uma adaptação "de verdade". Quadrinhos contam histórias de uma forma, literatura de outra. Se você usar o ritmo literário em uma HQ, vai ter, no máximo, pouco mais que um romance ilustrado. É como se, na adaptação de um gibi para o cinema, a gente mantivesse a câmera fixa para respeitar o fato de os quadrinhos também só terem imagens paradas.
Tudo bem quanto a não modernizar a linguagem do texto, pois reproduz - no caso destas duas obras - a fala do Brasil no século XIX. Mas falta explorar a linguagem narrativa dos quadrinhos para tornar a HQ interessante e realmente envolver os leitores. Será que não é isso que falta para deixar o pessoal mais interessado pela literatura brasileira?
Editora Escala. Formato: 17x24cm. 68 páginas. R$ 12,90.
A Serpente Vermelha
Érico Assis
Se fosse para resumir o trabalho de Hideshi Hino em uma palavra, esta seria "doentio".
A Serpente Vermelha acompanha um garoto japonês que vive com sua bizarra família numa casa afastada de tudo, no meio da floresta. Seu avô insano tem pústulas no rosto do tamanho de um pé. Seu pai coleciona lacraias e lagartas, além de conversar com cabeças de galinhas mortas. Os bichos nojentos da coleção servem de comida para a avó, que acha que é uma galinha, e de diversão para a irmã, que busca prazer ao deixá-los andarem pelo seu corpo.
As coisas pioram quando a casa recebe um novo hóspede: uma imensa cobra vermelha. É com a chegada dela que tudo começa a sair do controle, lançando o garotinho de olhos esbugalhados em um mundo pior do que o inferno.
O mérito de Hino é o dos bons criadores de histórias de terror: faz você pensar se uma mente que imaginou isto não tem realmente algum distúrbio sociopata. Serpente Vermelha deixa uma sensação de nojo, de impotência, de legítimo terror, agravada pelos desenhos quase infantis, sem grande requinte realista. É, enfim, doentio.
Para quem quer sentir uma boa dose de terror, a Zarabatana Books promete lançar outras duas obras de Hideshi Hino: O Garoto Verme e Oninbo e os Vermes do Inferno. O autor já teve outro álbum, Panorama do Inferno, lançado no Brasil pela Conrad.
Zarabatana Books. Formato: 14x21cm. 192 páginas. R$ 20,00.