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Música
Artigo

Outkast: <i>Speakerboxxx/The Love Below</i>

Outkast: <i>Speakerboxxx/The Love Below</i>

LM
25.02.2004, às 00H00.
Atualizada em 06.12.2016, ÀS 16H06
Speakerboxxx/The Love Below - Outkast
5 ovos

O Outkast que você conhece hoje, embalado pelo estouro absoluto da faixa "Hey Ya", já vem sendo cultuado há alguns anos pelos apreciadores de rap e black music.

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Numa atitude corajosa, a dupla resolveu se separar mantendo-se unida. Não precisa reler, é exatamente isso aí que está escrito. Speakerboxxx/The Love Below é um álbum duplo, simetricamente dividido para que as duas personalidades que compõem o Outkast pudessem fazer o que desse na telha no espaço designado para cada um.

O Outkast pré-Speakerboxxx/The Love Below soava diferente justamente por fazer uma mistura jamais ouvida. Sempre atendendo pela alcunha de rappers, a dupla caminhava na contramão das diretrizes ditadas pelos defensores mais puristas. Enquanto o rap parecia estar cada vez mais à procura de sua sonoridade mais crua, o Outkast brindava os ouvidos com uma mistura mais inusitada, ampla, que permitia pitadas de soul, levadas mais aceleradas e a declamação de letras tão característica do estilo acontecendo em menor escala. Tudo isso sem jamais perder o respeito dos puristas e conseguindo envolver os apreciadores de black music tão somente.

O que se vê com maior clareza em Speakerboxxx/The Love Below são as subdivisões desse caldeirão. Speakerboxxx, o álbum de Big Boi, tende mais para o rap enquanto The Love Below, de Andre 3000, tende mais para o pop. A boa surpresa? Os dois artistas são tão geniais separadamente quanto juntos.

Big Boi é mais sério. Do encarte às letras das músicas. "Ghetto Musick" tem um sample de Patti LaBelle (Love, Need & Want you) tão bem encaixado que parece ter sido feito por encomenda. A música tem um ritmo alucinado e quando está atingindo seu pico dá uma belíssima acalmada. "The Way You Move", o primeiro single lá fora, é delicioso. O rapper dá uma relaxada e mostra que também tem suíngue. Killer Mike divide os vocais com Big Boi em "Bust", o peso volta às caixas, quase beirando o gangsta. "War", escrita pelo parceiro Andre 3000, traz a percepção do Outkast sobre os acontecimentos mais recentes envolvendo seu país, os Estados Unidos. Em "Tomb of the Boom" os vocais são distribuídos entre Big Boi, Konkrete, Big Gipp e Ludacris. Mediana, vale pelo embate entre os rappers. Outro ponto alto, "Knowing" tem aquela pegada que faz uma música tornar-se memorável, mesmo tratando de assunto pouco agradável.

Os dois lados da moeda

Speakerboxxx mostra logo a que veio. É objetivo, seco, não chega a inovar, mas é de uma competência técnica admirável. Big Boi parece ter mantido uma maior preocupação com o equilíbrio de sonoridades e tendências no decorrer da metade que lhe cabia. Digamos que Big Boi é a metade mais estrategista do Outkast, é aquele que come pelas beiradas. É o tipo do cara que pensa muito bem antes de sair cantando ...

... já Andre 3000 é o tipo do cara que canta, dança, compõe e depois joga tudo na mesa de som para ver se dá um bom caldo. Evidentemente, estou sendo ilustrativa. Mas que a sensação que se tem ouvindo The Love Below é que esse álbum foi feito com maior liberdade de criação, isso lá é verdade.

Andre 3000 faz um excelente contraponto à sisudez de Big Boi. A sacanagem está de volta. Ele abusa da versatilidade de sua voz singular para soar irônico, cafajeste, sensual e bom moço. Uma coisa de cada vez. The Love Below é mais homogêneo na temática, mais independente nas influências e participações. Andre 3000 incorpora o Prince do novo milênio e não tem medo de mostrar sua faceta mais pop. Já não era sem tempo dos americanos relaxarem. E a gente também. Música também pode ser simplesmente entretenimento, essa é a mensagem de The Love Below. O que não quer dizer que falte talento, longe disso. O estouro de "Hey ya" comprova que o mundo precisava de um respiro. A música é encantadora, daquele tipo que conquista o ouvinte descolado e também o fã da Beyoncé.

Em alguns momentos, The Love Below poderia descambar para o meramente pornográfico, mas aí entra o talento especial de Andre 3000. O máximo que acontece é um corar de bochechas e um sorriso safado no rosto. É só ouvir a sequência "Spread", "Where are my panties?" (!!!), "Prototype" e "She lives in My Lap" e também aceitar as indagações bem tipicamente masculinas de "Hey Ya", quando Andre 3000 já conseguiu tudo o que queria da sua "musa". Não dá nem pra ficar brava, o cara é envolvente, carismático, o típico "don juan" que a mulherada adora dizer que odeia, mas que sempre acaba caindo no conto.

"Pink & Blue", que tem um sample de "Age Ain´t Nothing But a Number", do R. Kelly (que assim como Michael Jackson também carrega acusações de pedofilia no currículo), traz um inspirado vocal de Andre 3000, numa baladinha irresistível. É inevitável lembrar de Prince e (por que não?) Marvin Gaye e os primórdios da Motown. "Take of Your Cool" tem a participação especial de Norah Jones, dando um toque de refinamento em The Love Below.

Speakerboxxx/The Love Below vale cada centavo gasto, não é à toa que está há várias semanas nas listas dos mais vendidos. Resta saber se o fenômeno "Hey Ya" e a atenção focalizada em Andre 3000 por conta de tamanho sucesso não vão funcionar como um desestabilizador de uma dupla que se completa e em que cada um sobrevive da existência do outro. No caso do Outkast, o ditado "ninguém é insubstituível" simplesmente não funciona. É esperar pra ver. Muitas bandas acabaram por menos. Por isso, aproveite enquanto é tempo!

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