Klara Castanho, Reynaldo Gianecchini e Camila Márdila em Bom Dia, Verônica (Reprodução)

Créditos da imagem: Klara Castanho, Reynaldo Gianecchini e Camila Márdila em Bom Dia, Verônica (Reprodução)

Séries e TV

Entrevista

Bom Dia, Verônica alerta contra “líderes que usam da fé para cometer crimes”

Raphael Montes diz que série não é anti-religião e mostra “processos de despertar”

Omelete
3 min de leitura
08.08.2022, às 11H39.

Na segunda temporada de Bom Dia, Verônica, o missionário Matias Cordeiro (Reynaldo Gianecchinié uma figura que vai soar familiar para qualquer brasileiro que tenha acompanhado os desdobramentos do caso João de Deus: um líder religioso que promete curas milagrosas aos seus fiéis, e que seleciona mulheres entre seu rebanho para “atendimentos particulares”, onde elas sofrem abuso sexual.

Infelizmente, o Brasil é um país com muitos casos de abuso por parte de líderes religiosos, e figuras de poder em geral”, admite Raphael Montes, criador da série ao lado de Ilana Casoy, em entrevista ao Omelete. “Se você abrir para médicos, anestesistas, e várias outras searas, o homem usa da sua posição de poder, de ser uma figura de autoridade, para cometer crimes sexuais. Então é um assunto muito do dia”.

Montes ainda destaca que o Brasil é um país de fé”, e que ele mesmo segue a religião católica: “De maneira alguma a gente está falando contra religiões na série, somos muito cuidadosos e respeitosos com isso. Não queremos falar mal de uma religião, mas sim da figura humana que faz uso do poder da religião, da fé das pessoas, para cometer crimes”.

Uma história de despertar

O que não mudou da primeira para a segunda temporadas de Bom Dia, Verônica foi a vontade de usar a dramaturgia para conscientizar. “Eu nunca quero abrir mão de contar uma boa história, com viradas de trama, ação, explosões”, aponta Montes. “Mas só contar uma história é muito pouco quando você pode provocar reflexões, mostrar como as coisas acontecem”.

Enquanto o primeiro ano buscava desconstruir a noção de que mulheres vítimas de violência doméstica podem simplesmente ir embora de casa” (“Não é uma prisão física, é psicológica, o que a torna muito mais difícil de se escapar”, define o escritor), esta nova leva de episódios dá um passo além e mostra a dificuldade de denunciar abusos.

A gente pegou detalhes de vários casos diferentes para mostrar como é difícil para a mulher fazer a denúncia, mesmo depois de ela sair da situação de violência, porque ela acredita que não vai ser ouvida, que vão falar mal dela, que vão colocar a culpa nela. E é muito comum isso acontecer mesmo!”, diz Montes.

Em suma, o título de Bom Dia, Verônica não foi escolhido de forma leviana: Já está dito ali: é uma série sobre o despertar da Verônica [Tainá Müller] para a ineficiência do sistema, para como as mulheres são silenciadas, para casos que passam invisíveis. [...] Mas cada temporada também narra um despertar diferente: primeiro da Janete [Camila Morgado] entendendo como sair do ciclo da violência doméstica, e agora da Ângela [Klara Castanho] entendendo que o pai-herói dela não é tão herói assim”.

As duas temporadas de Bom Dia, Verônica estão disponíveis para streaming na Netflix.

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.