Omelete entrevista: Ben Harper
Músico fala sobre a parceria com Eddie Vedder, a paixão pelo Brasil e a inspiração encontrada no sur
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Ben Harper não é o que se pode chamar de popstar - não produziu grandes sucessos, não figura em manchetes de jornais e não ganhou nenhum prêmio Grammy até hoje. Entretanto, a figura simples, que muito se assemelha a um amigo com quem a gente senta pra conversar em uma mesa de boteco até altas horas da madrugada, tem um admirável séqüito de fãs. O segredo? Reunir uma personalidade carismática e acessível, sólida formação musical (com influências de folk, gospel, soul, e rock) e um talento difícil de encontrar nos dias de hoje, o de escrever lindas, ainda que simples, letras de música.
Na entrevista coletiva concedida na quarta-feira, dia 17, em São Paulo, Harper declarou-se um apaixonado pelo Brasil, lamentando sinceramente o pouco domínio do português e a demora em voltar ao país (a última vez que esteve aqui foi em 1998, no Free Jazz), contou que tem planos de gravar versões para músicas do Queen ao lado do vocalista do Pearl Jam, Eddie Vedder, e prometeu tocar músicas de todos os sete álbuns que compõem sua discografia nos shows que apresenta a partir do dia 18 em várias cidades do Brasil.
Bem-humorado, Harper ainda confessou que é péssimo em auto-análise, em resposta a uma pergunta sobre uma possível evolução musical que teria acontecido desde o lançamento do primeiro álbum, Welcome to the Cruel World, de 1994, até Both Sides of the Gun, de 2006: Eu não sei quem eu era, eu não sei nem quem eu sou! Por este motivo, o músico está sempre fazendo terapia, mas mesmo assim, o californiano deixou claro que amadureceu muito de lá pra cá, e que certamente anda mais inspirado agora do que antes. Ainda sobre suas composições, Harper enfatizou a importância de manter silêncio sobre as mensagens que podem ser encontradas em seus discos, relegando aos fãs a tarefa de extrair de cada música a mensagem que quiser.
Sobre a relação com o surfe, Harper filosofou, dizendo que dentro da água pensa em tudo, e que gostaria de escrever músicas que fossem únicas assim como cada onda do mar é única. Quando questionado sobre música, política e mudanças sociais, Ben Harper parou pra pensar por alguns segundos, deu um suspiro profundo e foi enfático: Pode me chamar de idiota, mas eu acredito no poder de mudança da música e da arte. Mas não é algo imediato, leva tempo... Acredito que a arte perdeu um pouco de seu equilíbrio por causa da rapidez com que vem sendo consumida, mas de qualquer forma, eu me recuso a ficar parado. O fato é que ou os governos começam a mudar, ou haverá uma revolução.
Humildemente, Ben Harper admitiu o pouco conhecimento de música brasileira, É cruel... Quanto mais eu disser que conheço, mais vou mostrar que não conheço, e indo de 8 a 80, lembrou do ministro da cultura Gilberto Gil e da banda mineira Sepultura. Harper ainda contou que tem uma certa familiaridade com o cavaquinho e o berimbau, mas que até agora só usou o segundo em uma de suas músicas, Less, de Burn to Shine, álbum de 1999. Qual instrumento, na opinião de Ben Harper, merece um pouco mais de sua dedicação? O piano. O ser humano tem um potencial de criatividade tão grande, uma necessidade de botar tanta coisa pra fora... Acho que com o piano conseguiria expressar melhor o que levo na alma.
As expectativas de Ben Harper para os shows no Brasil são promissoras. Segundo o músico, a banda que o acompanha nos shows e com quem começou a gravar desde 1997, os Innocent Criminals, são muito melhores ao vivo do que em estúdio, e os fãs podem esperar uma apresentação sem retoques. Harper também fez questão de elogiar Donavon Frankenreiter, responsável pelos shows de abertura da miniturnê, dizendo que além de ser um amigo extraordinário - eles se conhecem há dez anos - Frankenreiter é um músico exemplar. Outro músico excelente, que vem tocando direto no aparelho de som de Ben Harper, é o britânico Piers Faccini.
Planos para quando acabar a turnê? O legal é que não temos nada definido. Eu e alguns caras da banda pretendemos ficar até o carnaval, explorar o país de moto ou quem sabe de carro, aproveitar ao máximo... Gostaria de conhecer as cataratas do Iguaçu...
O novo álbum de Ben Harper sai em setembro deste ano, e será o primeiro composto em parceria com o Innocent Criminals, que responderá por metade das músicas.
Donavon Frankenreiter - de surfista profissional a músico
Quem olha para Donavon Frankenreiter mal consegue imaginá-lo em cima de uma prancha de surfe. Apesar disso, o músico, que segue a linha de Jack Johnson e do próprio Ben Harper, já foi surfista profissional e demonstra claramente a influência do esporte em sua carreira - música com levadinha tranqüila e despretensiosa, e visual retrô baseado em filmes de surfe das décadas de 60 e 70.
Na entrevista coletiva concedida na quarta-feira, dia 18, Frankenreiter devolveu os elogios feitos por Ben Harper, dizendo que abrir os shows do cantor é um dos pontos altos de sua breve (apenas dois álbuns lançados) carreira. Outro ponto alto, em sua opinião, foi a gravação do DVD Abbey Road Sessions no famoso estúdio londrino, em que as músicas de Frankenreiter ganharam arranjos de instrumentos de cordas e a participação de duas fantásticas backing vocals de Londres.
Frankenreiter contou que o visual retrô é, em parte, influência da retomada dos filmes de surfe das décadas de 60 e 70, e aproveitou para agradecer a indústria do esporte: Eu consegui viver com o dinheiro que ganhava no surfe... Além disso, foi pelo fato de ser surfista que conheci a Austrália, a América do Sul e a Europa. Entretanto, o músico prefere manter sua música sem rótulos: Eddie Vedder, Perry Farrell [Jane´s Addiction, Porno for Pyros], os caras do Foo Fighters e do Metallica, também pegam onda, e nem por isso a música deles é chamada de surf music.
As influências de Frankenreiter comprovam o ecletismo musical: Van Morrison, Mavis Staples, Jimi Hendrix, Ben Harper e o que mais chama a atenção do cantor na música brasileira é o ritmo, a percussão.
Depois dos shows, Frankenreiter pretende ficar no Brasil? Eu já conheço a Bahia, São Paulo, Rio de Janeiro, Florianópolis... adoraria conhecer Fernando de Noronha...
A miniturnê de Ben Harper e Donavon Frankenreiter começa em Porto Alegre, no dia 18, segue para Florianópolis, no dia 20, São Paulo, nos dias 22 e 23, Rio de Janeiro, no dia 25, e acaba em Salvador, no dia 27.
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