O fim de Yellowstone deixou órfãos os fãs de uma boa história norte-americana de caubóis. A saga da família Dutton resgatou o charme dos filmes western que tanto fizeram sucesso entre os anos 1940 e 1950 em Hollywood com um toque atual, onde conflitos armados e ótimos personagens montados em cavalos ganham destaque. Sem a série queridinha do momento, uma nova produção feita para streaming surgiu para aliviar a parcela do público que sentia falta deste tipo de narrativa: Terra Indomável, minissérie de seis episódios da Netflix que já está disponível no catálogo da plataforma.
Diferente de Yellowstone, cuja trama se passava nos dias atuais e abordava conflitos políticos modernos envolvendo cifras bilionárias, Terra Indomável nos leva de volta aos tempos sombrios do Velho-Oeste norte-americano. Em 1851, os Estados Unidos ainda eram um país movido pela escravidão e pela conquista de novos territórios. A busca pela chamada "terra prometida" levava americanos e imigrantes a se desbravar pelo oeste do território à procura de uma vida melhor, e a região ficou marcada por inúmeros conflitos que deixavam um rastro de sangue por todos os estados.
Na trama, Betty Gilpin interpreta Sara Rowel, uma mulher que busca um guia para ajudar ela e seu filho, Devin (Preston Mota), a atravessar a perigosa região de Utah, palco de uma disputa territorial pelo governo norte-americano, comunidades mórmons, saqueadores e tribos indígenas que foram expulsas de suas terras. Sem conseguir apoio, ela se une à caravana do mórmon Jacob Pratt (Dane DeHaan), mas se vê obrigada a fugir com Devin quando bandidos mascarados atacam e massacram seu grupo.
Betty e Devin são salvos por Isaac (Taylor Kitsch), um caubói errante com um grande senso se justiça que, apesar de inicialmente negar seu o guia da dupla, decide ajudá-los a atravessar a região para chegar à Califórnia. Além de precisar fugir das intrigas territorias e do olho apurado de bandidos, Betty tem em seu encalço caçadores de recompensas que sabem que sua fuga para o oeste não se deve apenas à busca por uma vida melhor.
Para quem gosta de filmes de sobrevivência em terras quase inóspitas, Terra Indomável bebe muito de O Regresso, filme de 2015 dirigido por Alejandro G. Iñárritu, e a semelhança não é mera coincidência. A produção foi criada por Mark L. Smith, o mesmo roteirista responsável por trás do longa. A jornada de Betty e Isaac, assim como a de Hugh Glass (Leonardo DiCaprio) no longa, é marcada pelo perigo incessante do homem e, principalmente, da natureza. O estado de Utah tem um dos invernos mais severos do país, e fazer esta viagem no século XIX muitas vezes significava a morte certa. Acompanhar o percurso do grupo cria um incômodo quase sufocante, mas propício para tempos onde parecia impossível cobrar humanidade de quem se arriscava por esses caminhos.
Ter cicência dessa falta de humanidade é peça-chave para compreender Terra Indomável. Smith busca imprimir um senso quase primitivo de seus personagens a fim de encaixá-los em um dos períodos mais sanguinários da história dos Estados Unidos. Não há espaço para o homem civilizado nesta região, onde até mesmo os mórmons, marcados pelo fanatismo religioso, se entregaram à luta armada para não ceder às forças inimigas.
Os mórmons, inclusive, são os protagonistas de uma segunda história contada na minissérie. Paralelo à jornada de Betty, acompanhamos os eventos que ficaram conhecidos na história como a Guerra Mórmon, onde uma milícia liderada pelo então governador do Utah Brigham Young (Kim Coates), um pregador religioso cujo maior objetivo era dominar as terras para seus seguidores. Responsáveis pelo massacre que destruiu a caravana de Betty, eles buscam eliminar todos os sobreviventes do ataque para que o exército dos EUA não inicie uma retaliação, mas o devoto e apaixonado Jacob coloca estes planos em risco ao decidir encarar a tal terra indomável para encontrar sua esposa desaparecida, Abish (Saura Lightfoot-Leon).
Se Yellowstone não deixou de fora a importância dos povos originários nas disputas territoriais do centro-oeste americano, Terra Indomável abraça o tema com ainda mais intensidade. Na guerra pela região de Utah, há tribos indígenas que lutam ao lado e contra as forças dos brancos invasores, e o texto de Smith não busca escolher lados. Neste mundo primitivo, todos os grupos lutam por sobrevivência sem o menor apelo afetivo, e as consequências físicas e psicológicas destes confrontos são incontáveis.
Terra Indomável tem seis episódios e está disponível completa na Netflix.