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The Strokes: First impressions of Earth

The Strokes: First impressions of Earth

EV
14.02.2006, às 00H00.
Atualizada em 03.11.2016, ÀS 19H01
First impressions of Earth

Strokes (Sony & BMG)
2 ovos

Chega a ser patética essa nova dinâmica que rege cada vez mais o mundo da música. A velocidade da Internet, aliada à sede por qualquer coisa que seja nova, cria e derruba deuses todos os dias. As bandas da nova geração se tornam a "next big thing" num piscar de olhos, até alguém descobrir o novo nome sensacional do momento.

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O exemplo cabal dessa retórica toda são os Strokes. A fama inicial da banda ganhou estofo graças a MP3s que rodaram o mundo, antes mesmo de qualquer gravação oficial. E hoje o seu terceiro disco, First impressions of Earth, recém-chegado ao Brasil, sofre do efeito inverso. É a decadência anunciada.

Nunca se viu um disco novo, com 14 faixas inéditas, chegar às lojas tão... velho. First impressions traz uma carga de ranço grande, e não é pelo fato da banda produzir as mesmas músicas pela terceira vez. O problema é que qualquer fã, por menos esforçado que seja, já conhece o disco praticamente inteiro há meses.

Essa sensação não muda nas audições da versão oficial do álbum. A mediana faixa de abertura, You only live once, segue o padrão strokeano dos dois outros discos. A banda só aparece mesmo na música seguinte, a ótima "Juicebox", com um inspirado início quase surf music e final abrupto. O pacote é perfeito para tema de um filme de James Bond. Mas "Juicebox" perde a força exatamente graças à sua "idade". O single vazou há quase seis meses e, de tão rodado, soa datado. São os efeitos da tal dinâmica, que sufocam uma das poucas boas músicas do disco.

Entre as 14 faixas, é difícil apontar as que saem de cima do muro para a luz da inspiração. As mais notórias estão logo no começo: é a trinca "Juicebox" - "Heart in a cage" - "Razorblade". São os Strokes se esforçando para soar como uma banda evoluída, com Julian Casablancas inovando com um vocal (propositalmente ou não) mais maduro e controlado, apesar de manter a sua marca registrada de gritos abafados.

Outras surpresas vêm mais para frente. A calma e singela "Evening Sun" chega a lembrar Los Hermanos; "15 minutes" merece distinção pela sua ótima primeira metade, com Julian remetendo a um Frank Sinatra bêbado e uma bateria fora do controle, antes da total destruição da música; e a mais surpreendente, "Ask me anything", com suas cordas sintetizadas e os vocais ecoando Lou Reed, o que não é demérito nenhum. Brilhos esparsos que ajudam a marcar o limite entre os velhos e os novos Strokes.

Mas se a banda suou para atingir novas sonoridades e realmente produziu arranjos admiráveis, as letras ficam em segundo plano e envergonham. Falam de amores perdidos, visões cínicas da vida e algumas odes a Nova York - ativando a paranóia, dá até pra colher aqui e ali algumas farpas à indústria musical. Mas First impressions é "o disco das multiplicações", com Julian abusando da sua síndrome da repetição de versos. A campeã é "Fear of sleep", com a mesma frase disparada 27 vezes. Essa falta de inspiração acaba produzindo bobagens do tamanho de "Ize of the world", que deveria ter permanecido escondidinha no baú da banda. É a falta do que dizer, como assumiria o próprio vocalista (dezesseis vezes em três minutos) em outro momento.

São fatores como esse que transformam First impressions of Earth no CD mais fraquinho na breve carreira da banda. Ou, num olhar Pollyana, em um belo EP com seis músicas boas. E a culpa não é só da Internet.

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