Poison on The Rocks
Luciana Toffolo pega o padre Marcelo Rossi pra Cristo e ordena: conheça a Patife Band!
Com mais de 700 artistas, a Virada Cultural deste ano em São Paulo já entrou pra história. Pelo menos para a minha. Em um auditório com capacidade para pouco mais de 100 pessoas, pude assistir a um show da saudosa Patife Band. Sem correria por ingressos, sem filas, apresentação começando exatamente no horário marcado, acústica excelente - ainda que os perfeccionistas sobre o palco discordassem de mim - melhor entrosamento entre os músicos que eu vi nos últimos, pelo menos, 100 shows em que estive, inteligente sem ser pedante, musicalmente perfeita sem ser virtuosa, equilibrada, punk, visceral e doce, tudo ao mesmo tempo. Em resumo: show que não se pode perder.
E aí eu relembro: "em um auditório com capacidade para pouco mais de cem pessoas..." e sinto uma profunda melancolia. Não é que os organizadores subestimaram a quantidade de fãs da banda. Não. Lembra que eu disse "sem correria por ingressos, sem filas"? É que este é mesmo o número de pessoas a fim de ver um dos projetos mais interessantes surgidos no país. Uma pena. Mais triste ainda é se dar conta que não necessariamente isso tudo significa que poucas pessoas conheçam a Patife Band. Não. Excetuando-se os casados, com filhos, perdidos por aí, daquela geração enérgica de que fiz parte, o resto pouco se interessa. E tampouco passou adiante a mensagem: conheça a Patife Band. Então me valho deste espaço para dar meu recado solidário-artístico Poison de hoje: conheça a Patife Band. Ela é liderada pelo irmão do Arrigo Barnabé, cazzo! E veja o que vinte anos fazem com conceitos, crenças, música, arte. E compreenda por que NXZeros, Fresnos, MC Créus e Mulheres Melancias, Moranguinhos e Jacas não estavam no script. E tente me explicar o que houve, vou adorar tentar entender.
Poison on the rocks
patife band
Para ajudá-lo no processo: no final de semana passado, Padre Marcelo Rossi reuniu 1 milhão de pessoas em um show com Xuxa, Hebe Camargo, mãe da Isabella (sorte do acaso. Pro Padre, vale dizer.), Ivete Sangalo e outros dos nomes que mais vendem (qualquer coisa) neste país (até a Isabella, pense bem). Um milhão foi o número dos que ficaram do início ao fim no evento, intitulado "Paz Sim, Violência Não". Os que só deram uma passadinha somam 3 milhões. São 2.999.900 mais pessoinhas que no show da Patife.
Eu te pergunto: está certo juntar religião, oportunismo e "celebridades" para vender qualquer coisa? Uma idéia, um produto, uma pessoa? O resultado não pode ser perigoso demais? Lavagem cerebral, falta de discernimento, rebanhos guiados para um fim comum qualquer que não incluem a totalidade da população? Só eu me lembro de atrocidades advindas de tal combinação?
E o pior: não é tudo muito ridículo? Por que é que alguém sai de casa para "vigiar" a casa da família da Isabella? Pelo mesmo motivo que sai para ver o Padre Marcelo e suas celebridades ditando a torto e a direito o que não fazem em casa? Porque não tem vida própria e precisa de um sentido qualquer para enfrentar a realidade como ela é? E quantas dessas pessoas são as mesmas que ouvem o MC Créu, as músicas de duplo sentido, espancam filhos, mulheres, fofocam na rua, desejam o mal, invejam, basicamente violam todos os dez mandamentos? Se não fossem muitas, MC Créu não seria famoso, filhos não seriam trucidados, maltratados, abusados, jogados pela janela e o mundo seria um lugar melhor. E não precisaria de um show com um monte de gente que finge que é na frente de outro monte que tem certeza de ser.
Pessoas sinceras com si mesmas se resumem a 100?
Certo não está, essa pergunta eu mesma respondo, mas o que houve no meio do caminho? Onde estávamos aquela centena de pessoas e eu que não nos deixamos levar? E você, que apito toca? Acha-se juiz de alguma coisa ou tenta cuidar, aos trancos e barrancos, da própria vida?
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DOSE EXTRA!
Atendendo a pedidos, aqui está a Dose Extra de Veneno, espaço reservado aos internautas do (o), que enviam missivas nem sempre educadas à colunista. Por que será, hein? ;-P
Sobre Pílulas Venenosas II - coluna de 24/03/08
Por Eduardo Moraes
Oi Lu!
É a primeira vez que escrevo pra você, mas já acompanho sua coluna no Omelete já tem um tempo, Adoro seu jeito de escrever, me faz rir bastante, principalmente quando tu dá uma resposta para algum mala que não gostou do que tu disseste.
Mas indo logo ao assunto, eu queria dizer que pelo menos o encanto pra mim não passou, não baixo CDs pela Internet, sempre espero chegar às lojas pra comprar. É claro que às vezes dá aquela curiosidade, mas eu me controlo e muito! Acho que é isso mesmo que acaba faltando, o encanto do mistério das músicas novas do seu artista favorito acaba sendo quebrado porque ouve-se o CD primeiro pela Internet então não tem mais por que ir com aquela expectativa na loja, afinal nem o preço do produto mais te deixa contente de adquirir...
Pra terminar só queria dizer para os fãs da Britney Spears não ficarem zangados com o que tu dizes sobre a Britney... Acho que só estás expressando tua opinião e pronto. Sou fã de Britney Spears e gosto dela de verdade, ninguém vai mudar minha opinião sobre ela e também não preciso defender as acusações a ela feitas, nem ela mesma o faz... Apenas continuem gostando, ou não (como diria Caetano), da música da moça ou da própria.
Um grande beijo pra ti, Lu.
Eduardo
Resposta
Olá, Edu, tudo bom?
Legal que você acompanhe a Poison e tenha escrito. Adorei!
Agora, puxa, é difícil acreditar que ainda exista alguém que espere pelo lançamento de um álbum. Bacana, isso, hein? Lembro que era um sofrimento pra mim, mas um sofrimento muito bem recompensado quando depois de meses tinha acesso ao trabalho dos artistas que gostava. Legal, ajuda a manter o interesse, né?
Quanto à Britney, que bom que você entende... É assim com tudo o que digo na Poison: apenas minha opinião, nada de verdade absoluta ou regras a seguir.
Obrigada pela mensagem e escreva sempre!
Beij(o)
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Sobre Pílulas Venenosas I - coluna de 18/02/08
Por Paulo FerreiraFinalmente alguém viu o mesmo que eu!!!
Sempre fiquei confuso, me achando estranho por ser um dos únicos que não via essa lenda toda em Kurt "asshole" Cobain.
O simples fato do cara meter uma bala na cabeça porque não agüentava a pressão da mídia já deveria ser motivo o suficiente para duvidarem da vocação desse cara para ser lenda, deus, mito ou qualquer outra coisa. Mas mesmo assim o culto à imagem desse cara foi crescendo de maneira assombrosa.
A música com certeza foi um marco, os riffs, as batidas, resgataram um pouco da simplicidade do rock, deixando um pouco de lado a virtuose em prol de um som mais orgânico. Ok, mas até ai, nada que justifique a legião de fiéis a Kurt, veja bem, A KURT não ao Nirvana.
Quebrar instrumentos, quebrar quartos de hotel, viver "intensamente" sob o efeito dos mais variados barbitúricos, tudo isso já havia sido feito por um sem número de músicos, alguns muito mais inovadores que ele. Mas mesmo assim se atribui a esse rapaz o mérito por esses "feitos".
Cansei de ouvir e ver show do Nirvana pra tentar entender de onde vinha essa adoração, qual era a quintessência que fez desse cara um mito.
E confesso que nunca vi nada de mais... E ficava me perguntando: "Será que só eu não vejo tanta graça assim?"
Enfim, em termos musicais, o NIRVANA escreveu seu nome na história, mas Kurt Cobain não é digno de toda essa paparicação.
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Criticar a Amy porque usa drogas? Você colocou bem: se todo músico viciado em alguma droga não pudesse receber um prêmio por seu trabalho, nem existiriam prêmios de música. Aliás nem existiria música direito.-----
Foi-se o tempo (não tão longínquo) em que se podia assistir a bons show de música a preços cabíveis... Podíamos chegar na hora do show e encontrar ingressos, ficar menos de duas horas na fila, realmente pagar meia-entrada quando se é estudante...Essa Poison apreciei com calma, ingerindo cada gole bem devagarzinho... E o resultado é ácido!
Beijos,
Paulo
Resposta
Kurt Cobain era um bom compositor... Foi como falei na coluna, como mito Cobain era um ótimo músico. E só. Eu também tinha a pulga atrás da orelha, mas não tinha muito como ter certeza se era apenas intuição... Depois de ver o filme e ouvir o próprio falando aquele tanto de asneiras, consegui embasamento.
Outra coisa que ajudou o Nirvana foi o momento em que ele estourou. Naquele instante, eles não eram só mais um, eles eram os únicos. Os únicos que faziam rock e falavam com milhões de pessoas. Naquele momento, o rock passava por um ostracismo violento e se você não chafurdasse para ir atrás das bandas alternativas, não tinha acesso a nada interessante.
Mas sim, o Cobain tem seu mérito, apesar de não inovar grandes coisas. A geração dele é que não tinha mito.
Shows? Faz tempo, hein?
Beij(o)
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Sobre CSS, Bonde do Rolê e Foo Fighters - coluna de 29/12/07
Por Charles Morphy
Olá, Luciana!
Acabei de ler sua última coluna do Omelete.
Sensacional! Não sei como alguns colunistas insistem em considerar bandinhas como o Cansei de Ser Sexy e o Bonde do Rolê algo digno de nota. Eu não agüentava ler os textos do Lúcio Ribeiro falando maravilhas do tal CSS! A Rolling Stone também faz a mesma coisa. Só não dão a capa para eles pq NINGUÉM compraria a revista...
Em novembro, eu estava em Buenos Aires. Quando cheguei à fila de embarque para o Brasil, lá estavam todos os CSS... Tudo bem que cada um deve se vestir como quiser, mas a Lovefoxxx estava com uma roupa de Emília absolutamente ridícula e o Adriano Cintra, em um figurino tão absurdo quanto, usava um óculos escuros de estrela, com o aro verde! No aeroporto! Ah, é demais p/ o meu gosto. Se eles ainda tocassem ou cantassem alguma coisa, vá lá!
Eu não detestava Trapalhões quando era mais novo (como você), e acho até que alguns dos filmes antigos dos caras são clássicos trash brasileiros, mas a comparação do CSS é descabida. Os Trapalhões queriam fazer o público rir e não ficavam rindo entre eles, com piadinhas internas...
Que 2008 enterre de vez esses babacas medíocres. Ou que, pelo menos, eles desapareçam do Brasil.
Abraço e bom 2008!
Charles Morphy
Resposta
Oi, Charles!
Tudo bom?
Existe uma carência de notícia, especialmente do cenário musical brasileiro... Mas acredito que exista muita preguiça também, afinal a onda de festivais independentes nunca esteve tão forte e muitas bandas que tocam nestes festivais devem ser mais dignas que essas duas aí. O lance é a gringolândia ter abraçado, aí realmente fica "como assim, vc não gosta? Deixa de ser do contra..." Confesso pra você que de primeiro eu tentava ler tudo relacionado a essas bandas com bons olhos, mas um tiquinho de olhar crítico já afasta qualquer possibilidade de eu simpatizar com os caras... Pombas, veja os trechos que eu coloquei ali na coluna, é de matar, não é?
Lamentável esse episódio do aeroporto, né? Mas até aí, cada um que se vista como quiser... É que em se tratando de quem é a coisa fica mais difícil de engolir.
Gostei do adendo relativo aos Trapalhões. Pelo menos a preocupação de dividir a piada os caras tinham...
Grande 2008 pra você também! Volte sempre.
Beij(o)
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Sobre Pílulas Venenosas II - coluna de 24/03/08
Por Carlos Magno
Poxa, por essa eu não esperava, vc implicando até com o penteado do Sayid, lá de Lost? É notório q a chapinha fez muito bem a ele, antes ele parecia o Luiz Caldas.
Concordo com vc q o estrelismo de determinadas bandas não condiz com o comportamento delas no passado, mas tudo muda minha cara, tudo muda! Se for comparar o cenário musical de hj com o de antes, o q vc encontra q tanto te incomoda, Luciana? Gostaria muito de ver a sua resposta... acredito q vai ser muito boa!
Nasci nos anos 80, época bacana musicalmente, adorei a evolução até aqui, alguns dos artistas q apareceram nestas duas últimas décadas têm muito valor. Com o passar dos anos, uns melhoraram, outros pioraram... Madonna é um excelente exemplo, a qualidade de sua música melhora a cada disco, e quanto mais o tempo passa, melhor ela fica!
Mas EU acho q o mau exemplo do comportamento crazy do rock e de tudo mais no passado só serviu pra levar pessoas muito talentosas à morte muito cedo,e por isso, deve continuar no passado! E até me assusta vc sentir saudade da doidera q era antes, acusando a música de hj ser chata, repetitiva, q sente saudade dos roqueiros birutas, pinguços e drogados de antes, esquecendo q tem muita gente talentosa no pedaço, e muitas vezes, bem mais doidos do q antes, e vc sabe disso! Por isso, não perca a esperança! Mas claro q o comportamento deve ser separado do talento, pq os jovens, montando suas bandinhas nas garagens por todo o mundo se espelham em tudo q seus artistas prediletos mostram na qualidade do seu som, na personalidade, inclusive no comportamento, q de longe deve ser seguido como exemplo! E se vc tem filhos ou irmãos menores, sabe q isso é assustador!
Gosto muito de vc, guria, e de tudo o q vc fala, sua pegada é muito boa, vc entende do q fala como eu jamais vi, maaaaasssss.... fico me perguntando... será q se tudo mudasse para o q vc realmente acha ser bacana, vc ia parar de criticar? Será q vc não iria arrumar mais algum problema? Sinceramente, tomara q sim! Não quero deixar de ler o q vc tem a dizer sobre música, pois, bem ou mal, eu criticando é uma coisa, agora vc criticando são outros 500... rsrsrrsrs
Abraço, Lu
Carlos Magno - Cacau.
Vila Velha - ES
Resposta
Oi, Carlos!
Não entendi sua pergunta... O que encontro hoje que me incomoda tanto? 99% do que ouço?
Madonna é um ótimo exemplo de evolução, mas tem gente que fica parado no tempo ou já nasce "passado". Eu não tenho saudades das drogas ou algo parecido de antes, tenho saudades da atitude, do inconformismo, da rebeldia. Rock ´n´roll sempre foi assim, se ficar certinho demais vira música gospel, numa boa.
Não, nunca haverá algo a não ser criticado. Mesmo coisas boas têm lados ruins... Fica frio que a Poison - em teoria - tem vida longa.
Beij(o)