A diversão na Era Hiboriana
A diversão na Era Hiboriana
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Oswaldo Magalhães é webmaster do site Crônicas da Ciméria
Na fictícia Era Hiboriana criada por Robert E. Howard, um período mítico decorrido há doze mil anos, já eram conhecidas muitas maneiras de se divertir, seja por meio de jogos, de esportes, de bebidas ou de mulheres em tavernas.
Das sangrentas arenas dos gladiadores aos jogos de azar, a diversão estava sempre presente, tanto em vésperas de batalhas quanto entre goles embriagados de vinho.
Conan, o imenso bárbaro cimério, era um excelente jogador e, ao contrário de seus taciturnos irmãos do norte, sabia muito bem como se divertir, beber e dar boas gargalhadas.
ESPORTES SANGRENTOS
Nas nações, onde a soberania ou o governo era dito para o povo, eram comuns as arenas públicas onde alguns homens se digladiavam num esporte bastante violento. Conhecidos como gladiadores, enfrentavam-se uns aos outros, matando ou morrendo e raramente conhecendo a glória. Por vezes, disputavam a vitória até mesmo contra feras, para diversão das multidões ávidas de sangue.
Os gladiadores empregavam diversas armas, como espadas, tridentes e redes. Na maioria das vezes, eram recrutados entre os prisioneiros de guerra, escravos e criminosos, mas homens livres também se apresentavam como voluntários. Acreditava-se que as lutas eram forjadas e as mortes, falsas. No entanto, muitas vezes, tudo era terrivelmente real, dependendo, é claro, das condições econômicas do patrocinador, uma vez que um gladiador morto custava muito mais.
As arenas eram atrações especiais, a grande diversão das miseráveis turbas urbanas. O próprio Conan, por sinal, foi gladiador por incontáveis vezes em sua violenta carreira, em reinos como Nemédia e Aquilônia, principais expoentes desse esporte sangrento.
Muitos povos tinham seus próprios esportes cruéis e, com raras exceções, a maioria fazia parte de ritos de passagem ou desafios internos. Não obstante, por trás de todos eles, havia sempre a intenção da diversão, ou da distração.
OS JOGOS DE AZAR
Naqueles dias, os jogos de azar já eram bastante difundidos. Os hiborianos, por sinal, eram grandes jogadores e conheciam quase todo tipo de atividade do gênero, algumas mortais, outras não. Gostavam muito de apostar no arremesso de dados, de moedas ou em algum lutador que participasse de uma peleja.
Os piratas, os guerreiros, os reis, os magos e os cidadãos comuns, enfim, todos jogavam. Não se fazia distinção. Havia, logicamente, disputas mais refinados para os eruditos, como é o caso do Menet e do Zinat, ambos muito semelhantes ao jogo de damas atual, embora o segundo fosse mais apreciado pelos magos estígios. Outro - chamado Magos e guerreiros - tinha regras e peças que lembravam as do xadrez.
Até mesmo os bárbaros gostavam de jogar, embora de maneira mais rude e mortal. Os aesires arremessavam machados contra uma roda em movimento a fim de cortar as tranças de uma jovem atata a ela. Para tornar a disputa mais interessante, os participante faziam seu arremessos de olhos vendados. O perdedor, por conseqüência, pagava uma rodada de vinho para os demais.
No que diz respeito a jogos mortais, porém, os hirkanianos e os zuagires eram insuperáveis. Afinal, há algo mais mortal do que apanhar facas arremessadas no ar?
A PAIXÃO PELAS BEBIDAS
Nem só de jogos viviam os hiborianos. Havia também bebidas fortes, parceiras inseparáveis das disputas de azar. E não se tratava de um privilégio de civilizados. Bárbaros eram grandes apreciadores dos fluidos etílicos. Sorviam tudo que pudesse criar euforia. Conan, por exemplo, foi um dos maiores beberrões de sua época e não raro tornava pública sua paixão pelo vinho.
O vinho, via de regra fruto da fermentação do suco de uva, era a principal bebida dos hiborianos e dos povos do leste, assim como dos bárbaros, tanto do norte quanto do sul. Não só se derivava da uva, como também da banana e da maçã. As principais áreas vinícolas da Era Hiboriana encontravam-se em Shem - nas cidades de Ghazan e Kyros -, Aquilônia, Argos, Zíngara, Zamora e Vendhya.
Havia vinhos de todos os tipos: os tintos numaliano e iânthico, o rosé akkariano e o preferido de todos, que era o branco de Kyros. Esses eram nobres e caros. O de Ghazan, porém, era o amigo de todas as horas dos bolsos menos precavidos.
A cerveja - bebida resultante da fermentação da cevada e de outros cereais - e a aguardente já eram consumidas naquela época. Na Stygia e em Zamora, produzia-se tanto cerveja quanto vinho de boa qualidade, assim como em Sultanapur, às margens do Mar Vilayet, que exportava tais etílicos para várias nações ocidentais.
Não obstante, o maior centro cervejeiro daquele período era Valdover, uma cidade encravada nas gélidas Montanhas Rabirianas. De lá, barris gelados desciam por afluentes, via Rio Trovão, e eram enviados para os mais longínquos pontos de distribuição.
AS MELHORES TAVERNAS
Quando mercenários e cidadãos não estavam guerreando ou exercendo algum ofício, era nas tavernas que se reuniam para beber e partilhar frivolidades. Havia muitas delas, umas famosas e outras singelas, seja por sua classe ou falta dela. Via de regra, eram enfumaçadas e emanavam o mal-cheiro de vinho azedado e de corpos suados.
Os clientes, na maioria vagabundos, sorviam grandes canecas de cerveja espumante, enquanto o vinho vermelho era engolido sem muito cuidado e derramado no chão. As mulheres eram parte efetiva das tavernas. Eram responsáveis por servir os clientes e muitas vezes supriam outras necessidades. Não havia alegria nas tavernas sem uma garota por perto. Eram atenciosas, desde que bem pagas, é claro.
Dos inúmeros estabelecimentos de lazer no tempo de Conan, podemos destacar alguns como a taverna Rã e Vela, um antro freqüentado apenas por ladrões e bandidos, em Tarântia, a capital aquiloniana. Em Kordava, a capital da Zíngara, a Nove Espadas era a preferida dos marinheiros. Já em Shadizar, na Zamora, a taverna Bazaar era a mais famosa, repleta de bardos, ladrões, mulheres e muitos planos iníquos. Em Zamboula, o local predileto era o Quarteirão de Bronze com sua clientela diversificada. Lá, a cerveja predominava, haja vista o calor sufocante do deserto. Em Arenjun, a cidade de ladrões de Zamora, a taverna Shadiz era uma das poucas onde não se podia entrar armado.
E era assim por toda parte e em todas as nações...
A MAIS ANTIGA PROFISSÃO
Outro assunto que não se pode furtar deste enredo diz respeito às prostitutas, mulheres fáceis que, em troca de algumas moedas, proporcionavam muita diversão e prazer aos homens daquela era. Jamais selecionavam seus fregueses. Nobres ou bandidos, ricos ou pobres, não fazia diferença. Alegres e boas de copo, conheciam as artimanhas dos jogos e estavam sempre presentes nas tavernas. Estavam em toda parte, nos portos e fortalezas piratas, nas grandes e pequenas cidades e em palácios e casebres, mas sempre, peremptoriamente, na cama de algum afoito e ansioso cliente.
APENAS UMA FICÇÃO...
Infelizmente, os aspectos aqui descritos não fazem parte da realidade, ou talvez façam, mas numa ordem diferente, separados pelas colunas do tempo. Foi a mente brilhante de Howard que deu vida e sabor a todos esses costumes que estavam submersos, ou que perderam muito de suas raízes ao longo dos séculos, em seus contos de espada e magia.
Vivenciamos, porém, diariamente - embora num outro contexto - esses aspectos do lazer e da diversão dos povos antigos. Temos exemplos de gladiadores nos atletas que participam de esportes como o futebol, ou como o boxe. Bebemos e apreciamos as mesmas bebidas, buscamos as mulheres da vida e freqüentamos os diversos bares dos dias atuais. Não seria, todavia, mais interessante fazer tudo isso como se fazia na esquecida Era Hiboriana? Sorver um bom vinho numa ruidosa taverna, iluminada apenas por algumas poucas velas, e com uma bela loira ophiriana no colo... apostar livremente em um campeão, assistindo a uma boa luta, sangrenta e mortal...
E, é claro, torcer para não ter que cruzar espadas com um certo cimério impaciente.




