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O show do Nightwish em Belo Horizonte

O show do Nightwish em Belo Horizonte

06.12.2004, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H17

O Nightwish foi formado em 1996, na Finlândia, apostando em um som que, na época, tinha um quê de novidade: heavy metal melódico da melhor qualidade apoiado nos vocais líricos da, então desconhecida, Tarja Turunen.

Ao longo de sua carreira, a banda começou a chamar mais e mais atenção de público e mídia especializada, mas com a explosão do hype envolvendo bandas de heavy metal que trazem uma mulher como principal vocal, alcançou um patamar jamais visto antes. Prova disso é a turnê de divulgação de seu novo álbum, Once (2004), que passou pelo Brasil entre os dias 28 de novembro e 5 de dezembro. Essa é a terceira passagem da banda pelo Brasil (as anteriores aconteceram em 2000 e 2002), mas é a primeira vez em que ela chama a atenção dos grandes veículos. Para o desespero dos fãs mais radicais, ver sua banda preferida ser destaque de pelo menos duas reportagens (até o momento) na TV Globo em uma mesma semana não é nada agradável.

De qualquer forma, essa atenção dispensada ao Nightwish por grandes meios de comunicação se justifica pelo crescimento da banda perante o público. Prova disso foi o show de Belo Horizonte na última sexta-feira. Em 2002, a banda passou pela cidade e se apresentou no Lapa Multishow, uma tradicional casa de espetáculos de Belo Horizonte, geralmente reservada para bandas e artistas de pequeno e médio porte, já que sua capacidade gira em torno de 1.500 pessoas. Dessa vez, o show aconteceu no Marista Hall, que vem se tornando uma das mais importantes casas de espetáculo da cidade, com capacidade para 5.700 pessoas. É um grande avanço se levarmos em conta que, apesar dos números não serem oficiais, algo em torno de 3 mil pessoas compareceram ao Marista para o show.

O concerto estava marcado para as 23h e, pouco depois disso, começou a clássica introdução instrumental pré-gravada que vem se tornando tradição em shows de metal. Logo, o tecladista Tuomas Holopainen, o baixista/vocalista Marco Hietala, o guitarrista Emppu Vuorinen e o baterista Jukka Nevalainen subiram ao palco, provocando o frisson dos presentes. Agitação que aumentou quando a vocalista Tarja se juntou ao grupo para a execução de "Dark chest of wonders", faixa de abertura de Once. Sem muitas delongas, a banda logo emendou "Planet hell", outra faixa de seu último lançamento. Ao fim dela, uma pequena pausa para que tanto a vocalista quanto o baixista se dirigissem ao público antes da execução de "Deep silent complete", faixa retirada do álbum Wishmaster, de 2000.

Ao longo do show, Marco Hietala assumiu o papel que, teoricamente, deveria caber à Tarja. Foi ele quem mais se dirigiu ao público, conversando, elogiando, exigindo que a galera agitasse o máximo possível. Tarja, sempre que possível, se ausentava para os bastidores. Mais tarde ficou claro que o aparente descaso da vocalista (que usou três roupas diferentes ao longo do show) se deu pelo fato dela estar doente, sofrendo de um resfriado ou algo parecido. Tanto que essa enfermidade obrigou que os shows de Porto Alegre e Belo Horizonte fossem encurtados se comparados aos de São Paulo e Rio e que a segunda apresentação na capital paulista, marcada para o dia 4, fosse adiada para o dia 5 de dezembro.

Voltando ao show. Após executarem "Deep silent complete", Marco se dirigiu ao público, dizendo que a próxima música era um agradecimento aos brasileiros, que, pela primeira vez, colocaram um clipe do Nightwish em primeiro lugar na paradas. Os primeiros acordes de Tuomas anunciavam "Nemo" e foi o suficiente para o Marista Hall tremer pela primeira vez naquela noite. "Nemo" acabou sendo o ponto alto do show, não pela música em si, que é fraca se comparada às demais, ou pela performance da banda, que foi homogênea ao longo da apresentação, mas pelo fato de ter sido aquela em que a grande maioria do público presente mais agitou. Após a execução da música, observei que algumas pessoas passaram a se desligar do show. Ficavam em grupinhos conversando e até mesmo de costas para o palco. Eu já tinha visto tal coisa acontecer em festivais de música, onde, às vezes, as pessoas vão para ver uma ou outra banda e desencanam das demais. Agora, ir a um show para escutar uma música foi a primeira vez. Curioso.

Apesar disso, a apresentação seguiu e a banda executou faixas presentes em seus quatro últimos álbuns, os supracitados Once e Wishmaster e mais Over the hills and far away (2001) e Century child (2002). Não necessariamente nessa ordem, apresentaram músicas como "Sleeping sun", "Bless the child", "The Kinslayer", "Wishmaster", uma junção entre as músicas "Dead boys poem" emendada por "Slaying the dreamer".

Desde o começo do Nightwish, seus shows têm uma tradição: ali pelo meio do setlist, Tarja deixa o palco e os demais membros executam uma música sem ela. Até a turnê de Wishmaster, era geralmente uma trilha instrumental. Com a chegada de Marco Hietala, no entanto, a banda passou a fazer versões próprias para músicas de outras bandas. Nessa turnê a escolhida foi a clássica "Symphony of destruction", do Megadeth.

Na volta de Tarja, foram executadas mais algumas músicas, culminando com "Over the hills and far away". Ao fim da canção, a banda deixou o palco sem muitas despedidas. Sinal de que voltariam. Nessa hora deu pra perceber que havia mesmo muitos marinheiros de primeira viagem presentes no Marista Hall já que, mal o grupo havia deixado o palco e várias pessoas começavam a se dirigir para as saídas, talvez achando que o show tinha realmente chegado ao seu fim. O que, obviamente, não aconteceu.

Depois de alguns minutos, Tuomas retornou ao palco, seguido por Jukka e Tarja. Começaria então aquele que seria, para mim, o grande momento do show, com a execução da excelente "Ghost love score", o grande destaque individual do último álbum. Uma faixa longa, orquestrada e cuja apresentação ao vivo ficou perfeita.

Finalmente, depois de quase uma hora e meia de show, Marco anunciou que a apresentação chegaria ao seu final, com a execução de "Wish I had na angel", outra faixa do "Once" que levantou a galera. A ela seguiram-se as despedidas e o Nightwish deixou o palco de vez.

Mesmo descontando o fato de Tarja estar doente, o que comprometeu um pouco sua performance e obrigou a banda a executar um setlist menor, o show não foi tudo aquilo que poderia ter sido. Todos os membros da banda são músicos competentes e carismáticos e Marco Hietala fez o que pôde para extrair do público o máximo possível. Mesmo doente, Tarja deu o máximo de si e provou ter um grande profissionalismo, algo que falta a muitos dos ditos "rock stars" que infestam o mundo da música. Infelizmente, porém, ficou faltando alguma coisa. Não sei exatamente dizer o quê, mas que a apresentação do Nightwish no Marista Hall na última sexta-feira ficou devendo à turnê de 2002, isso ficou.

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