The Strokes: <i>Room on fire</i>
The Strokes: <i>Room on fire</i>
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Os Strokes, os recém-reeleitos "Novíssimos Deuses do Rock" estão de volta, com suas roupas impecavelmente amassadas, seus cabelos cuidadosamente desarrumados e a atitude blasé de quem não dorme há três dias. Os mesmos caras que em 2001, com quatro músicas gravadas, foram eleitos de surpresa os Salvadores do Rock (sempre com letra maiúscula) e abriram a cabeça da mídia pro som garageiro e retrô que está aí até hoje, faturando horrores.
Quando Is this it estava sendo gravado, o mundo estava de olho na banda. Com um EP tão comentado, os Strokes não podiam decepcionar. O álbum foi lançado e deu no que deu, um espetáculo de vendas e crítica.
Agora, com o lançamento do segundo CD, a situação se repete e Room on fire chega às lojas cercado de expectativas maciças. Todo mundo quer conhecer o novo caminho do rock, o que Julian Casablancas - vocalista e compositor de todas as músicas - tem a dizer, qual será o novo riff de guitarra grudento que vai permanecer pelos próximos meses. Já há quem classifique Room on fire como melhor disco do ano, mesmo sem ouvi-lo, aplicando a maior confiança no taco dos cinco nova-iorquinos.
Mas os Strokes parecem cansados. De cinco rapazes entediados que resolveram formar uma banda por que não tinham nada melhor pra fazer, os integrantes da banda se tornaram cinco rock stars entediados com sua agenda de shows, sua fama e, mais do que tudo, irritados com tanta cobrança.
Isso se reflete principalmente nas letras de Casablancas, que parece soltar farpas e mais farpas pra cima do esquemão do showbizz, mesmo que de forma sutil. O CD já começa com um manifesto do tipo: eu quero ser esquecido / não quero ser lembrado são os primeiros versos de "What ever happened?". O mesmo sentimento permeia "Under control" (Eu só quero dizer / O que eu tenho a dizer / Nós trabalhamos duro, querida / Nós não temos controle / Estamos sob controle) e "I cant win".
Lembra os primeiros cantores de blues, na época da escravidão negra no Mississipi, que disfarçavam suas canções com críticas aos seus "patrões" transformando-os na mulher amada e cruel.
Porém, se a intenção de Julian era cutucar amargamente toda a indústria que há sobre a banda, o efeito será nulo. Porque, indiferente do que o grupo quer, Room on fire vai ser alçado ali ao topo do panteão do novo rock; será eleito como melhor disco do ano por alguns, vai vender bem e gerar mais uma agenda absurda de shows. Ou alguém esperava algo diferente?
O sentimento de saco cheio também parece ter invadido a cozinha, que acaba repetindo as mesmas fórmulas eficientes e simples do primeiro CD, mantendo a competência instrumental, potente mas sem grandes firulas, e a voz preguiçosa e abafada.
Assim como Is this it, Room on fire é uma potencial fábrica de hits, trocando apenas a energia debochada do primeiro para uma espírito (ainda) mais largado no segundo. O CD tem seus petardos e suas baladinhas (como a lindíssima "Under control", uma das melhores da história da banda).
E é no excesso de semelhanças com o que já foi feito que mora o que pode ser considerado o único problema do álbum. Os Strokes preferiram retrabalhar o óbvio, com o mesmo produtor do primeiro disco, sem coragem (ou vontade?) de arriscar os pés para fora do que eles mesmo estabeleceram.
Então, de certa forma, o novo disco acaba se tornando o que seria o primeiro álbum se eles tivessem tido a oportunidade de amadurecer as músicas com um produtor, antes de explodir. Quase como um segundo primeiro álbum. Uma segunda chance de conquistar o título de Salvadores do Rock. Pelo menos até a próxima capa de revista.
