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Os Bardos conduzem a Ópera

Os Bardos conduzem a Ópera

10.05.2002, às 00H00.
Atualizada em 10.12.2016, ÀS 08H06

Há pouco mais de um mês atrás, quando fiz a resenha para o novo single do Blind Guardian And Then There Was Silence eu dizia que ele era uma bela prévia de A Night At The Opera, que seria o próximo lançamento da banda. No entanto, depois de estar escutando A Night... de forma quase contínua desde ontem, preciso repensar o que disse então. Afinal, por melhor que And Then There Was Silence tenha sido, nada pôde me preparar de forma adequada para o som de A Night At The Opera. Depois de escutar o cd pela terceira vez, a pergunta que me veio à mente é: que diabos esses caras pensam que estão fazendo?

A primeira audição do cd causou-me um pouco de estranheza, não posso negar. Afinal, apesar de ser o mesmo Blind Guardian de sempre, a banda se reinventou desde o último lançamento, Nightfall At Middle-Earth, de 1998. De lá pra cá, a música do BG adquiriu mais elementos progressivos e melódicos além de ser um som bem mais trabalhado e complexo do que em seus trabalhos anteriores. Um pouco da agressividade apresentada até Imaginations From The Other Side foi perdida ao longo do caminho até o cd atual. Aliás, eu não diria perdida, mas sim substituída por novos elementos que fazem o som do Blind atingir subir um novo degrau em termos de qualidade sonora.

Se a primeira audição causa estranheza, a segunda causa um certo espanto, que faz você querer escutar o cd de novo. É meio estranho, mas fica uma sensação de incredulidade no ar, que gera a pergunta que fiz acima. Da terceira vez, no entanto, toda a estranheza e incredulidade são substituídas por uma certeza: não sei que diabos esses caras estão aprontando, mas espero que continuem assim. A Night At The Opera é um trabalho fantástico, pra dizer o mínimo, de fazer inveja a muitas das bandas que seguem o estilo musical do Blind Guardian. É até complicado tentar descrever as sensações que esse álbum passa sem parecer coisa de fã baba-ovo e manter a imparcialidade jornalística que uma resenha dessas exige. Mas não dá. O que os bardos - apelido carinhoso dado à banda pelos fãs - Hansi Kursch (Vocal), Andre Olbrich & Marcus Siepen (Guitarras) e Thomas Stauch (Bateria), acrescidos do baixista Oliver Holzwart, que vem substituindo Hansi na função desde Nightfall... fizeram nesse álbum supera as expectativas de qualquer um.

A Night At The Opera é aberto com Precious Jerusalem, que dá uma idéia do que está por vir. Linda, com seu peso e melodia balanceados, um refrão à altura da tradição do Blind Guardian e, definitivamente, um tremendo trabalho de bateria de Thomas Stauch. Em seguida vem Battlefield, pesada, rápida, com um refrão empolgante que deve ficar sensacional ao vivo. Se alguém no mundo do metal tinha alguma dúvida sobre a competência do gogó de Hansi Kursch, pode começar a mudar de idéia ao escutar essa música. É impressionante como ele tem evoluído musicalmente nos últimos trabalhos.

Under The Ice tem um clima bem pesado, com uma das introduções mais originais de toda a carreira do Blind. Cada música de A Night... tem um tema distinto, parte deles escolhidos pelos próprios fãs no site da banda. Under The Ice é o epílogo da história de Cassandra, mostrada em And Then There Was Silence, da qual falarei mais adiante. Sadly Sings Destiny traz uma melodia sensacional, com Andre e Marcus criando uma seqüência de riff’s pra lá de inspirada. A ela segue-se The Maiden And The Minstrel, uma balada que, de apesar de ser menos trabalhada do que as demais músicas presentes no cd, não sendo nada de extraordinária, não compromete o álbum nem um pouco. Aliás, ela até faz uma bela ponte entre Sadly Sings Destiny e Wait For An Answer, essa retomando o peso, melodia e complexidade das anteriores, com belos corais épicos.

The Soulforged é inspirada no mago Raistlin, personagem presente na saga Dragonlance, considerada por alguns como sendo tão boa - ou mesmo melhor - do que O Senhor dos Anéis. Se o é não há como eu saber, já que ainda não tive a oportunidade de conhecê-la. De qualquer forma, a música começa bem e vai num crescendo que culmina num sensacional refrão. Como grande parte do cd, The Soulforged tem muitas variações de ritmo e uma linha de vocais impressionante. Age Of False Innocence vem na seqüência, talvez sendo a mais climática do cd. Segue a mesma linha da anterior, ou seja, começa bem e vai num crescendo. Punishment Divine é a penúltima música do álbum. Inspirada em Friedrich Nietzsche - o que mostra que heavy metal também é cultura :-) - é o segundo melhor motivo pra se comprar esse cd. Pesada, rápida, bem trabalhada, com o melhor vocal que Hansi poderia fazer em todo o álbum e mais um impressionante trabalho de bateria de Thomas, é uma música que empolga desde seu começo.

Pra fechar um álbum como A Night At The Opera com chave de ouro, nada como uma música como And Then There Was Silence, que, por si só já é o melhor motivo pra se comprar o cd. Citando a mim mesmo: ’And Then There Was Silence’ é a maior música do Blind Guardian até agora. Tem 14:07 minutos e é simplesmente de dar inveja à grande maioria das bandas que fazem um som parecido. Seguindo a tradição de ter cada pedacinho da música trabalhada até à exaustão (...) ela esbanja originalidade. São 14 minutos onde o ouvinte não consegue ficar parado, tamanha a variedade dos riffs, de melodias, as mudanças de andamento e a complexidade dos arranjos. A música nem parece que tem duração tão grande. É tão empolgante que, quando menos se percebe, já acabou. Destaque para a letra também, que é baseada na Guerra de Tróia, tendo a princesa Cassandra como protagonista.

Eu avisei que ia ficar parecendo coisa de fã baba-ovo... Mas esse cd merece! O que Thomas Stausch está fazendo nesse álbum é brincadeira. Desde Imaginations... eu acho o trabalho do cara bom, mas dessa vez ele se superou de uma forma que eu não esperava. Hansi, como eu já disse, evoluiu bastante em termos de vocal. Nem o fato da voz dele aparecer poucas vezes desacompanhada de um coral ao longo de A Night..., o que é o único ponto negativo do cd, atrapalha esse progresso. Já Andre e Marcus estão melhores que nunca em suas guitarras.

Enfim, por tudo isso, pode-se concluir que A Nigth At The Opera é um daqueles cds de heavy metal que não se vê todos os dias. Ousado e com uma produção impecável, mostra o porque do Blind Guardian ser considerada uma das bandas que mais se destacou no cenário do metal na década de 90, já podendo ser considerado um dos melhores lançamentos do ano. Ouvindo esse cd, dá pra se entender o porque disso. E o melhor de tudo é que em Agosto os bardos estarão aportando no Brasil, nos dando a oportunidade de ver como é que toda essa genialidade musical funciona ao vivo. E o Omelete vai estar lá, sem sombra de dúvidas. :-)

A Nigth At The Opera

BLIND GUARDIAN
EMI Music

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