​​Como Bring Me The Horizon definiu uma geração com Sempiternal

Música

​​Como Bring Me The Horizon definiu uma geração com Sempiternal

Álbum emblemático da banda comemora 10 anos este mês

Omelete
7 min de leitura
20.04.2023, às 11H18.

Texto escrito por Erica Y. Roumieh 

Lançado em abril de 2013, o quarto álbum de estúdio do Bring Me The Horizon, Sempiternal, é um marco do metalcore e metal alternativo. O disco definiu uma geração com seu som pesado e melódico e suas letras autorreflexivas. Mas como isso aconteceu?

Liricamente, Sempiternal é uma forte e poderosa viagem por saúde mental e encontrar significado e propósito na vida. Os temas do álbum como dor, isolamento, vício, depressão e auto descoberta ressoaram profundamente com os fãs, que encontraram consolo e conforto nas letras emotivas e sinceras da banda.

Sob o conceito de sempiternal, ou seja, "tempo eterno que nunca pode acontecer", a tracklist do álbum traz infinitas interpretações. Recheado de temas autorreflexivos sobre nossos pensamentos autodestrutivos e como eles nos afetam e afetam os outros, o álbum traz os singles "Shadow Moses", "Sleepwalking", "Go To Hell For Heaven's Sake" e "Can You Feel My Heart", todos com temas íntimos e identificáveis.

O trabalho começou em 2012 com a banda compondo e gravando em um recluso estúdio, como é de costume. Perto de Londres, porém na zona rural da Inglaterra, o Angelic Studio em Brackley foi a casa do Bring Me The Horizon entre julho e setembro daquele ano e por lá gravaram as 11 faixas hoje conhecidas em Sempiternal. Lá estavam Oli Sykes, Lee Malia, Matt Kean, Matt Nicholls e Jordan Fish. Este último ainda não fazia parte do lineup oficial do grupo na época, mas depois do trabalho intenso e frutífero no álbum foi chamado para integrar oficialmente a banda, substituindo Jona Weinhofen.

Durante a criação do álbum, Sykes e Fish foram inspirados por músicas que ouviam no dia a dia e encontraram uma forma de implementá-las no estilo do BMTH. Algumas dessas influências da dupla passaram por música ambiente, dance, reggae e pop. Porém, as maiores influências foram as trilhas sonoras dos filmes Extermínio e A Praia, ambos de Danny Boyle. Segundo uma entrevista de Oli, eles ouviram o tema de Extermínio antes de começar a criar para Sempiternal - o que dá uma noção do que viria.

O som de Sempiternal é pesado mas melódico, apresentando um novo lado da banda, saindo um pouco do metalcore e se arriscando em outros universos. Entrando na experimentação, o álbum traz fortes riffs, alguns momentos eletrônicos e refrões poderosos. Ele já foi chamado de metalcore, post-hardcore, rock alternativo, electronicore, hard rock e metal alternativo, além de pop rock. Uma mistura de sons que juntos se transformam em uma sonoridade única no álbum.

A faixa de abertura, "Can You Feel My Heart", explora o vício do vocalista em quetamina, problema com o qual ele sofreu por anos até ir à reabilitação. "The higher I get, the lower I'll sink /  I can't drown my demons, they know how to swim" (Quanto mais alto eu fico, mais eu afundo / Eu não posso afundar meus demônios, eles sabem nadar) mostra a dificuldade de Oli com seu vício, assunto que irá perdurar por todo o disco.

"Sleepwalking" traz novamente o vício, porém dessa vez acompanhado da depressão que Oli sofreu. Em entrevistas, ele contou como se sentiu durante esse período, confessando não ter tido vontade de viver naquela época - como mostra ao cantar: "I'm at the edge of the world / Where do I go from here, do I disappear? / Edge of the world / Should I sink or swim or simply disappear?" (Estou na beira do mundo / Para onde vou a partir daqui? / Devo desaparecer? / Beira do mundo / Devo afundar, nadar / Ou simplesmente desaparecer?).

Em "Seen It All Before", Oli é mais direto sobre sua depressão. Nela, ele canta sobre seus pensamentos negativos intrusivos e repetitivos: "I don't wanna do this by myself / I don't wanna live like a broken record / I've heard these lines a thousand times / And I've seen it all before!" (Eu não quero fazer isso sozinho / Eu não quero viver como um disco quebrado / Eu ouvi estes versos milhares de vezes / E eu vi tudo isso antes).

Ao se recuperar após a reabilitação, Oli quis esquecer sua vida antiga que o causou tanta dor, então escreveu "Go To Hell, For Heaven's Sake". A faixa, segundo Oli, é uma carta a si mesmo, ele falando com a pessoa com quem precisava destruir. Nas canções, ele fala sobre suas lutas internas, mas também sobre as pessoas que machucou na época em que estava sob os efeitos das drogas. Aqui, Oli mostra arrependimento, se desculpa pelos erros e mostra o desejo de seguir em frente como um novo homem. Nesta música, Oli também fala sobre religião, um assunto bastante tocado nesse álbum.

Sóbrio, Oli se sente sortudo de ter tudo o que sempre quis: carreira decolando, família e amigos, sempre lembrando do trabalho árduo que teve para chegar onde chegou. Em "Crooked Young", o músico afirma que Deus não teve nada a ver com sua reabilitação, como muitas pessoas disseram a ele na época. Oli é abertamente ateu e questiona, especialmente em Sempiternal, a veracidade de Deus, o ser que supostamente criou tudo e nos protege, mas que nunca apareceu: "Hallelujah, well, I'm saved / Just a dozen steps and 28 days / It's a miracle, I'll be born again / With the Lord as my shepherd, I will find a way / Fuck your faith, no one's gonna save you / Fuck your faith!" (Aleluia, bem, eu estou salvo / Apenas uma dúzia de passos e 28 dias / É um milagre, eu nascerei de novo / Como o Senhor, como meu pastor / Eu vou encontrar um caminho / Foda-se a sua fé, ninguém vai salvar você / Foda-se a sua fé).

Um exemplo objetivo do que religião significa para Oli é a música "The House of Wolves", em que ele canta "What you call faith, I call a sorry excuse / Cloak and daggers murder the truth / The bitter taste, there's nothing else / I'll bow for your king when he shows himself" (O que você chama de fé, eu chamo de desculpa esfarrapada / Capa e punhais assassinam a verdade / O gosto amargo, não há nada mais / Curvarei-me pro seu rei quando ele se mostrar).

O disco também tem músicas críticas à sociedade como "Antivist", que brinca com a palavra "slacktivists", pessoas que passam seu tempo no computador militando, porém fora dele, se mantêm estáticas aos assuntos que abordam. Oli mostra sua raiva sobre o assunto cantando objetivamente: "Oh, give me a break, you deluded, ill-informed / Self-serving pricks / If you really believe in the words that you preach / Get off your screens, and onto the streets" (Me dê um tempo, seu iludido, desinformado, idiota auto imposto / Se você realmente acredita nas palavras que você prega / Levante do seu lugar e vá até à rua).

Tudo isso conquistou uma nova legião de interessados no som, além dos próprios fãs. Não havia nada sendo feito dessa maneira na época. A banda trouxe temas sinceros e identificáveis cobertos de uma sonoridade carregada que fez o público se sentir compreendido em meio a um mar agitado.

A identificação foi tanta que Sempiternal estreou em terceiro lugar no Album Chart do Reino Unido e é o segundo álbum da banda que alcançou o topo da Aria Charts da Austrália. O trabalho também chegou em décimo primeiro na Billboard, tornando o maior álbum da banda nos Estados Unidos até a chegada de That's The Spirit, de 2015. Nos shows, a banda toca em sua maioria músicas de Sempiternal, mostrando a força de suas músicas.

Os temas de Sempiternal são atemporais. Pensamentos negativos intrusivos, problemas com drogas, saúde mental, questionamento da religião e da sociedade são assuntos que estão sempre em nossas mentes. O que Bring Me The Horizon fez foi sintetizar esses temas em letras cativantes, fortes e objetivas e uniu com uma sonoridade potente e memorável. Um trabalho desse deve e é celebrado até os dias de hoje como uma marca em sua geração.

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