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Música
Artigo

Os shows do Massive Attack em São Paulo

Os shows do Massive Attack em São Paulo

LM
01.06.2004, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H16

Fotos © Guillermo Guerini

É muito complicado traduzir em palavras o que a gente sente. Mais fácil seria dizer que o Massive Attack é uma banda "sensorial", do baixo cadenciado que mira direto no teu peito, passando pelos sussurros ao pé do ouvido, pela sensação de vazio depois de acompanhar uma letra de métrica primorosamente calculada à voz seca e potente dos vocais femininos escolhidos a dedo.

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Soturno, gestos contidos, planejado, peça encaixando em peça, balanço conciso, sombrio, visceral sem necessidade de toque, mínimo, imperfeito - e por isso insaciável -, um vício.

Pelos parágrafos acima é possível perceber o nível de expectativa. Não existe o gostar mais ou menos do Massive Attack. Ou você é envolvido, ou não. Melhor dizendo, ou se deixa envolver, ou não. Racionalismo passa longe. No meu caso, para saciar esses espaços todos escancarados e sedentos pelas sensações, estive nos dois dias de shows que aconteceram no fim de maio, no Via Funchal. Funcionou? Não fosse a ausência de um terceiro dia, talvez pudesse dizer que sim. Nunca vou saber. Por enquanto espero pelo próximo.

A espera e a solução imprevista

A idéia de aquecer o público é bem-vinda, desde que seja um aperitivo, não um show mais comprido do que o da atração principal. Para esse papel foram escalados os DJs Nuts e Pedrinho Dubstrong, que infelizmente correm o risco de ficar marcados pelo show de abertura mais longo de todos os tempos e não pelo set bastante interessante que apresentaram, embalado principalmente por trip hop mesclado com sons dos anos 80.

Após quase duas horas e meia de atraso, o Massive Attack foi recebido por uma platéia pra lá de inquieta. A irritação é compreensível. Em nenhum momento fomos avisados de que haveria um aquecimento, muito menos de que seria tão longo. O ingresso trazia impresso, preto no branco, 21:30. Era quase meia-noite quando os britânicos (eu acreditei na pontualidade, 21h estava a postos) pisaram no palco. Um disparate, certo?

Disparate percebido, solução às pressas programada para o segundo dia. Na terça-feira, público devidamente informado sobre o ocorrido no dia anterior, relaxou, jogou conversa fora, tomou uma cervejinha a mais. Prevendo que o show começaria no mínimo às 23 hs, começamos a entrar na Via Funchal por volta de 22:30 hs. O Massive Attack já estava no palco! Sem comentários.

Fica aqui registrada uma bronca na organização, tremendamente confusa e desrespeitosa.

O Show

O clima de banda multifacetada - devido às entradas e saídas de integrantes, às diferentes vocalistas convidadas que cantam em cada álbum, aos vocais que se revezam - esteve presente nos shows de São Paulo. Acrescente à receita uma iluminação caprichada, uma platéia totalmente integrada à proposta sonora de Robert "3D" Del Naja e um profissionalismo atualmente tão raro no showbizz e você está fazendo parte de um dia memorável. Ou dois. ;-)

O setlist do show foi praticamente o mesmo nos dois dias. Uma introdução ruidosa e inquietante recepcionava os artistas e sua chegada ao palco, trata-se de "Speed of Dark", até então desconhecida. "Angel", verdadeiro clássico do álbum Mezzanine, cantada por Horace Andy, dono de uma das vozes mais singulares da música, entorpeceu e arrastou para o palco todos os olhares que por algum motivo não se dirigiam para lá. Em seguida foi a vez do líder do Massive Attack, Robert "3D" Del Naja, balbuciar "Risingson", repetindo uma das seqüências mais bem construídas de um álbum. Acompanhando 3D, Grant "Daddy G" Marshall, membro original da banda que, mesmo não participando do último álbum, foi escalado para a turnê e, cabe dizer, fez muita diferença.

Horace Andy voltou ao palco para cantar "Spying Glass", música que geralmente não faz parte do setlist da banda. Boa surpresa. "Karmacoma", com vocais de 3D e Daddy G, fechou a seqüência mais "alto astral", passando a bola para "Bullet", outra desconhecida e barulhenta interrupção que serviu de abertura e contraponto para "Teardrop", originalmente gravada com vocais de Elizabeth Fraser (ex-Cocteau Twins), música hipnotizante, cuja força está exatamente no vocal excepcional. Entretanto, Dot Allison, cantora escalada para fazer as vozes femininas, postura antipática e voz que deixa bastante a desejar, quase enterrou a canção. Sorte dela que a platéia, totalmente entregue, não se fez de rogada e deu uma forcinha para que a gafe não fosse absoluta. Ok, no segundo dia, problemas técnicos de som sentidos no primeiro show foram resolvidos e Dot Allison pode mostrar que tem talento, mas mesmo assim, está a léguas de distância de Elizabeth Fraser (Mezzanine) e Sinead O´Connor (que participou do último álbum, 100th Window).

"Mezzanine" trouxe 3D, Daddy G e a energia de volta ao palco. "Hymn Of The Big Wheel", do primeiro álbum (Blue Lines), entoada por Horace Andy, fez todo mundo cantar em coro. Letra reflexiva, levadinha gostosa, talvez o momento menos "tenso" da apresentação.

"Antistar", de 100th Window e "Safe From Harm", de Blue Lines, fecharam o setlist inicial.

Para o bis outros dois petardos, "Inertia Creeps" (Mezzanine) e "Unfinished Sympathy", sucesso arrebatador nas pistas de todo mundo em 1991 e responsável por dar início à curiosidade pelo Massive Attack, que acabou se firmando como uma das maiores influências da música eletrônica na década de 90. "Future Proof", de 100th Window fechou as duas noites.

Apresentações excelentes, casa cheia, setlist estratégico, os britânicos mostraram por que o nome Massive Attack carrega tamanha aura de respeito e expectativa a cada novo trabalho, fazendo parte da elite da música eletrônica mundial e influenciando gente igualmente respeitável como Sneaker Pimps, Portishead e Tricky, ex-integrante da banda.

Para os que acompanham o grupo, a ausência dos telões que trazem mensagens de fãs conectados online e estatísticas sobre assuntos de inquietação mundial, como fome, AIDS e meio ambiente, foi bastante sentida. Contudo, é bom lembrar que o ingresso mais barato custava 80 reais. Quanto custaria se toda a estrutura acompanhasse os shows? Pelo bem, pelo mal, ficamos com a música. E essa foi de primeira qualidade.

Fotos gentilmente cedidas ao Omelete por Guillermo Guerini

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