A WWE pode ser conhecida por seus eventos gigantescos de luta-livre, recheados de porradaria e drama, mas há décadas a empresa tenta se alinhar ao entretenimento tradicional através do selo WWE Studios. Enquanto a decisão foi vital para os primeiros passos na carreira cinematográfica de Dwayne ‘The Rock’ Johnson, boa parte das produções são filmes questionáveis estrelados pelos seus lutadores. De 2014 para cá, porém, o braço audiovisual tomou uma postura um pouco mais irônica ao emprestar as vozes de John Cena e outros para desenhos animados, como Scooby-Doo e Os Flintstones.
Nessa estranha virada do destino, a WWE percebeu seu enorme apelo com o público infantojuvenil. Isso levou a uma parceria com a Netflix para diversas produções para toda a família. Quem abre esse inusitado line-up é The Big Show Show, sitcom estrelada pelo brutamontes The Big Show.
A trama acompanha Lola (Reylynn Caster), filha de outro casamento do Big Show, que se muda com o pai quando ele se aposenta dos ringues. A menina então precisa se adaptar à nova vida em outra cidade e também ao convívio com a madrasta e duas irmãs. Não é lá uma premissa muito original, e isso vale para muita coisa da série. Praticamente todas as tramas - como a garota disputando por um quarto próprio, ou sentindo saudades dos antigos amigos - já foram feitas à exaustão em comédias do tipo. O programa não se preocupa em tentar bolar novas situações, apenas servir o mesmo de sempre como se fosse inédito. Mais estranho ainda é como se perde no meio do caminho, sem saber se mantém Lola como personagem principal ou se foca no pai.
O que também não ajuda a passar uma impressão melhor é o visual fraco. Não que sitcoms tentem experimentar além da identidade já testada e desenvolvida, mas The Big Show Show parece ainda inferior à contemporâneas como One Day at a Time e The Ranch. O seriado tem produção amadora e barata, lembrando mais as várias séries infanto juvenis da Nickelodeon do que algo bancado por duas empresas enormes como a Netflix e a WWE.
Mesmo com fraquezas gritantes, a experiência é agradável. Muito disso se dá pelo fato de que os personagens são divertidos, especialmente essa versão “pai descolado babão” do Big Show. Após décadas vendo-o como um gigante ameaçador, capaz de literalmente desmontar um ringue apenas com seu peso, ter essa nova camada cria um contraste interessante para os fãs de luta-livre. Ele definitivamente não é um bom ator, mas com certeza se divertiu muito fugindo de seu papel mais conhecido.
Vez ou outra, o programa entende que tem algo único nas mãos e cria em cima disso. Explorar dinâmicas familiares é batido, mas se torna mais original quando um dos membros da família é ex-lutador e quer buscar seu próximo passo. Os melhores momentos são os que exploram tanto o legado de Big Show na WWE, quanto sua dificuldade em fazer algo além de descer a porrada nos outros, como ajudar sua esposa na venda de imóveis. Já as outras personagens, ainda que tenham arcos pessoais clichês, conquistam só pelo carisma. A série só acerta em cheio mesmo com J.J. (Juliet Donenfeld), a filha mais nova que já é uma gênia perversa e cheia de personalidade. A garota rouba praticamente toda cena que aparece.
Tal qual seu protagonista, The Big Show Show ainda está no processo de se encontrar. Ao longo de oito episódios o programa vai combinando o máximo de referências possíveis na esperança de encontrar sua própria voz. Algumas vezes isso só resulta em um amontoado de ideias repetidas, mas em outras demonstra potencial com humor e alguns momentos fofos. É uma produção que ainda tem muito a melhorar, mas que compensa pelas boas intenções e coração no lugar certo.
Criado por: Jason Berger e Josh Bycel
Duração: 1 temporada
