Quando anunciado, Criminal parecia um projeto ambicioso demais da Netflix. Afinal, a série estava sendo vendida como uma franquia, com doze episódios separados em curtas temporadas baseadas no Reino Unido, Espanha, Alemanha e França, cada qual com seu crime específico a ser desvendado pela equipe responsável pelo interrogatório. Independente de qual país o espectador escolha como primeiro “bloco” para assistir, a tensão da sala de entrevistas é sentida e, no clima claustrofóbico criado pela limitação do cenário, o público se sente, alternadamente, nos papéis de detetive e suspeito.
Apesar de não fazer diferença, a chance de o público brasileiro começar a assistir a série pelos blocos britânico ou espanhol são grandes: o primeiro conta com nomes atraentes como David Tennant (Doctor Who, Jessica Jones, Belas Maldições e Harry Potter) e Hayley Atwell (Black Mirror e MCU) e o segundo, com a proximidade da língua. Ainda assim, as temporadas alemã e francesa também servem como ótimo ponto de partida, já que as quatro são estruturalmente parecidas, tornando a experiência de assistir Criminal mais agradável a cada episódio.
Diferentemente de outras séries policiais, a produção não acompanha as várias fases de um caso policial. O foco da série é o último interrogatório de cada suspeito, liderado por uma equipe especializada em analisar cada detalhe do crime e dos depoimentos, em busca de qualquer peça que não encaixe. Com um roteiro preciso e bem amarrado, Criminal mostra, em quarenta minutos, um desenvolvimento completo de personagens, com suspeitos mostrando seus caráteres verdadeiros logo que uma pergunta é feita.
Mesmo acompanhando equipes de quatro a seis membros por apenas três episódios, a evolução de seus arcos é perceptível e, ao fim de cada temporada, fica claro o que cada detetive é ou não capaz de fazer para solucionar um crime. Entre as quatro séries, a alemã é a que menos aproveita seu elenco, focando nos detetives Schultz (Sylvester Groth, de Bastardos Inglórios) e Keller (Eva Meckbach) e delegando os outros personagens a meros espectadores.
Em cada bloco, algum policial tem algo a provar: o alemão Schultz quer resolver um caso de vinte anos; a espanhola Maria (Emma Suárez, de Julieta) está perto de finalmente prender o traficante que atropelou sua irmã; a inglesa Hobbs (Katherine Kelly) tenta manter sua unidade; e a jovem francesa Audrey (Margot Banchilhon) procura o respeito de colegas mais experientes que acham que ela não merece o cargo que tem. Mesmo que os resultados não sejam alcançados, ver o que e como se forma a personalidade de cada um ao final de cada parte da antologia policial é um sentimento satisfatório, especialmente pelo fato de a série se conter para não exagerar em desnecessários diálogos expositores.
O cenário claustrofóbico também é outro ponto forte da série. Idêntico nos quatro países, o set de Criminal é composto da sala de interrogatório, a antessala atrás do vidro espelhado e do corredor que liga as duas ao elevador. Essa similaridade garante que não haja estranheza, por exemplo, ao mudar de uma série para a outra, tornando a troca natural. Já não bastasse o espaço limitado da produção, os closes em monólogos – de detetives e suspeitos – faz com que seja impossível se identificar com apenas um lado. As reações a cada nova prova apresentada ou resposta atravessada de advogados torna o cenário uma verdadeira panela de pressão e faz com que 40 minutos de série passem voando.
Com uma premissa um pouco assustadora para quem já está acostumado a seguir séries policiais, a antologia é um sopro de ar fresco no gênero e um investimento bem pago do espectador e do streaming. Se a Netflix teve pequenos problemas com a crítica de suas produções originais recentemente, Criminal prova que a plataforma ainda tem fôlego – e ideias – de como produzir TV de alta qualidade.
Criado por: Jim Field Smith, George Kay
Duração: 1 temporada