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![]() Fotos: Alexandre Campbell © EMI Music Brasil |
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São raras as bandas que vêm à terrinha quando ainda estão no auge de sua carreira. Normalmente ou é na curva ascendente - em shows obscuros mal anunciados - ou é na curva descendente (ou até mesmo decadente) - em shows alardeados como a salvação da lavoura (vide Deep Purple em sua milésima passagem pelo país). Daí a surpresa e o deliciamento dos fãs quando foi divulgado um braço brasileiro da turnê mais recente do Coldplay, A Rush of Blood to the Head.
A banda britânica encontra-se no topo do mundo com o lançamento de apenas dois álbuns e não é tão arriscado assim dizer que hoje eles são os maiorais - por cima até mesmo dos queridinhos-da-crítica-por-sua-maluquice, os caras do Radiohead.
E talvez seja este o espetáculo que vá trazer alguma luz para que haja mais de eventos de qualidade por aqui. Mesmo com o preço do ingresso nas nuvens não foi difícil para a produção de São Paulo desovar as 6.500 entradas e lotar o Via Funchal na noite de 3 de setembro de 2003.
Lá dentro
Antes do show se tem a nítida impressão de que se trata de um espetáculo pobre em termos visuais - um palco "seco", apenas com os instrumentos, é o que recebe o fã quando as luzes estão acesas. Mas é quando dos primeiros acordes da explosiva "Politik" tocam que o sujeito começa a perceber o que se passa ali em cima. Toda a programação visual do show parece (e é) desenhada nos mínimos detalhes para acompanhar de lado as músicas da banda.
E que músicas!
Uma banda de extrema competência e afinada à exaustão (afinal, os shows do Brasil são os últimos da turnê) subiu ao palco e mostrou porque tem conseguido aliar crítica e público em adoração.
Uma cozinha espetacular segura a onda para o show que é Chris Martin no palco. Da escola "Mick Jagger para Vocalistas de Rock", Martin mata a bola no peito e assume para si a responsabilidade de tocar a multidão ali embaixo. Dança, dá estrela no palco, grita, ri, dá tchauzinho e faz com que o ato de cantar e tocar pareça simples conseqüência de toda esta empolgação.
Chamando o povo pra cantar, falando frases inteiras em português, incluindo o nome da cidade em letras de música e um novo verso inteiro para "God Put a Smile Upon Your Face" (em que ele cantou "You’ve got Pele, the number one" - Vocês têm o Pelé, o número um), o vocalista parece ter aprendido todas as manhas para se cativar uma platéia.
Talvez haja ali uma certa influência do amigo e ídolo Ian McCulloch, do Echo and the Bunnymen, de quem Chris deve ter ouvido rasgados elogios ao Brasil - o que pode ter aumentado a empolgação da banda com estes shows. E a influência mccullochiana não pára aí. Grande parte das faixas mais desconhecidas ("One I Love" e "See You Soon" foram dois dos lados B que eles tocaram) tinham generosas pitadas da banda de Liverpool (a cidade do Echo, não aquela dos Beatles) na sua base melódica.
O incrível foi a platéia acompanhando a banda em praticamente TODAS as músicas e não só as óbvias "Yellow", "In My Place", "The Scientist" e "Trouble". Até mesmo nas obscuras, como "Everything is Not Lost", "Amsterdam", "Rush of Blood to the Head", "Clocks" e "Shiver", o coro era uníssono - o que fez a banda se desfiar em sorrisos.
No fim só nos resta concordar com a mídia do mundo inteiro e nos desmanchar em elogios a um show sem falhas, que inspirou todos a sair cantarolando as músicas da banda em direção ao estacionamento.
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