Missa da Meia-Noite é mais um drama de horror brilhante de Mike Flanagan

Créditos da imagem: Hamish Linklater em cena de Missa da Meia-Noite (Reprodução)

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Missa da Meia-Noite é mais um drama de horror brilhante de Mike Flanagan

Nova série traz mistura familiar, mas vai mais longe que obras anteriores do criador

24.09.2021, às 14H07.

Fãs de A Maldição da Residência Hill/Mansão Bly sabem bem o tipo de horror que Mike Flanagan faz, especificamente quando tem o espaço amplo de uma minissérie, em uma plataforma como a Netflix, notável pela liberdade criativa que dá a seus contratados. Por isso, Missa da Meia-Noite, de certa forma, não surpreende: este é, em muitos sentidos, mais um drama de horror meditativo e cheio de nuances (muito bem) urdido por Flanagan.

Assim como na antologia A Maldição, o cineasta mais brinca com conceitos do terror, com imagens recorrentes do cânone do gênero, do que realmente investe nele. Nos três primeiros episódios de Missa da Meia-Noite, ele conjura muitos momentos arrepiantes, e até uns poucos sustos genuínos (daqueles que estamos acostumados no horror mainstream), mas seu interesse está mais em criar uma ambientação incômoda, uma tensão entre o espectador e a narrativa, que serve ao arco emocional que ele está desenhando com os personagens.

Nosso protagonista aqui é Riley Flynn (Zach Gilford), que retorna para a minúscula ilha onde nasceu após passar uma temporada na prisão por atropelar uma mulher enquanto dirigia embriagado. Sua chegada coincide com a do padre Paul (Hamish Linklater), que substitui, em circunstâncias para lá de suspeitas, o monsenhor que comandava a paróquia local há décadas. Quando o novo sacerdote se mostra capaz de feitos aparentemente milagrosos, o delicado tecido social da ilha começa a se desfazer.

Flanagan, que dirige e escreve toda a minissérie, costura cuidadosamente uma história sobre crença e descrença, perdão e mágoa, conexões genuínas e sentimentos forjados, performados, artificiais. Missa da Meia-Noite traça o paralelo entre o teatro da celebração católica e o teatro da convivência em uma cidade pequena, e desenha uma linha clara entre aqueles que professam fé para se sentirem superiores e aqueles que a professam porque precisam se agarrar em alguma coisa para sobreviver.

Samantha Sloyan em Missa da Meia-Noite (Reprodução)

Nesse cenário, se há um “antagonista” na minissérie - pelo menos neste início - é a Bev Keane da ótima Samantha Sloan, retratada pelo roteiro como uma mulher astuta, cujo moralismo tacanho se esconde habilmente por trás de platitudes conviviais. Ela é um tipo familiar, tanto de outras obras de ficção que lidam com o tema da religião quanto da vida real, e Missa da Meia-Noite a aborda com medo (do poder que ela detém dentro da ilha, especialmente), mas também um bom humor afiado.

Sloan e Hamish Linklater, aliás, fazem uma dupla formidável em tela. Na pele do misterioso padre Paul, o ator de A Grande Aposta e Legion transforma a aura de sinceridade, de “homem comum”, que sempre envolveu suas performances, em arma indispensável para Missa da Meia-Noite funcionar. A série exige que invistamos em Paul como um homem que busca ajudar aqueles à sua volta, e Linklater - com a sua voz hesitante e seu exaspero existencial que fulgura por trás dos olhos - permite que façamos isso sem hesitação.

As reviravoltas da trama desses três primeiros capítulos não são exatamente surpreendentes. Para o espectador atento, de fato, elas são telegrafadas a quilômetros de distância, mas Flanagan e seus colaboradores se certificam de que a execução importe mais do que o resultado. Mais corajosamente explícita em sua construção visual de horror, e mais disposta a se apoiar no kitsch do que ambas as temporadas de A Maldição, esta é uma obra também mais envolvente. Missa da Meia-Noite, ao menos para quem interroga as questões da série em sua própria vida, nunca é menos do que eletrizante, tocante, e fascinante de se assistir.

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