Poison on the rocks
Obama eleito e eu quero parar de fumar!
Ai, ai, ai... Eis que surge um novo Jesus Cristo melhorado, afinal, ainda por cima, ele é negro! Barack Obama veio nos salvar. Isso mesmo. Não apenas vai salvar o país no qual foi eleito - que há muito está mal das pernas e, em minha opinião, impossível de ser salvo - mas também o mundo. É o que senti quando vi comemorações por todos os cantos do mundo na hora em que ele foi declarado oficialmente o vencedor da eleição. Foi um misto de "ganhamos a Copa" e "ressuscitaram John Lennon".
Barack Obama
Poison on the rocks
E todos os cantos inclui o Brasil, cuja imprensa cobriu tão intensamente a eleição estadunidense, que por um momento pensei que estivesse em Nova York. Até que... olhei pela janela e vi os mesmos antigos problemas brasileiros logo ali, com o acréscimo do nosso próprio furação Katrina. Tão forte está a intenção de transformar o que houve em Santa Catarina em Katrina, que as pessoas chegam a trocar os nomes. Agora resta esperar que Obama venha nos salvar, a nós, aos catarinenses, aos do sertão nordestino... Afinal, ele é capaz de tudo, ao que parece.
Eu não sei se é mais ridículo ver Will Smith admitindo que votou pela primeira vez ou assisti-lo confessar que está "quase chorando novamente" ao se lembrar, quando entrevistado por Oprah Winfrey, do momento em que Obama foi anunciado o novo presidente. Enxergo dois pontos graves nisso tudo:
1. Qualquer coisa seria melhor que Bush, portanto Obama foi uma escolha lógica. Tudo bem que há muito os Estados Unidos não são exatamente lógicos, a terra do faz de conta, mas para nós, os sofridinhos - mas mais conscientes - do Terceiro Mundo (ou seja lá a alcunha que temos hoje), era como somar dois mais dois. Moral da história: aplaudamos o surto de lógica estadunidense e rezemos para que perdure.
2. Agora, Smith e Oprah, dois negros donos de dois dos maiores salários dos Estados Unidos, estavam comovidíssimos por um negro chegar à presidência!? Deus do céu, que espécie de preconceito é esse? Por que, num país com tantos negros em posição de destaque, ainda é surpreendente que um deles seja o novo presidente? Eles, que sempre lutaram em se desvencilhar da imagem "somos bons apenas em entretenimento e esportes" também estavam surpresos com a façanha de Obama, um cara formado em Harvard, inteligente, coerente, dono de um ótimo discurso, agraciado por um bom momento. Fica a pergunta: estão mais felizes por terem eleito um homem capaz ou por terem eleito um negro?
Fato é que desejo
muito boa sorte a Obama. Porque de norte a sul do mundo a expectativa é grande, gigante, uma espécie de
punição por ele ter conseguido ser eleito. Agradar a todos vai
ser missão impossível, mas se cabe um pedido brasileiro na lista,
peço que ele não se esqueça dos assuntos ambientais, assim a gente não
tem de enfrentar outros Katrina sob o comando de alguém que definitivamente
não é Jesus Cristo.
E enquanto isso eu tentava parar de fumar. É um plano antigo, mas esta é a primeira vez que tento de fato. Penso na indústria do tabaco. E penso que Deus tem um senso de humor muito peculiar. Pra que diabos criar um troço que vai matar sua cria? Ou o tabaco tem outra utilidade e eu não sei? Mas falávamos da indústria tabagista... Eles não são os maiores culpados. Não! Os culpados são os que permitem que a qualquer vacilada minha, comprar um maço de cigarros seja mais fácil que botar uma carta no correio. Os que encaram a maconha (pra me manter no lugar-comum) uma droga cuja venda deve se restringir a lugares inóspitos da cidade, ponto de vista bastante diferente quando o assunto é cigarro ou o álcool. Engraçada a coincidência de ser permitido apenas aquilo que rende tanto dinheiro aos cofres públicos. E que as campanhas antitabagismo tenham começado a ser veiculadas apenas quando cuidar de tanta gente debilitada por doenças de cigarro começou a se tornar algo muito caro.
O importante é ser
forte. É você contra você mesmo. É tentar pensar racionalmente quando tudo indica que a última coisa que resiste à humanidade é
a razão. É tentar se convencer de que parando de fumar, você não
só vai viver muito mais, como vai viver melhor. E tentar não pensar
nos males de viver numa cidade ultrapoluída, na industrialização
dos alimentos e seus conservantes, adoçantes, etc. Emburrecer-se. Por você.
Como se a realização de todos os seus desejos dependesse apenas de
ter de provar a Deus, o irônico, que ahan, você tem sim vontade de viver
mais, e, pedir em contrapartida que, por favor, isso tenha algum tipo
de recompensa. Mas aí... Bom, aí voltamos
ao período em que eu ainda fumava: só Deus sabe. Em outras palavras,
bem-vindo à não garantia de nada na vida. Sabe aquela lenda da velhinha
de cem anos fumante que viveu mais 15? Pois então, nem sempre é lenda.
Mas a provável última
Poison do ano termina feliz (mesmo com todo o supracitado, juro!), apesar
de ressabiada. O Radiohead finalmente virá ao Brasil. O "ressabiada"
pode ser traduzido como um pé atrás em relação à venda de ingressos.
Será que vai ser mais uma daquelas sagas que faz com que a gente perca
a vontade de ir ao show, ou será que (a esperança é a última que
morre!) os organizadores aprenderam alguma coisa com, para ficar apenas
nos grandes, Madonna e U2? Ou, pior dos piores, será que a procura
será tão baixa que não importa que a organização seja uma nháca?
E isso sim seria motivo de desânimo total... Depois de tanto torcer
pela boa música, rezar pela vinda de uma ótima banda, ter de ver ingressos
- a preços razoáveis - sobrando, seria de matar...
Aguardemos. O futuro
é negro, mas, contrariando o preconceito verbal, pode ser muito, muito
bom.
DOSE
EXTRA!
Atendendo a pedidos,
aqui está a Dose Extra de Veneno , espaço reservado aos internautas
do (o), que enviam missivas nem sempre educadas à colunista. Por que
será, hein? ;-P
Sobre
Pílulas Venenosas III - coluna de
14/10/08
Por
Lucilo Thomé Neto
Lu,
"O show que não estava lá", esteve, por alguns instantes, prestes a ser cancelado da minha cabeça. Rs.
Como bom ex-músico que se presta, te digo: show cancelado é frescura, em 100% dos casos. Ou ganância, claro. Falta de procura de ingressos nunca limitou banda alguma de fazer show. Não fosse isso, nunca teríamos ouvido falar dos "fracassos de público".
Sabe... eu dei graças aos céus quando o Nine Inch Nails cancelou aqui em Porto Alegre. Claro, fiquei com raiva, pois tive que correr muito atrás de informações corretas sobre o cancelamento. Achava que era balela. Mas não era. Vagabundos, só porque a cidade não queria ir, eu também não queria? Enfim... eu estava devendo um ingresso pra uma pessoa. Teria que pagar em dobro. Afinal, não é qualquer um que ganha ida pra SP pra ir ver MUSE e não tem que pagar de volta, com NIN. Hahahahahaha! (Sem graça).
Enfim... eu já toquei bateria por alguns anos. Começou como "coisas de guri". Quando me dei conta que gostava de som mais pesado e minha bateria precisava ser maior (ó, Freud explica), comecei a ter "problemas técnicos". Digo: PREGUIÇA. É o que eu acho. Show cancelado é 100% frescura. Já fui pra Curitiba tocar pra 20 pessoas. Já fui pra Florianópolis tocar pra 15. E SP, tocar pra 30. É uma droga, mas acontece. Bola pra frente. Só acho que nenhuma banda respeita fã algum. Simplesmente porque não se cancela um show por "falta de procura". Conheço MUITA gente que queria ir. Enfim. Voltamos à ganância das bandas. Claro que eles querem dinheiro e serem pagos pela tour. O show de Porto Alegre, se tivesse acontecido, aposto que só teria trazido prejuízo. É assim. Não são todos, como eu, que se contentavam em ganhar o valor da passagem de volta e mais umas cervejas. Hehehehehehe! (Que desgraça).
Ou tem gente que acha que tem banda que lança vários CDs inúteis como "Coletâneas" e "Ao Vivo" só porque tá no contrato com a gravadora? Tem banda que sabe que os fãs babacas compram CADA CD. (Não fosse isso, minha coleção Ramones não teria quase 50 CDs. Embora eu nunca tenha contado).
Enfim, Lu. É uma desgraça.
Eu tinha algo pra falar nesse e-mail, e esqueci.
Que bom que tu me respondeu o outro e-mail. Fico agradecido! Noto que tu não seria uma banda que cancelaria o show só porque teria apenas UM ouvinte. Hahahahahaha! (Que graça).
(É por isso que ouço bandas completamente desconhecidas do grande público, como Isis, Explosions In The Sky, Sigur Ros, Mogwai, Godspeed You! Black Emperor. (Se tu fores atrás delas, não iria te arrepender, embora eu não tenha perguntado se tu conheça ou não. Rs Enfim...
Sabe o que me irrita? Ver essas as músicas dessas bandas "desconhecidas" sendo usadas nas vinhetas e como tema de fundo das matérias "cults" do Fantástico. Eles devem pensar que todos ouvimos Ivete Sangalo, tomando suquinho de laranja e esperando o lançamento do Leandro e Leonardo. Hahahahahaha! É fogo.)
Beijo!
Resposta
Putz! Se deu benzão na aposta, hein?
Maldade...
Adorei sua interpretação de problemas
técnicos. Hueheuehueha. Ali deve ter rolado, no mínimo, uma baita
má vontade por parte da banda, sem dúvida. O punk é que eles se definem
tão respeitadores dos fãs, tão liberais, tão francos, e não falam
o que aconteceu na real. Juro que eu preferia ler "tivemos preguiça"
a "problemas técnicos", mas... artista é artista.
Haja! Nem eu tenho tanto Ramones! (isso
sim é uma desgraça, a pobreza... rs)
Poxa, ainda bem que você esqueceu,
hein? Se tivesse lembrado, daria umas 30 laudas de mensagem... ;-P
Claro que não cancelaria... Aquele
um me deu ouvidos! Ele merece!
Conheço algumas das que você mencionou
e algumas me arrependo de conhecer, sim.
Beij(o)!
Lu
*-*-*-*-*
Sobre
o Coringa - coluna de 19/08/08
Por Dyego Figueira
Bom dia, Luciana.
Li sua crítica a João Pereira Coutinho.Parabéns, por ter rebatido uma crítica tão injusta e preconceituosa ao filme e aos fãs.
Grande profissional você é.
Parabéns novamente.
Dyego
Resposta
Oi, Dyego, obrigada.
Foi pelo teor da crítica do Coutinho que me senti impelida a escrever. Parece que falei o que bastante gente queria ouvir. Fico feliz pelo desabafo coletivo.
Obrigada de novo e beij(o),
Lu
*-*-*-*-*
Por Ramon Marques Coutinho
Olá Luciana... li seu artigo no Omelete sobre as críticas feitas pelo dito cujo...
Apesar de ter o mesmo sobrenome, não o conheço nem li sua crítica, mas se ele leu a sua deve estar bufando de raiva...hhahah
Mais uma vez parabéns! Muito inteligente... coeso... justo!
Grande abraço,
Ramon Marques Coutinho
Resposta
Opa! É da família! ;-P
Obrigada pela mensagem, Ramon. Espero continuar agradando.
Beij(o)!
Lu
*-*-*-*-*
Por Alexandre Carlos
Aguiar
Hi, Luciana
Como disse um comentarista aí, vale a pena esperar pela sua coluna, que como jóia preciosa nos satisfaz pela raridade. Esse é o ponto: aguardar pela coluna de Luciana Toffolo não tem preço. Hehe
Bom, talvez por ser fã de Batman, um dos primeiros quadrinhos que devorei na minha infância e depois por assistir às "divertidas" aventuras de sábado à tarde pela TV, daquele Batman azul-petróleo e seu Robin amarelo cocada, dirigindo o Batmóvel do Roberto Carlos, não gosto quando há uma crítica contrária ao personagem. Mesmo com aquele Batman clubber de Val Kilmer queria respeito nas críticas. Coisas de fã, sei lá. Aquele negócio que Freud explica muito bem. Hehe
Batman, o bom Batman das HQs, é algo entre Drácula e Frankenstein, sugere terror, maldade, cinismo, violência sem escrúpulos. É o sujeito que subverte a ordem sem ser justiceiro implacável, a solução final. É diferente do adolescente Homem-Aranha, que procura seus objetivos entre a espremida de uma acne ou outra. Ou do resolvido Superman-arrasa-quarteirão, em que não tem conversa e é ele quem manda mesmo. Batman é o sujeito adulto, com defeitos e virtudes, homem, que procura um canto para ser feliz.
A versão de Batman para as telas pela mão de Christopher Nolan veio sacramentar esse personagem. Não tem nada de alterego sexista, ou coisa que o valha. Ele engendra, isso sim, uma análise do que vai em nosso mais profundo inconsciente, naquele canto que só o espelho do banheiro conhece e, às vezes, nem nos conta. É a maldade absoluta travestida de maldade permitida, mas não a de fazer o "mal cristão", ser assassino, desumano, mas a de tomar decisões neandertais, de primitivismo tácito, buscando aquele sujeito que vivia lá nas cavernas. É uma maldade atávica sem culpas a que existe em Batman.
Aí surge um cabra que eu não conheço (quem é esse Coutinho?) a dizer que meus gostos e preferências são uma extensão de minha suposta impotência? Fala sério! Sinceramente, não vou fazer exposição de minha figura, como dizem os muçulmanos, mas tenho cá os meus predicados, que não são nem para o Batman e nem para o digníssimo Coutinho. Há quem goste, como dizia a Dercy, e nesse caso não tem pêlos na cara.
Em minha profissão temos uma máxima que é a seguinte: você pode criticar um argumento, pode levantar as hipóteses mais necessárias e tendenciosas possíveis, pode revirar a tripa do bode como quiser, mas tem que ter fundamentos. Falar por falar, para fazer jus ao salário é ridículo e tem vida curta. E, às vezes, parece falta do que fazer. O "seo" Coutinho, no mínimo, já pintou as paredes do apartamento. É hora de pintar o rodapé.
Aguardo pela sua próxima coluna, nossa jóia rara.
Bjs,
Alexandre Carlos Aguiar
Resposta
Hahahhahah, não exagera, vai.
Adorei sua descrição de cada perfil
dos super-heróis. Muito perspicaz, e consegui entender por que eu gosto
do Batman, aprecio o Homem-Aranha e acho o Superman uma mala sem alça.
Mas admito, não tenho conhecimento profundo acerca de nenhum.
A próxima foi escrita hoje, vamos
ver se será aprovada. ;-)
No aguardo de mais mensagens, beij(o),
Lu
*-*-*-*-*
Sobre a Poison
Por René Descartes
Santos Guimarães
Oi, Luciana!
Primeira vez que leio sua coluna (19/08/2008) e depois de ler todos os seus textos tenho que dizer que a "senhora" é uma ótima escritora.
Sua coluna é diferente de quase tudo que eu já tinha lido antes, e justamente por ser diferente, ela é "odiada" por todos os iguais. Mas não por mim, pois eu sou uma pessoa diferente, não apenas no sentido de criticar o que merece ser criticado (o que não merece críticas hoje em dia? Só Deus é perfeito), mas também como pessoa... Olhe.
Meu nome é René Descartes dos Santos Guimarães, tenho 18 anos, faço faculdade de direito (porque não tenho dinheiro pra fazer cinema - a vida é dura), moro em uma cidade da Bahia de que a "senhora" provavelmente nunca ouviu falar e, o mais impressionante, não sou fã de axé, forró ou qualquer outro ritmo musical que 99,9% das pessoas (principalmente paulistanos) atribuem à Bahia.
Exatamente por isso eu sempre sofri muito com pessoas que não me entendem ou com solidão por não gostarem das mesmas músicas que eu. Minha mãe sempre disse que eu devia ouvir o que os outros ouvem, mas eu não engulo axé nem que me paguem.
Mas eis que surge a Internet, e com ela, colunistas iguais à "senhora" concordando com (quase) todos os meus pensamentos. Tenho a mesma opinião que a "senhora" sobre o miguxês, sobre a pirataria (quase tudo que eu tenho é pirata, não tenho dinheiro para comprar original), sobre o filme Turistas e o povo brasileiro em geral, sobre o dia das mulheres, sobre o fanatismo, etc e tal.
Mas o que há de mais diferente em mim é o fato de eu não ser fã de nenhuma banda. Nunca tive vergonha de dizer que o que me interessa é a música, e não o cantor ou banda. Por exemplo: gosto de uma porrada de músicas dos Ramones, mas não sou fã da banda. Gosto de comédia, mas acho As Branquelas uma porcaria sem tamanho. Deu para entender? Isso permite que eu curta a música sem ser igual a um destes b$*&@#s que lhe xingam de tudo que é nome sujo só porque você falou uma bobagenzinha qualquer a respeito do Iron Maiden, Engenheiros ou qualquer outra coisa aí.
Confesso ser fã de várias músicas da Donzela (várias mesmo), mas por não ser fã(nático) da banda, não me senti na obrigação de te xingar, ou qualquer coisa semelhante. Até porque, a POISON é sua coluna, a "senhora" escreve o que quiser e não obriga ninguém a ler. Fico me perguntando qual a sua reação ao receber esses e-mails de pessoas sem o que fazer que são fãs de uma banda que, se ainda vive, é por causa do passado. Sim porque a Donzela não faz nada que preste desde o maravilhoso "Seventh Son of a Seventh Son", de 1988. Nem "Fear of the Dark" presta em minha opinião. Sobre o Engenheiros, não quero nem falar. Eu escuto alguma coisa que eles faziam, desde que seja de graça, pois se for pra pagar prefiro ouvir Hallowed Be Thy Name, do Iron Maiden. Pelo menos eu não tenho que pagar um centavo por isso, e Hallowed Be Thy Name sozinha é melhor do que qualquer coisa que o Engenheiros já fez. Fanatismo musical (e religioso) é uma coisa muito perigosa.
Espero que continue com sua coluna maravilhosa, pois enquanto ela existir, sei que não sou o único com críticas, idéias e opiniões.
PS: a palavra "odiada" lá em cima (desculpe-me pelo texto longo) está entre aspas porque por mais que falem que odeiam a POISON, ninguém para de ler. Já percebeu isso?
PS2: eu não sei quantos anos a "senhora" tem, mas com certeza é mais velha do que eu, então, por uma questão de respeito aos mais velhos, refiro-me a ti sempre como senhora, pelo menos até o dia que a "senhora" diga que posso me referir a ti como você.
PS3: minha colega de faculdade disse que a "senhora" é um homem que finge que é mulher. No começo não acreditei, mas aí bateu a dúvida e por essa dúvida a palavra "senhora" vem sempre entre aspas. Mas isso é só uma piada, um pouco de humor negro que não deve ser levado a sério. Por favor, não leve a sério.
Resposta
Oi, René. Estou até envergonhada
do tempo que levei pra responder sua mensagem. Desculpe-me.
A faculdade de direito é tão mais
barata que cinema? Olha que depois você vai ter que fazer cinema do
mesmo jeito, hein? Eu caí nessa e ainda não fiz a faculdade que gostaria
de ter feito quando tinha a sua idade. Acabou que trabalho mais com
assuntos relacionados a ela do que com aqueles relacionados à área
em que me formei...
Eu atribuo sons à Bahia, não aos
baianos... estereótipo é uma coisa doida, né? Sei que paulistas não
são tão benquistos por aí também, acho uma grande bobagem. A-ha!
Pera, pera... no parágrafo seguinte você diz que sua mãe pede que
vc ouça o que os outros ouvem, ou seja, os baianos ouvem axé! Então
posso atribuir o axé aos baianos também, além da Bahia... ;-P
Perfeito, René. Gostar da obra em
si e não do artista é o melhor caminho pra fazer escolhas e se sentir
livre pra quando precisar criticar duramente alguém. Qual é a minha
reação? A de alguém que espera causar alguma reação, seja ela qual
for. Evidentemente que sei o quanto a Poison pode ser irritante às
vezes, portanto, sei também o tipo de e-mail que estou arriscada a
receber.
Você não é o único, tampouco eu
sou. Tem coisas que, te juro, passam com a idade e, acredite-me, só
melhoram. Ter opiniões próprias vai valer a pena, garanto.
Não se refira a mim como senhora...
tem uma conotação tão mais velha do que eu me sinto de verdade, sabe?
Apesar de eu já ser uma sim, de 35 anos, praticamente, daqui menos
de um mês. Pode me chamar de você, de tu, de Lu, mas senhora é brabo.
Hahahahahhahahahahhahaha, por que eu
seria um homem? Porque tenho colhões? Peço à sua amiga que se explique.
Beij(o), fique bem e tranqüilo que
aqui a gente também já sabe que a Pitty é daí. Heueheueheuehehehehehhe.
;-P
Lu
Sobre
Pílulas Venenosas III - coluna de
14/10/08
Por
Luiz Niehues
Olá, Luciana!
Há tempos leio a sua coluna e queria escrever, mas sempre pensei em me manifestar quando o meu cérebro estivesse mais "desenvolvido" e eu pudesse dizer coisas mais úteis ou interessantes. Como talvez isso nunca aconteça, e já que eu também não poderia deixar o assunto passar, vou me arriscar assim mesmo.
1- É realmente frustrante essa avalanche de coisas (boas e ruins) que se pode fazer trancado num quarto hoje em dia. Tirando o computador, que já vale pelo resto, tem TV, DVD, mp3, livros, CDs, videogame, máquina fotográfica, celular e ainda a parede pra ficar olhando. Simplesmente não dá pra fazer uma coisa sem pensar em outras duas e olhando pra uma terceira. No fim, um negócio anula o outro e acaba sobrando disposição só pra olhar a parede mesmo.
Mas o que dá mais raiva é que tem gente que não entende o problema que isso causa e ainda vai causar. Os pais vivem dizendo: "nossa, como as crianças de hoje estão inteligentes. Meu filho de seis anos já me ensinou a mexer no mouse e trocar a musiquinha do celular". Provavelmente são derivações disso que eles estarão fazendo quando adultos. Minha professora de português de vez em quando fala, com muito orgulho, que a minha geração é a que mais tem informação disponível em toda a história. Como se isso fosse desculpa pra não ser burro. O que ela e algumas revistas semanais (que deviam ser atacadas na Poison) não entendem, é que entre informação e conhecimento há um abismo colossal. É a diferença entre um pedreiro e um engenheiro, um John e um Jason Bohan (neste caso, criatividade).
Eu, como estudante do 2º grau, posso te dizer com certeza que a escola contribui para essa alienação. Muitos dizem que o que se ensina é inútil. Isso não é verdade. Todas as 15 matérias do ensino médio têm utilidade. O problema é que são vários assuntos de áreas totalmente diferentes e sem nenhuma opção de escolha, colocadas juntas na cabeça de um pobre adolescente que nem sabe o que faz ali. Não tem como aproveitar o talento de uma pessoa dessa forma. Não há profundidade em nada, não há debate, não há reflexão. No fim, é tanta coisa que o aluno acaba não gostando de nada. Aí tudo fica tão inútil quanto a parafernália do quarto.
Não sei se eu posso dizer que a tecnologia também tem culpa, ou se isso só reflete a própria característica do ser humano quando vive em sociedade. Quer dizer, em todo lugar e em toda a história, a maioria sempre foi manipulada, e nunca o contrário. Só que antes era por falta de informação, e hoje, por excesso! Pelo menos antes, a cultura, nem que fosse aquela feita para poucos, se salvava. Hoje, nem isso.
2- Também na última coluna, um leitor, o Rafael Izzo, levantou um tema bem interessante (vou tentar não me alongar). Ele falou sobre a questão de ouvir o que se gosta e ser feliz assim, mesmo sendo uma porcaria. Eu também tinha raiva dessas pessoas, que vão num show de axé, por exemplo, e parecem cães adestrados ("bota a mão no joelho, agora abaixa, isso, rebola, rebola"). Mas não é questão de respeitar ignorância, porque eles não são ignorantes. É como você falou, todos nascem com as mesmas capacidades. O problema é a falta de contato com outras coisas mesmo. Talvez faltou um amigo, um primo pra mostrar algo diferente, músicas que falam melhor, que despertam outros tipos de sensação.
Também não concordo com esse negócio de bagagem cultural. Pelo menos não no caso da música. Que bagagem precisamos ter pra ouvir e gostar de Beatles, por exemplo? É simplesmente bom, muito bom. Isso pra mim é o grande trunfo da música. É o que faz dela a verdadeira, a mais pura das artes. É a única que não precisa de conhecimentos prévios pra poder apreciar. Não é como a literatura ou a pintura, em que precisamos saber do contexto da obra, da época, do estilo do autor,etc. A boa música, com uma boa melodia, atinge e emociona a todos.
Eu duvido que quem vá num show de adestramento humano desses faça o mesmo em casa. Ninguém coloca o CD no quarto, fica chorando, pulando e gritando o nome do "ídolo" pra vizinhança toda. É o que você disse, o que conta pra que ocorra uma reação assim num show é puramente a força da imagem. De ver o cantor, não de ouvir. Dá pra pular e chorar no quarto sim, mas com quem pensa primeiro na música e não no clipe.
3- Eu gosto de pensar que agora nós estamos passando por uma ressaca cultural. Isso porque a festa musical dos anos 60 e 70 foi tão boa e intensa que o mundo precisava de um cochilinho. O problema é que a dormência já durou demais. Do jeito que tudo caminha, acho que só com muita sorte o pessoal acorda. Talvez só precisamos de alguém que dê um chute inicial pra coisa ir em frente. Eu tô querendo montar uma banda. Quem sabe, né....
Abraços,
Luiz Niehues
Resposta
Oi, Luiz, não seja tão exigente consigo
mesmo! Escreva mais, adorei sua mensagem.
Pois é. Mas e a sensação de "estou
vendo o mundo passar e não tomando parte disso tudo" que dá? É
horrível. Não sei se é só comigo, que acho que a vida é muito muito
frágil e passa rapidamente demais, mas imagino que não. E é muito
ruim.
Tem razão... e eu acho bom! Pelo menos haverá destaque para os mais criativos, aos que pensam com a própria cabeça. Mas que é realidade que a geração de hoje tem mais acesso a informação do que as anteriores é verdade. E eu percebo que o resultado disso não é exatamente o desejado... talvez até mesmo porque as pessoas se sintam tão pressionadas, que se cansem só de pensar em fazer tudo o que esperam que elas façam. E concordo contigo em relação ao que é ensinado no colégio. Houve uma época, até mesmo antes de mim, que, no colegial, você escolhia mais ou menos a área em que iria atuar e as aulas eram voltadas a esta área. Era uma maneira de filtrar matérias que não são tão fundamentais pra certas pessoas e caprichar nas que são. Eu acho que tem coisa demais pra aprender e pouco tempo...
Bem colocado: música não precisa de conhecimento pra ser apreciada.
Mas quando a gente se envolve com a coisa um pouco mais profundamente,
acaba refinando o gosto, ou aprendendo a falar com mais propriedade
sobre como ela feita, e talvez, justificando o injustificável, explicando
por que uma é boa e a outra não.
Tava lendo uma entrevista de Patti Smith, que também espera que uma
revolução aconteça em breve. Espero que vocês tenham razão e espero
que você faça parte com a sua banda. Estamos precisando. Ou, mais
do que eu, a geração que tudo tem e nada quer...
Beij(o)
Lu