Música

Artigo

O show do Blind Guardian em Belo Horizonte

Os bardos alemães em plena forma

29.03.2007, às 00H00.
Atualizada em 10.11.2016, ÀS 08H09
"Espetacular"!

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Fotos: Rodrigo Monteiro

Este foi o adjetivo que usei há quase cinco anos para abrir o artigo que escrevi na época da passagem dos alemães do Blind Guardian por São Paulo, em agosto de 2002. Apesar de quase meia década ter se passado, o adjetivo é novamente o que melhor descreve o desempenho fenomenal dos músicos alemães na abertura da atual turnê brasileira, no último dia 16 de março, em Belo Horizonte.

Apesar da pouca divulgação e dos ingressos salgados, cerca de 3 mil pessoas compareceram ao Chevrolet Hall para o evento. Muita expectativa cercava a primeira apresentação do Blind Guardian na capital mineira, depois de duas tentativas frustradas de show na cidade. Para aumentar a expectativa, todo mundo queria ver como a banda está se comportando depois que perdeu seu baterista original, Thomas "Thomen" Stauch, substituído pelo bom Frederik Ehmke.

Passava pouco das 22h quando a indefectível "War of wrath" começou a soar no PA do Chevrolet Hall, já despertando uma reação fantástica do público presente. A introdução - um diálogo entre Sauron e Morgoth durante a queda de Angband, evento descrito em O Silmarillion, livro de J.R.R. Tolkien que dispensa maiores apresentações - rolava enquanto os guitarristas Andre Olbich e Marcus Siepen, o supracitado Frederik e os músicos contratados Oliver Holzwarth (baixo) e Michael Schüren (teclados) subiam ao palco, já emendando "Into the storm" e abrindo caminho para que o vocalista Hansi Kürsch se juntasse a eles. É bom ressaltar que apesar do Chevrolet Hall estar com apenas metade de sua capacidade ocupada, o barulho feito pelo público ali presente era tamanho que chegou a encobrir a voz de Hansi e mesmo as guitarras de Andre e Marcus em um primeiro momento. Um começo estrondoso que, com certeza, deixaria o velho John Rouel contente.

Após esse início, foi a vez de "Born in a mourning hall" outra música pesada e rápida, retirada do álbum Imaginations from the other side. E aqui é bom destacar uma característica que venho observando nos shows do Blind Guardian desde 2002: apesar da banda estar em turnê de divulgação de seu mais novo trabalho, A twist in the myth, o fato é que o Blind Guardian estabeleceu uma tradição de gravar novos álbuns a cada quatro anos. Isso faz com que o setlist das apresentações da banda fora da Europa - onde é figurinha mais do que carimbada nos famosos festivais de verão que ocorrem no velho continente - acabem priorizando menos o álbum mais recente e mais aquilo que a banda considera ter feito de melhor ao longo de suas duas décadas de carreira. E dessa vez não foi diferente.

Assim, depois de três "pauladas", Hansi, que durante todo o show se comunica muito com o público, compensando sua pouca presença de palco com um carisma impressionante, anuncia uma música mais calma, uma volta a Arda - e ao Silmarillion - abrindo espaço para "Nightfall", cujo refrão é cantado em uníssono pelo público. Aliás, antes que eu venha a me repetir, esse foi um fenômeno que aconteceu durante toda a noite, com raras exceções. A ela se seguiu a pesada "Script for my requiem", também bastante saudada pelo público e, finalmente, a primeira música retirada de seu último álbum, "Fly", que não causou reações tão explosivas do público, mas funciona bem ao vivo. Pra botar fogo na casa de novo, foi a vez da clássica "Valhalla", cujo refrão cantado de maneira ensurdecedora pelo público causou um certo espanto em Hansi. Como tem acontecido ao redor do mundo, quando os últimos acordes da música são tocados e a banda já até largou seus instrumentos, a público continuou cantando o refrão por cerca de cinco minutos, causando admiração na banda e fazendo dela um dos momentos mais marcantes da noite.

Quando Hansi menciona que a música seguinte é protagonizada por Fingolfin, um dos mais poderosos e corajosos reis élficos criados por Tolkien, o público já sabia o que viria a seguir. Hansi dizia: "Time stands still" e a galera completava "at the Iron Hill", além de cantar boa parte da música e todo o refrão com a banda. Isso acontecia tanto que muitas vezes era mesmo desnecessários os backing vocals de Andre, Marcus e Oliver, já que o volume do público encobria suas vozes. "Welcome to dying", outro clássico da banda veio a seguir. Ao seu final, Hansi diz de uma maneira bastante despretensiosa que é uma pena que, de cima do palco, não seja capaz de enxergar com clareza os "olhos brilhantes" do público. Essa é a senha para a execução de "Bright eyes", um dos maiores sucessos da banda - se é que podemos usar essa denominação quando falamos de bandas de heavy metal cujos trabalhos passam ao largo da grande mídia. Pra dar uma esfriada, a pesada "This will never end", outra faixa de A twist in the myth veio a seguir, em uma roupagem um pouco diferente, mais direta, do que a apresentada no álbum.

Depois de uma música nova, mais uma clássica e "Lost in the twilight hall" faz novamente o público ir à loucura, sempre causando reações de surpresa e alegria na banda. Hansi anuncia, então, que é hora de ir embora e que é tempo de "se fazer silêncio em Belo Horizonte". Pra bom entendedor meia palavra basta e essa é a senha para a execução de "And then there was silence", literalmente a maior música já gravada pelo Blind Guardian, com mais de 14 minutos de duração. Muita gente critica o fato de uma faixa longa assim esteja no setlist, mas o fato é que ela é uma música tão bem elaborada, com tantas mudanças de tempo e ritmo que nem parece tão longa e mostra toda a competência da banda.

Após a última nota o grupo deixa o palco. Poucos acreditavam que o show havia acabado ali. E enquanto o Blind Guardian se preparava para voltar ao palco, o público fazia sua parte com a já tradicional chamada para "Mirror mirror". No meio dela, a banda volta detonando "Imaginations from the other side", música tão pesada quanto elaborada, que colocou o público em polvorosa novamente. Ao seu fim, o momento mais esperado da noite: Hansi Kürsch nem precisa anunciar. Ao ver Andre e Marcus sentados um de cada lado, as guitarras substituídas por violões o público já sabe: é hora de "The bard's song (in the forest)", essa sim a música mais bem sucedida da história da banda. Uma balada acústica. Hansi cantava a primeira frase de cada verso e deixava o público fazer o resto. Hansi, como bom anfitrião, diz que aquela foi a melhor versão da música na atual turnê (ele provavelmente deve ter dito isso em diversos outros lugares, mas como o cara é gente boa, vamos dar um desconto).

"Mirror mirror" marcou o fim da apresentação quase irrepreensível do Blind Guardian. Sim, "quase" por que faltou a presença de "Lord of the rings". Mas, deixando isso de lado, o Blind Guardian mostrou por que é considerada uma das maiores bandas do gênero. Seus músicos são muito carismáticos. Além da figura onipresente de Hansi Kürsch, Andre e Marcus estão sempre agitando o público, distribuindo sorrisos e aplausos. Fora isso, é sempre bom lembrar a sua competência no palco. Andre e Marcus devem formar a dupla de guitarristas mais entrosada do planeta, e não falo só de bandas de heavy metal, mas do rock como um todo. Frederik, apesar de não ser Thomas, mostrou-se um substituto à altura e só precisa se soltar mais, coisa que deve acontecer na medida em que se sentir mais confiante perante os fãs da banda. Os coadjuvantes de luxo, Oliver e Michael - com a banda desde 1998 -, também seguram bem a onda e contribuem bastante com o som do Blind Guardian. O ruim é saber que outra passagem deles por aqui só deve acontecer daqui a cinco anos.

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