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Tori Amos é daquelas artistas que, apesar de ter um tremendo talento, não obtém a popularidade que merece pelo simples fato de fazer um trabalho considerado pouco convencional. Quando surgiu no mundo da música, em 1988, ela fazia parte de uma banda, Y Kant Tori Read, e o disco homônimo, cujas músicas eram bem no estilo pop consagrado por Madonna naquela década, foi tão mal em vendas e críticas, que poderiam ter desestimulado qualquer um menos empenhado em mostrar sua música para o mundo. Hoje, após o lançamento de Strange Little Girls, seu sexto trabalho, Tori Amos é um sucesso de crítica e, apesar de não obter na grande indústria fonográfica o reconhecimento que merece, atingiu um status invejável entre profissionais e fãs da dita música “alternativa”.

Entre Y Kant Tori Read e Strange Little Girls, no entanto, muita coisa aconteceu com Tori Amos, pessoal e musicalmente. Aproveitando o lançamento pela Via Lettera da versão nacional de Fumaça & Espelhos, livro do mestre dos sonhos Neil Gaiman, o Omelete decidiu trazer a vocês um pouco mais da vida e obra dessa notável artista. Vocês podem estar se perguntando qual o motivo disso, afinal, o que Neil Gaiman tem a ver com Tori Amos&qt;& Essa é uma das questões que espero responder nesse artigo. Então, recostem-se em seus assentos e boa leitura. :-)

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Tori nasceu Myra Ellen Amos em Newton, Carolina do Norte, no dia 22 de agosto de 1963. Filha de um pastor metodista com mãe descendente de índios, ela se revelou precoce no que diz respeito à paixão pela música. Tanto que, já na tenra idade dos dois anos, começou a tocar seus primeiros acordes no piano. Aos cinco conseguiu uma bolsa para estudar piano clássico no Conservatório Peabody, ligado à Universidade de Baltimore. Nessa época, já sofria duas influências musicais distintas: O canto gregoriano e os hinos gospel que ouvia na igreja do pai por um lado e, por outro, o rock dos Beatles, Stones e demais bandas da época, que lhe eram trazidos pelo irmão Mike, 10 anos mais velho. Essa mistura de influências tão distintas seria determinante em seu futuro trabalho.

Aos onze anos, a jovem Myra viu o sonho de se tornar uma pianista clássica se desfazer quando foi expulsa do Peabody por insistir em não seguir partituras e tocar de ouvido. Aos treze, tentou ser admitida novamente, mas não obteve sucesso. A expulsão, no entanto, não foi tão traumática quanto poderia ter sido já que a menina gostava mesmo era de tocar o Rock And Roll, que passara a ser sua principal influência musical. Nessa época, acompanhada do pai, ela passou a fazer pequenas apresentações em salões de hotéis e bares gays nas redondezas de Washington - DC, já tocando músicas originais.

Quando completou 21 anos, Myra Ellen decidiu de livrar de seu antigo nome. A futura Tori Amos quase adotou o nome de Sammy J., influenciada pela personagem de Heather Locklear (Melrose Place, Spin City) na novela americana Dinastia. No entanto preferiu aceitar a sugestão de um amigo e adotou o nome com o qual obteria fama e sucesso musical. Já rebatizada, Tori mudou-se para Los Angeles.

Em 1988 a Y Kant Tori Read lançou um cd homônimo pela Atlantic Records. O nome da banda é uma brincadeira pelo fato de Tori ter sido expulsa do Conservatório Peabody em forma de pergunta: “Why can’t Tori read&qt;&”. Infelizmente, Y Kant Tori Read, que inclusive gerou um videoclipe extremamente raro hoje em dia, do single “The Big Picture”, foi um fracasso de vendas. O cd traz músicas com uma batida extremamente pop, que não lembram nem de longe o estilo musical adotado por Tori em seus trabalhos seguintes. Apenas uma música, a balada “Etienne Trilogy” salva-se em todo o disco. Y Kant Tori Read nem é reconhecido pelos fãs como um trabalho de Tori Amos, já que era uma banda e, depois disso, ela passou a trabalhar sozinha. Um fato curioso é que, entre os membros da banda estavam os bateristas Matt Sorum - que pouco depois viria a substituir Steve Allen no Guns And Roses - e Steve Canton, guitarrista que acompanhou Tori por bastante tempo.

O recomeço

Pouco depois do lançamento do álbum, Tori passou por uma experiência bastante traumática ao ser estuprada por um suposto fã. Isso a deprimiu bastante e, durante seis meses, ela sequer encostou em um piano. Quando decidiu que deveria fazer algo para liberar sua angústia, Tori mergulhou em quatro anos de intenso trabalho, compondo as músicas que fariam parte de seu primeiro disco solo, Little Earthquakes. Nesse período de tempo, Tori conheceu e se tornou grande amiga de Neil Gaiman. Neil acompanhou de perto o trabalho de Tori e a amizade entre eles cresceu tanto que gerou frutos. Gaiman, quando da criação dos Perpétuos, os irmãos de Sandman, resolveu basear o visual, os trejeitos e mesmo a forma de se expressar da personagem Delírium em Tori. Delírium é, em essência, o que Tori seria se fosse uma dos Perpétuos.

Tori, por sua vez, decidiu homenagear Neil e sua maior criação em forma de música. Em um trecho de “Tear In Your Hand”, música do Little Earthquakes, ela diz: “And if you need me and Neil, we’ll be hangin’ out with the Dream king/Neil say ‘hi’ by the way” (E se você precisar de mim e Neil, nós estaremos dando uma volta com o REI DOS SONHOS/Aliás, Neil diz ‘oi’). O “Dream King” na canção não poderia ser outro que não o próprio Sandman. O mais legal é que Neil não é apenas amigo de Tori, mas fã de seu trabalho. Tanto que, sempre que é perguntado sobre suas influências musicais, Neil recomenda o trabalho de Tori. E o inverso também ocorre. Sempre que possível Tori e Neil trabalham juntos. Os textos de Strange Little Girls foram escritos por Gaiman. Da mesma forma, foi Tori quem redigiu a introdução da TPB de “Death: The Time Of Your Life”. (publicada por aqui em seu formato original, uma mini-série em três edições, em 1998 como “Morte: O Grande Momento da Vida”.) Essa introdução foi transformada em conto e pode ser encontrado no segundo volume de “O Livro dos Sonhos”, publicado no Brasil pela Conrad Editora.

Voltando a Little Earthquakes, o álbum é recheado de canções extremamente pessoais, com letras que tratam de temas que afligiam Tori no período em que se recuperava do trauma sofrido. Tori abandona totalmente a batida pop de Y Kant Tori Read para dedicar-se a composições mais introspectivas, com seu piano sendo o centro de tudo. Além disso, as letras são mais elaboradas e sempre trazem algum significado mais profundo quando lidas nas entrelinhas. Tori costuma dizer sobre suas canções que "É importante para mim que minhas músicas signifiquem algo para você. Elas todas significam algo para mim, mas talvez tenham um significado diferente para você e isso é válido e importante”.

Uma das músicas mais marcantes de Little Earthquakes é “Me And a Gun”, uma canção que pode ser considerado mais um poema cantado do que uma música em si. “Me And a Gun” é levada à capela, sem nenhum tipo de instrumento. Nela, Tori tenta descrever o que se passava em sua mente e coração no exato momento em que estava sendo abusada sexualmente. É uma música de difícil digestão.

Segundo tempo

Under The Pink foi seu segundo trabalho e recebeu muitas críticas, devido ao fato de ter sido mais bem elaborado do que o álbum anterior. Tori continua abordando temas considerados tabus, como o patriarcado e o mal que isso fez ao mundo (“God”), masturbação, rebelião e críticas à religião e à Bíblia (“Icicle”) e traições entre amigas (“Bells For Her”). Outros assuntos foram abordados de forma mais sutil e complexa agora do que em seu trabalho anterior, prova de um amadurecimento que foi se desenvolvendo aos poucos. Nesse trabalho, Tori acaba fazendo uma inusitada parceria com Trent Raznor (Nine Inch Nails) na música “Past The Mission”, em que ele faz o backing vocal.

Aliás, parcerias musicais inusitadas é uma das coisas que Tori mais gosta de fazer. Além dessa com Trent Raznor, Tori já gravou com Tom JonesI Wanna Get Back With You”), Rolling Stones (numa nova versão para “Angie”), e com seu ídolo de infância, Robert PlantDown By The Seaside”), dentre outros. Até mesmo o Cannibal Corpse, uma das bandas de Death Metal mais radicais da atualidade, usou a voz de Tori retirada de uma propaganda do R.A.I.N.N. (mais sobre a istituição, abaxio) para sua música “Ripped, Raped And Strangled”.

Uma coisa interessante com relação a Under The Pink é que, já nessa época, a música de Tori começava a ter um eco mais forte na Grã-Bretanha do que em sua terra natal. Assim, acabaram sendo feitas duas versões do vídeo de “Cornflake Girl”, uma mais elaborada para o Reino Unido e outra, mais pobre em recursos, para os EUA. Além disso, a versão do single “God” lançada na Europa traz arte de capa de Dave McKean, diferente do que ocorreu nos EUA.

Tempo de mudanças

No Havaí há o culto para Pele, a deusa do vulcão. Os nativos costumavam jogar garotos da boca de vulcões como sacrifícios humanos para agradar à Deusa. Disso saiu o nome de “Boys For Pele” terceiro trabalho de Tori. Segundo ela descreve “esse álbum é sobre como eu roubei fogo dos meninos para a minha vida". Como em seus trabalhos anteriores, muitas das músicas refletem fatos e sensações ocorridas em sua vida pessoal. Muitas das letras tratam de relacionamentos, de como ser vítima em um relacionamento e de como lidar com a solidão. O motivo disso tem um teor bem pessoal, já que, na época, Tori havia se separado de Eric Rosse, produtor de seus discos anteriores e com quem mantivera um relacionamento estável por quase oito anos. Para “Boys For Pele” Tori aprendeu a tocar cravo, que se tornou um elemento bastante presente em suas músicas a partir de então. Inclusive, uma das coisas mais legais de se ver é Tori tocando os dois instrumentos ao mesmo tempo, e cantando, quando se apresenta ao vivo.

Em maio de 1998, o quarto álbum chega às lojas. “From The Choirgirl Hotel” traz algumas novidades com relação aos trabalhos anteriores de Tori. Agora, em vez de ser apenas uma mulher no piano, Tori passou a ter uma banda acompanhando-a tanto em estúdio quanto em apresentações ao vivo. De todos os seus trabalhos, esse é o que mais tem cara de rock. Lógico, o CD contém muitas baladas e algumas músicas caracteristicamente pop, como “Raspberry Swirl”, mas, no geral, pode ser considerado um álbum mais rock and roll que os anteriores. Novamente, o cd foi motivado por experiências pessoais, dessa vez um aborto natural sofrido por Tori meses antes.

“From The Choirgirl Hotel” também foi o primeiro cd de Tori a ser lançado por aqui. Até então, para conseguir qualquer coisa dela a única solução era recorrer às importadoras. Na época isso não era tão complicado, já que Dólar e Real estavam equiparados. Hoje em dia, porém, as coisas estão um pouquinho mais difíceis nesse sentido...

Depois do sucesso de “FTCH”, até então o álbum mais bem aceito pela crítica e fãs, Tori declarou que daria um tempo para experimentar, testar novos arranjos, antes de entrar novamente em estúdio. Parece que ela mudou de idéia rapidinho já que, pouco mais de um ano depois, em setembro de 1999, o duplo “To Venus And Back” chegou às lojas. O primeiro cd trazia músicas inéditas e ritmos não muito diferentes dos encontrados em seu trabalho anterior. No segundo, uma apresentação ao vivo reunindo o melhor de Tori até então.

“To Venus And Back” deu a Tori duas indicações para o Grammy daquele ano. Infelizmente, ela não levou nenhum dos dois prêmios.

Paralelamente a isso, Tori ainda participou da trilha sonora do filme “Great Expectations” (com Gwyneth Paltrow e Ethan Hawk), do CD “Sem Fronteiras”, em benefício aos refugiados de Kosovo, e ainda gravou uma música - “Carnival” - especialmente para o blockbuster de Tom Cruise, “Missão Impossível 2”.

Tori também desenvolve um trabalho importante na área social. Depois de sua experiência com estupro, ela ajudou a fundar o R.A.I.N.N.: Rape, Abuse and Incest National Network, (Rede Nacional conta Estupro, Abuso e Incesto) uma organização destinada a ajudar vítimas desse tipo de abuso. O objetivo principal do R.A.I.N.N é garantir que o Centro Nacional de Estupros continue funcionando. O Centro procura ajudar pessoas que sofrem abusos sexuais, dando apoio ou mesmo encaminhamento psicológico e médico. Para isso, tem unidades espalhadas por todo os EUA e conta com uma linha 1-800 - equivalente ao 0800 no Brasil - cujas contas têm sido pagas pela R.A.I.N.N. Para que isso seja possível, a organização, sempre que possível, organiza eventos e shows beneficentes. Além de Tori Amos, a Calvin Klein é outro dos nomes que dão seu suporte à organização. O trabalho da R.A.I.N.N tem tido um reconhecimento grande nos EUA. Tanto que o dia 16 de maio foi declarado o R.A.I.N.N Day. Nessa data, ao meio-dia, todas as rádios americanas, a MTV e a VH1 transmitiram uma declaração de Tori sobre a organização, seguida da música “Silent All These Years”. O Centro de Estupros continua funcionando e tem atendido milhares de pessoas todos os anos, uma boa e, ao mesmo tempo, péssima notícia, segundo Tori.

Voltando à música, depois do recente lançamento de Strange Little Girls, boatos dão conta de que Tori pretende entrar em estúdio assim que terminar a turnê, visando ao lançamento já no próximo ano de um CD com composições inéditas. Isso seria um alento para os fãs, visto que, dificilmente, Tori Amos lança dois álbuns num espaço tão curto de tempo. Vamos ficar na espera. :-)

Discografia: Little Earthquakes (1991), Under The Pink (1993), Boys For Pele (1995), From The Choirgirl Hotel (1998), To Venus And Back (1999), Strange Little Girls (2001) Site Oficial: www.toriamos.com

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