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Artigo

Orphan Black retorna à quarta temporada com emblemática viagem ao passado

Série volta no tempo para esclarecer algumas coisas da trama

27.04.2016, às 15H00.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H43

Existem algumas fórmulas de teledramaturgia que são essencialmente adeptas do excesso de "recursos fantásticos". Séries de ficção científica, de super-heróis e também aquelas com uma base "novelesca", costumam ter um leque de possibilidades informais bem maior justamente porque a parte da ficção se apoia em diretrizes bastante manipuláveis. Eventos sobrenaturais, teorias científicas apócrifas ou parentes nunca mencionados que surgem do nada, podem salvar séries desses tipos sempre que os roteiristas precisam de uma ajudinha para levarem a história para onde precisam.

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Isso não quer dizer que todos os títulos aplicados nessas categorias sejam permissivos e Orphan Black é um dos bons exemplos. Depois de sofrer um pouco para ajustar sua mitologia no ano passado, a série voltou para sua quarta temporada com a faxina feita e a dramaturgia estabilizada. Em tramas de ficção científica pode-se ficar muito sedutor pensar em tudo numa grande escala ou problematizar excessivamente os plots. No seu terceiro ano, a série aprendeu que dar leveza e trivialidade aos roteiros ajuda o espectador a respirar entre uma pista e outra.

Talvez tenha sido pensando nisso que a história escolhida para esse retorno acabou vindo à tona. A decisão de contar um episódio inteiro em flashback geralmente vem acompanhada da sua "função muleta", que é quando esse tipo de recurso é usado para adiar o avanço de um clímax. Chega-se a um grande gancho e na semana seguinte, ao invés de resolvê-lo, um episódio em flashback ou centrado num personagem fora da trama central, é colocado estrategicamente no lugar. É o chamado filler, aquele que está no planejamento só para cumprir uma meta... É como uma faixa irrelevante de um álbum, que precisa ser feita para completar o número preciso.

Neo-filler

Colocado assim, logo no início da temporada, "The Collapse of Nature" está longe de poder ser chamado de filler. Essencialmente, não avançamos nada na história que interrompeu seu curso no finale passado. O episódio é transitório no seu clássico: revelar detalhes do passado que não necessariamente interferem no presente. Porém, o encaixe logo no episódio de estreia elegantizou a iniciativa e tirou o episódio do lugar comum. Apesar de servir como "detalhador" na maior parte do tempo, esse retorno preparou suas pontes com os eventos atuais de forma a garantir sua relevância no contexto.

Foi bastante surpreendente que logo na primeira cena - ao vermos Tatiana Maslany acordando - a pessoa ao seu lado tenha sido Paul, o namorado-monitor deBeth, lá da primeira temporada. Como o personagem já está morto, o flashback terminou de ser estabelecido quando descobrimos que tratava-se da própria Bethnaquele momento. Foi uma ideia engenhosa usar a estreia do quarto ano para explorar uma personagem que morreu nos primeiros minutos da primeira hora da série. "The Collapse of Nature" é uma grande viagem pelo interior da mulher que começou essa história para nós e para Sarah Manning, enquanto a terminava para si mesma.

É importante lembrar que naquele momento em que Beth organizava as informações que lhe chegavam a respeito dos clones, muita coisa ainda estava obscurecida. O roteiro do episódio toma cuidado com isso e foca tudo na referências que já tínhamos antes a respeito da neoevolução. Toda a abordagem da autotransformação, da escolha evolucional individual, são extremamente interessantes e trazem a história da série para âmbitos mais identificáveis e humanos. Há novos elementos inseridos para esclarecimentos futuros, mas o episódio não nos soterra com informações demais e tudo permanece fluído.

Retornar à rotina de Beth Childs, contudo, significava não só trazer Paul de volta, mas revisitar as dinâmicas entre os clones e colocar novamente a prova o trabalho de Maslany. Não tínhamos visto ainda como Beth se relacionava com as irmãs e ficou muito claro que a razão pela qual Sarah se envolveu mais intensamente com elas estava no indireto oportunismo de  Beth (ela precisava de uma para as drogas e da outra para a pesquisa). Ainda que a chegada de Sarahtenha sido em termos mais diretos, sem que houvesse tempo para que ela raciocinasse o papel de cada um dos clones em sua vida, estar mais próxima das irmãs salvou-a muitas vezes e poderia ter salvado Childs.

Tatiana precisou pensar muito atentamente sobre como seria sua Beth, já que ela mesma teve muito pouco tempo para desenvolver essa personagem. Beth teria que se diferenciar das outras, mas não o bastante para tornar inverossímil que Sarah tenha se passado por ela. O problema com as drogas, o caso com Art, a relação fria com Paul, tudo isso compondo um quadro que já nos antecipa porque ela acabou tirando a própria vida naquela estação de trem. Tatiana tomou as decisões certas - para variar - carregando Beth de um semblante cansado e deprimido. Um contraste com a expressão tensa de M.K., a nova aquisição clônica da temporada.  A chegada de M.K. - outra das irmãs que está muito ligada ao caso científico - deixa ainda mais evidente a necessidade de termos Krystal de volta à série. A manicure que fez somente uma pequena participação no ano passado é emocional e leiga nos assuntos biológicos, o que seria ótimo para o equilíbrio das tramas triviais, que acabam sempre caindo apenas nos ombros de Allison. 

Não está claro se teremos outros flashbacks, já que uma cena final igual a do teaser de abertura, mostra que Sarah está escondida com a filha e que logo precisará voltar a fugir. A aposta fica por conta do quanto os criadores serão capazes de continuar contando essa história sem saídas fáceis e com viradas científicas que respeitem as próprias diretrizes. Orphan Black ainda é um dos títulos mais poderosos do gênero e tem todo potencial para manter seu prestígio perante os fãs.

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