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O show do Franz Ferdinand no Rio de Janeiro

O show do Franz Ferdinand no Rio de Janeiro

EV
01.03.2006, às 00H00.
Atualizada em 23.12.2016, ÀS 04H00

O inferno, dizem, é quente, malcheiroso, lotado e desconfortável. Feito o Circo Voador carioca, em dias pré-carnaval. Mas o inferno nem sempre é uma coisa tão ruim. O show do Franz Ferdinand, que aconteceu nesse cenário dantesco, é a prova.

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A banda entrou no palco da estufinha seguindo o velho clichê da pontualidade britânica, pronta para coroar sua turnê relâmpago no Brasil. Metro e meio abaixo, a multidão espremida de fãs que esgotou os ingressos em menos de três dias, programada para devorar qualquer escocês que aparecesse ali naquela noite - mesmo que, para isso, respirar se tornasse um detalhe.

Os integrantes do Franz Ferdinand vêm de uma história ascendente nos últimos cinco anos. Dois ótimos discos, fama e respeito no Hemisfério Norte. Só faltava, perante o microverso tupiniquim, a prova dos nove sobre o palco. Faltava provar que a sonoridade retrô dos estúdios sobrevive aos amplificadores ao vivo.

As duas primeiras escalas da viagem brasileira foram ingratas para os escoceses. Viajando à tiracolo como banda de abertura do U2, tiveram que encarar um estádio lotado de fãs alheios, tocando com som ruim e sendo anulados pelo gigantismo do cenário irlandês. Chegaram a agradar, é verdade. Mas o FF não é banda de arena e, em situações assim, basta um minuto pós-hit radiofônico para qualquer banda de abertura receber garrafadas do público xiita.

Conscientes, fizeram questão de marcar um show solo para aproveitar a platéia de animação mundialmente conceituada. E, desta vez, em um lugar pequeno que joga a favor do que eles realmente são. A consagração era palpável ali, em meio ao vapor.

Os quatro no picadeiro, não sobrou mais tempo para procurar ar fresco. A apresentação começou enérgica, com This boy e Come on home, mas a primeira inflamada veio mesmo com Do you want to, o hit mais recente. Chegava a ser difícil ouvir a música, abafada pela empolgação da platéia, que cantava junto até com os riffs matreiros de guitarra. A comunhão rápida atingiu a banda, que parecia surpresa com tanta animação.

Daí se seguiu um show com quase todas as faixas do disco mais recente, You could have it so much better, mais uma meia dúzia de pérolas do primeiro álbum, incluindo 40’, Darts of pleasure e Take me out (preferida de Kapranos, outro coro uníssono).

O show dos escoceses ganha vida (e muito) em relação à gravação de estúdio. A porção rock recebe peso extra, mesmo nos momentos em que não conta com o apoio de um músico a mais - exemplo claro é Evil and a heathen e o semi-hit Michael, que fechou a primeira parte do show. Mesmo algumas falhas, como Alex Kapranos errando o tempo em algumas músicas, passam além. Quem liga?

Amplificadores à parte, o que se sobressai no palco é a performance. Nessa última safra roqueira, não há banda mais sensual que os Ferdinand no palco. E não estamos falando de sexo aqui, deixemos bem claro. O foco é a energia, a vibração que sai dos quatro rapazes, a interação entre eles. O que os Strokes têm de cool, estes têm de lascivos. Kapranos à frente, com sua teatralidade e seu quê Bowiesco tímido, levando qualquer um nas mãos.

O segundo bloco começou morno, com músicas menores (mas boas) como Jacqueline e You could have it so much better. Pura preparação para o ápice final, que ficou por conta de Outsiders, com a bateria malhada a seis mãos, e This fire, sob luz vermelha e chutando o balde na temperatura. Show quente, platéia quente, cidade quente. O inferno, lembra?

É bobagem fazer exercícios de futurologia. Por melhor que seja a banda, não se sabe se eles sobrevivem a mais cinco anos. Mas, aqui e agora, o Franz Ferdinand já deixou sua cicatriz, que vai demorar um bocado pra se fechar. Admita, o hype às vezes acerta.

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