Cabras da Peste

Créditos da imagem: Netflix/Divulgação

Netflix

Entrevista

Protagonistas de Cabras da Peste celebram resgate da antropofagia no séc. XXI

Matheus Nachtergaele e Edmilson Filho comentam uso de conceitos aclamados do cinema internacional na criação da comédia brasileira

Omelete
4 min de leitura
03.04.2021, às 10H00.

Movimento artístico originado na Semana de Arte Moderna de 1922, a antropofagia moldou por décadas o cenário cultural brasileiro. De maneira simplificada, o manifesto publicado por Oswald de Andrade em 1928 propunha que, ao invés de simplesmente copiar estilos estrangeiros, artistas brasileiros fizessem uma crítica a eles, assimilando apenas seus pontos fortes e agregando-os aos seus estilos próprios. Matheus Nachtergaele, um dos protagonistas da comédia policial Cabras da Peste, deixou o conceito mais simples ainda: “mastiga o inimigo e a bosta é brasileira”. Respeitado por seus trabalhos em cinema, TV e teatro, o ator vê o novo filme da Netflix como um grande exemplo deste conceito quase centenário na era do streaming. Em entrevista ao Omelete, Nachtergaele brincou com o termo buddy cop, nome do tradicional gênero de comédia norte-americano, dizendo que no Brasil “a gente faz coisa brasileira. Nem sei esse termo que você tava falando aí, ‘cop cop’!

No que diz respeito a Cabras da Peste, a fala do ator se torna uma verdade incontestável. Além de brincar com conceitos difundidos por filmes como Máquina Mortífera e Bad Boys, o longa dirigido por Vitor Brandt traz para o cenário brasileiro a mistura de comédia com artes marciais, estilo que consagrou astros como Jackie Chan. “A gente sabia as qualidades que tinha na mão, sabia o nosso valor de produção e os atores que a gente tinha para ter esse resultado”, disse Edmilson Filho, que vive o protagonista Bruceuilis

Mesmo o orçamento mais limitado ajudou nessa “tradução” do gênero para a realidade nacional. Segundo Filho, saber que a concorrência teria “US$ 200 milhões e a gente alguns reais” levou ele, Brandt e o roteirista Denis Nielsen a pensar em soluções que tornassem as sequências de ação de Cabras da Peste capazes de competir com as dos blockbusters disponíveis no streaming. “O que trazer para esse filme que não vai ter bomba, explosão, perseguição de carro... A gente botou umas caixas de papelão para o carro passar por cima e ele capotou! Mas está lá! Bruce [seu personagem no filme] vai fazer uma perseguição em cima de uma bicicleta. Ele não tá pulando em cima de um trem, que nem em 007 ou Missão: Impossível, mas está lá.”

O resgate do Manifesto Antropofágico 93 anos depois de sua introdução na cultura brasileira não foi o único encontro geracional trazido por Cabras da Peste. O longa uniu comediantes de diferentes épocas, mídias e estilos, como o músico Falcão, cuja carreira começou nos anos 1980; Leandro Ramos e Letícia Lima, que dominam o humor feito para a internet como membros do TV Quase e Porta dos Fundos, respectivamente; além dos próprios Nachtergaele e Filho, que têm suas trajetórias muito ligadas ao cinema. “[Trazer] esses comediantes foi um acerto desse filme”, afirmou Filho. Para ele, saber equilibrar os tipos de comédia foi essencial para que o filme criasse sua própria identidade. “A gente fez uma seleção para ver quem eram as melhores pessoas para cada personagem, [como a] Valéria Vitoriano, (...) que saiu [da personagem] Rossicléa, o Falcão fazendo um vilão... Você não vê o Falcão de óculos escuro e o girassol, você vê um cara mau, mas com a pegada do Falcão!

Sempre admiro demais os outros atores, isso é um fato. Tenho certeza que fazem algumas coisas muito melhor que eu, sabe? E não foi diferente no Cabras. Olhei pra todos com um encantamento e toda a ternura que o filme pede”, disse Nachtergaele, que lembrou ainda da união criada entre elenco graças ao ótimo clima nos bastidores. “A coisa era tão gostosa que, quando a gente foi fazer a cena no Ceará no final do filme, a Letícia Lima foi ficar com a gente lá, mesmo sem ter cena para filmar.

Obviamente, a alegria do set também refletiu no comportamento da equipe na hora de trabalhar com a cabra Celestina. Apesar de dizer que “bicho em cena é uma encrenca”, Nachtergaele lembra que todos se divertiam quando o animal estava no set. Comentando uma das sequências-chave do terceiro ato, em que Celestina precisava saltar na altura do peito dos protagonistas, o ator disse que conseguir uma boa tomada “demorou demais”. “Tinha que colocar duas bancadas de madeira muito pesadas e não escorregadias para que ela pulasse de uma para outra, mas ela queria pular para pegar uma comida! E a gente lá, esperando que ela fizesse isso”.

Mesmo com a demora, não houve qualquer reclamação da equipe durante as filmagens. Muito pelo contrário: o que rolou foi muita celebração quando ela enfim executou a cena corretamente. “Só faltou soltar rojão.

Sucesso na Netflix, Cabras da Peste está disponível no streaming.

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