Cena de O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder (Reprodução)

Créditos da imagem: Cena de O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder (Reprodução)

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Os Anéis de Poder faz poesia precisa com 5º episódio sobre ganância e legado

Em mais um grande capítulo, série do Prime Video mostra estar no topo do seu jogo

Omelete
3 min de leitura
12.09.2024, às 04H00.

ATENÇÃO: Spoilers de O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder a seguir!

Fãs de O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder que estão mais envolvidos na trama de Nori (Markella Kavenagh) e na busca por identidade do Estranho (Daniel Weyman) terão que esperar pelo menos mais uma semana pela continuação das aventuras dos dois. O quinto capítulo da segunda temporada, exibido hoje (12), deixa esta trama - junto com a de Arondir (Ismael Cruz Cordova) e cia. vivendo às sombras da nova Mordor - em suspensão para se concentrar em cantos da Terra Média que permitem refletir sobre os temas que mais interessam ao roteiro assinado por Nicholas Adams: ganância, egoísmo e legado.

Diante da multiplicação dos Anéis de Poder, maiores ferramentas de Sauron (Charlie Vickers) para estender seus tentáculos sombrios pela Terra Média, a série vendeu este seu segundo ano, desde o começo, como uma perversão trágica da utopia pastoral que define o universo de J.R.R. Tolkien em seus tempos de paz. Mas não são só os anéis que fraturam tal ideal, postula este novo episódio, mas as perturbações que já existem dentro do coração de homens, anões, elfos e quaisquer outras raças fantasiosas rascunhadas pelo pulso de um contador de histórias humano.

Econômico - ou, pelo menos, o que se passa por econômico em uma série como Os Anéis de Poder - com seus 58 minutos de duração (incluindo créditos), o capítulo pincela a corrupção do rei Durin III (Peter Mullan) pelos Anéis de Poder dos anões; e reencontra a manipulação de Celebrimbor (Charles Edwards) por parte do Lorde das Trevas, ainda disfarçado de Annatar, e agora obstinado a criar os nove Anéis para os reis homens. A maior parte do seu tempo, no entanto, é passada do outro lado do oceano, em Númenor, onde a ascensão de Pharazôn (Trystan Gravelle) ao trono é sucedida pelas medidas que governos autoritários normalmente tomam: a perseguição, prisão e sufocamento dos opositores.

Os Anéis de Poder traça esse processo através da fidelidade de Elendil (Lloyd Owen) à rainha aprisionada Míriel (Cynthia Addai-Robinson), entrincheirada no conflito cultural e religioso entre os númenorianos que se apegam às tradições do passado - e, de certa forma, mantém a ideia de uma conexão simbiótica da ilha com a Terra Média e suas outras raças - e aqueles que enxergam uma relação mais adversária entre Númenor e os “povos do continente”, acreditando que uma ascensão solitária não só é possível, como necessária. É um isolacionismo, um revanchismo, um ressentimento que, como qualquer outra reação violenta, vem do medo. Medo da morte, medo da irrelevância, medo do luto.

Antes retratado como um político pragmático, ainda que escorregadio, o novo rei Pharazôn mostra sua verdadeira face quando diz ao filho, Kemen (Leon Wadham), que conseguir um vislumbre dos portões de Valinor (a terra élfica da vida eterna) no pico mais alto da ilha de Númenor lhe faz pensar que os elfos estão lhe provocando. Não importa quão longe a humanidade vá, diz Pharazôn, algo sempre estará fora do alcance - mas por que tudo precisa estar ao nosso alcance, afinal? A ideia de que tudo precisa estar, a incapacidade de aceitar o que não está, a insistência de se colocar em uma situação impossível, faz com que retaliemos violentamente com quem nos aponta essa impossibilidade.

A sede insaciável de ouro dos anões, a relutância desesperada dos elfos em aceitarem que estão sendo enganados, a aspiração eterna do homem pela imortalidade, via poder e legado. Os Anéis de Poder junta essa trinca mortífera em um episódio que faz poesia precisa sobre alguns dos temas que mais atribulavam Tolkien, um homem que atravessou as guerras do século XX e criou histórias sobre o que nos levavam a guerrear.

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