Ponte Brooklyn-Pompeia
Festival indie faz resumo de cena nova-iorquina
Depois de uma semana recheada de grandes reprises, com bandas que passaram pelo Brasil nos últimos cinco anos, o fim de semana foi reservado às pequenas desconhecidas. Era hora do festival Ponte Brooklyn-Pompeia, com um público reduzido demais para os três saborosos nomes do cardápio.
Meca da modernidade jovem, o Brooklyn nova-iorquino tem exportado nomes que fazem a alegria de toda uma cena. Daquele distrito despontaram bandas como MGMT e Grizzly Bear, Vampire Weekend e Battles. Representantes de uma tonelada e meia de pequenos grupos, meio esquisitos, meio artsy, que acharam um gueto para se estabelecer e são conhecidos pelo circuito interdependente.
Ponte Brooklyn-Pompeia
Ponte Brooklyn-Pompeia
Ponte Brooklyn-Pompeia
Ponte Brooklyn-Pompeia
Daí veio a ponte imaginada entre o bairro de lá e o palco daqui, com três dessas bandas, que começam a fazer burburinho por aí. Nomes como o Bear Hands, última atração da trinca e que traduz bem a "vibe" do evento.
Formada "por acidente" em um ensaio, os BH eram o menos experimentais do cardápio, mas os que têm a pegada mais palatável. Com três anos de vida e apenas um EP (Golden) de quatro faixas no currículo, o quarteto se apoia na voz do magrelo Dylan Rau e do ótimo baterista TJ Orscher. Daí já conquistaram fama no MySpace (peso de ouro, hoje em dia), apresentações curtas e bem cotadas mais uma turnê ao lado dos veteranos Manic Street Preachers.
São de um rock anguloso, com pegada eventual na percussão que lembra (bem de longe) o Vampire Weekend e um pé no psicodélico, mas sem o mofo do gênero. Para ouvir: "What a drag" e "Long lean queen".
No dia anterior, com uma vibração mais etérea e abençoada pelo clã do TV On the Radio, tocou o duo Telepathe. Compenetradas e competentes, Melissa Livaudis e Busy Gangnes sobem ao palco para assumir sua parafernália, de sintetizadores, percussões artificiais e bateria eletrônica sem meias palavras.
O ambiente faz cama para as vozes das moças, em um pop conceitual que é mais poderoso ao vivo do que no seu primeiro disco, Dance mother, lançado este ano. No palco mostram bem porque estão ganhando fama com músicas tão "difíceis": evoluem da esquisita "Chrome's on it" à densa "Lights go down" sem deixar a bolacha cair. Os adjetivos não ajudam, mas é um show que vale a pena ser enfrentado.
O destaque maior da Ponte, porém, ficou para a primeira noite, com o Chairlift - trio que, de certa forma, mescla características das duas bandas amigas.
Importados no Brooklyn (são originalmente do Colorado), os músicos já estão com um pé fora do circuito indie: lançaram disco (Does you inspire you) por grande gravadora e viram a faixa "Bruises" se tornar hit instantâneo ao ser adotada como música-tema de um comercial de iPod em 2008. Nada mal.
Mas o Chairlift vai muito além dos predicados comerciais. Vejamos. Mesclam o indie pop esperto a espacialidades eletrônicas, trazendo os anos 1960 para 2009. A animação é simpática, mas com verve moderna, no dueto da vocalista Caroline Polachek com a voz grave e subutilizada do guitarrista Aaron Pfenning (que tocou vestindo camiseta do Sepultura).
Os duelos entre os dois, não só na voz, é o que dá charme à apresentação. A briga também é boa na guitarra dele versus o agogô dela - tocado de jeito tão frenético que a baqueta explodiu no meio do caminho. Daí se fazem pérolas, que ora dispensam a bateria, ora o teclado, como "Evident utensil", quase cafona, a ecocertíssima "Planet health" e "Territory", cheia de uivos.
Estes produzidos pelo gogó privilegiado de Caroline, capaz de notas e potência ao vivo que, rapaz!, não se imagina ao ouvir as gravações. E faz dela, cria de Kate Bush, uma cinquina brilhante no bingo do Brooklyn.