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A vitória da Nona Arte

A vitória da Nona Arte

JA
16.02.2001, às 00H00.
Atualizada em 15.12.2017, ÀS 21H00

Normalmente, quando encontro um novo quadrinho nacional nas bancas dou olhada cheia de receio. Na verdade, na maioria dos casos, desde a capa já consigo formular o bom e velho: "Lá vem bomba!".

Na maioria das vezes, é exatamente isso que acontece. Geralmente o que vemos de quadrinhos “brazucas” não passam de arremedos mal feitos de similares estrangeiros; quando não plágios descarados. Não faltaram exemplos ruins nos últimos anos, principalmente após o advento da Art & Comics e da Fábrica de Quadrinhos que criaram o sonho de ganhar milhões desenhando heróis para a Marvel, DC ou qualquer outra dessas megaeditoras que devoram há anos o cérebro e o mercado de quadrinhos nacionais.

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Nada contra super-heróis. Eu cresci lendo isso. Nada contra quem desenha “pra fora”. Afinal, você pode continuar lendo seu Incrível Hulk sem dor na consciência e se divertir com isso. Basta não achá-lo o supra-sumo das artes e ponto final. E quem tem talento pra coisa tem mais é que buscar o seu mercado onde ele existe. Ou seja, não há mal nenhum em se ganhar dinheiro com o que se faz e se aprecia. O problema é a bitolação.

Se nos anos 80 vimos o "boom" das graphic-novels, dos experimentalismos temáticos, seqüenciais, de técnicas de ilustração, etc., etc., etc., na década seguinte, tivemos a chegada do colorido por computador e dos pavorosos quadrinhos “a la Image Comics”. Tudo se pasteurizou, tudo se copiou e se nivelou por baixo. Praticamente o que se ganhou na década anterior escorreu ralo abaixo nas mãos de uma geração de ilustradores mais preocupados com royalites do que com os gibis em si. Isso lá fora, nos grandes centros produtores de HQs. E essas mudanças aqui se sentiram como um golpe de marreta. Afinal, somos uma colônia obediente...

De uma hora para outra, começaram a pipocar personagens que mais pareciam “refugo-do-elenco-de-apoio-de-X-Men”. Um mais parecido com o outro. Todos bitolados e estereotipados. Personagens americanizadas e com nome em inglês ocupavam o pouco espaço das bancas. Infelizmente isso ainda não acabou. Mas há alguns bons motivos para termos esperança.

Recentemente tive o prazer de ler os dois lançamentos da Editora Nona Arte: Fawcett e Subversivos. Apesar do nome grandiloqüente, a proposta da editora é bem pé no chão. Tiragem pequena (cerca de 2.000 exemplares) e distribuição em pontos chave (Comic Shops e livrarias) para atingir um público mais exigente; aquele que sabe a diferença entre o Batman de Miller e Mazzuchelli do de Todd MacFarlane... ou seja, realmente não é o mesmo pessoal que compraria Heróis Premium.

Ambas as HQs têm roteiro do competente André Diniz, que consegue de maneira simples e despretensiosa prender a atenção do leitor ao mesmo tempo em que narra uma boa história. Suas tramas não possuem nenhum dos apelos mercadológicos como os citados acima. Pelo contrário, são até bem “anticomerciais”; a começar pelo fato que são quadrinhos em P/B. Isso é algo incompreensível para os cérebros derretidos pelos encantos do Photoshop. De formato próximo ao americano, impressas em papel de qualidade, elas valem cada centavo dos R$ 5,90 que custam.

Subversivos, apesar de ser uma história fechada, não deixa de ser continuação de um especial de mesmo nome lançado - e também desenhado - por Diniz em 1999. Isso, no entanto, não prejudica a compreensão da aventura, que, desta vez, é ilustrada pelo veterano Laudo.

Nos anos da ditadura militar, conhecemos Helena, que faz parte de um dos muitos pequenos exércitos armados que lutavam contra o regime militar. A história gira em torno de seu dia-a-dia de revolucionária e seu relacionamento com o inexperiente “Companheiro Germano”, que dá o titulo da história. Como já disse antes, tudo está presente de maneira simples e despretensiosa, desde às referências à moda e fatos históricos; de forma a somar e não se sobressair à trama principal .

Pessoalmente, nunca fui fã do trabalho do Laudo. Conhecia várias de suas HQs eróticas e as que ele fez com o Zé do Caixão. Nada que eu apreciasse. Mas aqui ele está realmente solto. Com um traço mais caricato e dinâmico. Sem sombra de dúvida, não é o mesmo Laudo. E que continue assim. Se nem todos os momentos de seu desenho são inspirados, há pelo menos um punhado de cenas que mostram o quanto ele pode ser versátil; a começar pela arte da capa. Se tudo der certo, brevemente; Subversivos deve ganhar uma continuação. Torço que sim.

A outra deliciosa surpresa foi Fawcett, mais um trabalho do veteraníssimo mestre Flávio Colin; talvez um dos mais injustiçados e talentosos quadrinhistas de todos os tempos. Dono de um estilo único no mundo, Colin tem um traço que lembra a xilogravura. No entanto, se gravura não é algo muito vendável, o mesmo pode ser dito do quadrinho do velho Colin. Uma lástima. Enquanto enchemos os cofres de quem publica heróis mascarados, esquecemos dos artistas de real talento como ele. Dono de uma produção prolífica e voltada ao universo nacional, em especial ao folclore brasileiro, Colin empresta seu talento à mirabolante saga de Fawcett, que, por mais espetacular que seja , é baseada em fatos reais.

O coronel do Exército Britânico, Percy Harrison Fawcett, tornou-se uma lenda ao desaparecer em plena região do Xingu, buscando uma misteriosa cidade perdida habitada por homens brancos, provavelmente descendentes da Atlântida. O nome desta localidade é Muribeca ou, como se tornou mais famosa, Eldorado. São muitas as estranhas versões do que teria ocorrido ao coronel e ao seu filho em 1925, quando não retornaram de sua última missão. Por sinal, foi profetizado que seu filho, Jack, seria o pai de uma nova raça. Além disso, Fawcett andava com uma estranha estatueta que dava choques em todos que a tocassem exceto nele. Curiosamente a imagem lhe foi presenteada por H. Rider Haggard , o autor de As Minas do Rei Salomão. Dizem ter sido ele a inspiração do aventureiro Indiana Jones. Falar mais do que isso é estragar a surpresa. Diniz acerta a bola outra vez e conta uma boa história misturando os relatos reais com fantasia.

Não à toa que, no último prêmio Ângelo Agostini, realizado no dia 10 de fevereiro, Diniz tenha recebido o merecido prêmio de melhor roteirista de 2000 e o veterano Flávio Colin, a mais que justa homenagem, como melhor desenhista do ano passado. Um reconhecimento mais que acertado a esse inicio tão feliz da editora Nona Arte.

De resto, agora só nos resta torcer para que esta iniciativa vingue e que seja apenas a primeira de muitas boas notícias nas nossas bancas. Mas não esqueça: Compre! Vale mesmo a pena. E as Heróis Premium que se danem.

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