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Skol Beats 2004: só mais um

Skol Beats 2004: só mais um

04.05.2004, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H16

O palco principal

Roni Size

Mais um ano, mais um abril, mais uma edição do Skol Beats. O mega-evento, que já se tornou parte do esquizofrênico calendário da cidade, ficou famoso por primar a democracia na música eletrônica, investindo em diversos estilos, como bons festivais internacionais fronteira afora.

Há de se admitir que, para um estilo de música que não é ainda tão bem visto pela conservadora intelligentzia cultural, montar um festival desse porte - e chegar ao quinto ano - é uma conquista invejável.  

Ano a ano, o evento cresce. O número e a qualidade de convidados aumenta, e o público vai batendo recordes. Os números são sempre gigantes: nesta edição, 60 atrações desfilaram ao longo de 17 horas de evento, atraindo um público que beirou os 50 mil, ao que se diz.  

Mas, se é tudo tão bom, por que o Skol Beats 2004 foi eleito o mais chinfrim de todos?

Eu só queria entrar

Os problemas que apareceram neste ano foram muitos, beirando o excesso.

Tudo começava pela fila de entrada que, pelas revistas rigorosas e conferências de identidade, chegavam a horas. Mais pobres eram os estudantes, boa camada do público, que ficaram relegados a um só portão de entrada.  

Em certo momento, perto da meia-noite, algumas centenas de pessoas estavam espremidas na última catraca, esperando a liberação da entrada. Não havia motivo aparente, já que, por lógica, todos que lá estavam já tinham sido revistados e liberados pelo crivo da identidade.  

Perguntei a três dos seguranças que ali estavam. Dois deles me garantiram que era ordem da chefia. O outro, mais sincero, preferiu um simples cara, não sei não. O motivo, vim a saber depois: pane nas catracas eletrônicas.

A falta de estrutura atingiu também a cerveja gelada, que acabou no meio da madrugada. Uma amarga ironia para um festival que leva uma marca de cerveja no nome. Isso sem contar a fila nos banheiros químicos, tradicional em eventos desse porte, e o calor insuportável dentro das tendas.  

Get the music louder!

Tudo isso seria perdoável, porém, se a organização não tivesse pecado feio em um único ponto: o som. Não se faz um festival desse tamanho sem aplicar cada centavo disponível no sistema de som. Principalmente quando se trata de um evento de música eletrônica, onde se faz necessário um afinamento redondíssimo de graves, médios e agudos.  

As reclamações contra o sistema de som pipocaram durante toda a noite, entre públicos e DJs. O volume baixo e a equalização porca imperaram nas tendas. Em alguns momentos, o som simplesmente parou de funcionar, irritando um bom número de DJs - não sem razão. Que o diga Anderson Noise, que desistiu de tocar por alguns momentos quando as caixas pifaram.  

Além dos problemas internos, as tendas pareciam disputar umas com as outras. Pela proximidade entre si, era mais do que comum que o som de uma tenda mais potente vazasse para a outra.  

No Outdoor Stage, o problema se repetiu, agravado pela acústica nula do ambiente a céu aberto. Já são célebres os gritos de Casey Spooner, que passou toda sua apresentação pedindo mais volume.  

Mas o símbolo do descuido no equipamento veio do DJ canadense Richie Hawtin, que encerrou o festival, já de manhã, no Outdoor Stage. O péssimo som que chegava ao público gerou um agressivo dedo do meio em direção aos técnicos de som.  

Mais conciso, impossível.  

Quanto maior a altura...

O maior problema do Skol Beats é seu pretenso gigantismo, num país sem grandes tradições de festivais desse tamanho. Não digo que não há de se tentar - o que é preciso é calma e controle ao andar.  

O SB acabou se tornando uma grande feira, onde a quantidade é o que manda. Em quatro tendas e um palco, bons nomes iam passando incógnitos ao lado de um público perdido, que não sabia o que fazer com tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo.  

Um público que, por definição e em sua maioria, vai até lá mais atrás de sexo, drogas e seus DJs preferidos e já conhecidos, do que para conhecer as tendências produzidas por algum DJ, seja do Leste Europeu ou de Porto Alegre.  

O festival perdeu sua chance de investir na educação desse público de música eletrônica, tão grande quanto carente de interesse por informação.  

Não basta jogar tudo ao léu, à disposição da massa. Às vezes, pegar e levar pela mão se faz necessário. E, para isso, festivais menores, itinerantes e espalhados ao longo do ano talvez fossem bem mais aproveitáveis.

Os hits do Skol Beats
por Eduardo Viveiros, Natalie Gunji e Luciana Sanches


Benny Benassi

Fischerspooner

Fischerspooner - performático

Na sua quinta edição, o Skol Beats deste ano foi o mais pop de todos os anos. Ao lado de DJs que traziam técnica, novidade e alguma tendência, a organização fez questão de colocar um bom número de nomes gigantes - cuja fama vai um bocadinho além do gueto eletrônico, atraindo público e mais mídia.  

Prova disso é a imagem que se via quando Benny Benassi entrou no Outdoor Stage, no começo da noite. Ao som de No matter what you do, do seu disco, o DJ italiano arrastou a massa, que atravessou o Anhembi literalmente gritando e dançando, até alcançar o palco ao ar livre.  

O set do DJ, um dos primeiros nomes que empolgou o público de verdade, girou em torno do seu mega-hit Satisfaction, que aparecia aqui e ali, constantemente entre as músicas. Agradou o público, que foi aos gritos quando Benassi encerrou sua apresentação mixando sua faixa com a música homônima dos Rolling Stones. Sucesso fácil.  

O grande nome seguinte no lineup veio também do Outdoor Stage. O duo Fischerspooner - desta vez representado só pela metade Casey Spooner - era uma das atrações mais hypadas dentro do festival.  O grupo, da última leva de electro que apareceu por aí, nasceu no underground de NY e explodiu há alguns anos com a faixa Emerge, ganhando fama também pelas suas performances exageradas no palco.  

Gravando seu novo disco em Nova York, o Fischerspooner fez no Brasil sua primeira apresentação com banda, e não decepcionou quem já sabia o que esperar. Casey Spooner entrou no palco junto com sete bailarinas de visual new age, com maiô colorido e penas na cabeça. Daí pra frente, a antológica apresentação teve tudo a que tinha direito: dancinhas e coreografias camp, dúzias de trocas de figurino, chuvas de papel picado, neve artificial e muito, mas muito teatro.  

Música? A diversão foi garantida para os fãs da banda, que conferiram os mega-hits do primeiro CD, #1, como Emerge, 15th e Invisible. Entre as já conhecidas, a banda apresentou em primeira mão músicas do novo disco, Freak joint.  

Apesar da banda ao vivo no fundo do palco, Spooner e suas backing vocals investiram no playback durante boa parte das músicas. Afinal, eles tinham toda uma coreografia para apresentar. Mas, no fundo, quem liga pra isso?  

O Basement Jaxx começou sua apresentação no Outdoor Stage com uma homenagem ao Brasil: com samba e uma passista. Uma visão um tanto quanto estereotipada dos gringos em relação a nós, mas ainda assim um gesto legal da parte deles.  

Contando com o vozeirão de duas cantoras, a dupla abriu o set com Good luck, do ótimo disco Kish kash. Os pontos altos do set foram a funkeada Red alert e Where´s your head at, que agitou a galera, composta por muitos fãs de carteirinha que cantaram junto e tudo mais.  

O clima era de pura sensualidade, misturando groove, funk e eletrônica. A dupla deu o sangue e era nítido que eles estavam se divertindo muito e o público respondeu com sua animação. Um set digno de um show de rock.

Movement

por Natalie Gunji
 


Basement Jaxx

Neste ano, a tenda Movement trouxe pioneiros do drumnbass para a festa. Photek, também conhecido como Rupert Parkes, foi um deles. Produtor da old school do drumnbass, teve influências do hip-hop, rap e electro, além de jazz, que ele usou para fundir com as batidas eletrônicas. DJs como Patife, Xerxes de Oliveira e Marky beberam da fonte de Photek e se sentiram estimulados a misturar temperos brasileiros, como o samba e a bossa nova ao drumnbass. O DJ atraiu uma bela audiência de novos e antigos admiradores do gênero.  

O outro foi Roni Size, que veio da cidade de Bristol na Inglaterra, famosa pelo rico cenário da música eletrônica no país e no mundo. Por ter crescido ouvindo reggae, dub, soul e hip-hop, Roni Size adicionou suas influências ao ritmo eletrônico, mais conhecido como jungle, o gênero precursor do drumnbass. O DJ proporcionou um set perfeito, mostrando porquê é venerado por seus colegas.  

Mesmo tocando quase no mesmo horário de outra grande atração do festival, o Basement Jaxx, Roni Size foi prestigiadíssimo e lotou a tenda, que já estava cheia e abafada, ao tocar a introdução de Brown paper bag, do disco New forms (1997). Permanecer na tenda até o final da apresentação era inconcebível, muito calor, muita gente, mas muitos sorrisos de satisfação do público que teve a oportunidade de assistir a uma das lendas vivas do drum n´bass.  

Logo viria o Marky para dar início ao seu show e havia mais gente tentando entrar na Movement. Não consegui ser tão corajosa a ponto de enfrentar a multidão e a sauna, mas tenho certeza de que foi um belíssimo set.

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