Música

Entrevista

"O Amsterdam Dance Event é uma porta para qualquer um com talento", diz Richard Ziljma, a mente por trás do evento

Ziljma é general manager do maior evento para profissionais e amantes de música eletrônica do mundo

16.02.2017, às 18H54.
Atualizada em 16.02.2017, ÀS 19H04

O Amsterdam Dance Event é considerado o maior evento feito para os profissionais da música eletrônica do planeta. Realizado anualmente na capital holandesa, atualmente durante cinco dias, ADE se alterna com intensa programação diária voltada para o mercado e profissionais do segmento e, durante a noite, um festival cheio de grandes nomes da música eletrônica que reúne 2,200 artistas se apresentando em 115 localidades diferentes.

Richard Zilma, responsável pelo Amsterdam Dance Event, posa para foto

Richard Ziljma, general manager responsável por pensar na realização do evento holandês, desde 2000, esteve no Brasil para a Rio Music Conference (o maior evento da indústria da música eletrônica realizado na América do Sul) e conversou com exclusividade com o Omelete sobre o mercado brasileiro, as possibilidades da música eletrônica e a importância do ADE para o todo do segmento.

Ziljma abre a conversa comentando que o mais importante, apesar do grande número de visitantes que o ADE recebe, tanto de profissionais quanto de amantes da música, é o fato do ADE ser algo inclusivo, e explica que "[...]a cena eletrônica é muito variada, e todo subgênero concebível, do som mais underground ao mais comercial, é representado e respeitado no ADE". E segue dizendo que no começo de tudo, em 1995, os organizadores jamais pensariam que um dia iriam receber mais de 8000 profissionais da indústria e mais de 400 mil visitantes, "mas o evento continua crescendo e nós continuamos fazendo o nosso melhor para que ele seja especial e único para todas as pessoas que se esforçam para estar lá".

Com todo esse tamanho, e a visibilidade que o ADE representa para DJs e profissionais da música eletrônica em geral, Ziljma também comenta que o evento funciona como um ponto de entrada para os talentos locais. Quando perguntado sobre o impacto desses cinco dias na cena mundial, ele é cirurgico e afirma que a real diferença entre talentos locais e talentos de outras partes do mundo é a geografia. "Gostamos de pensar que o ADE oferece oportunidades e uma 'porta aberta' para qualquer um com talento. Nós somos, e sempre fomos, focados na próxima geração de pessoas da indústria da música - agentes, managers, bookers - assim como produtores, DJs e compositores".

Possivelmente, essa perspectiva é o que transformou o evento no que é hoje, não só levando grandes nomes, mas também dando evidencia a artistas que posteriormente se destacam pelo mundo, como Armin van Buuren, David Guetta, Laidback Luke, Fatboy Slim, entre outros.

Já sobre a cena eletrônica global, Ziljma comenta que tem acompanhado seu crescimento pelo mundo e que "É muito bom assistir como a música eletrônica e a cultura eletrônica estão se tornando bem mais conhecidas, amadas e reconhecidas no Brasil e em toda a América do Sul. Claramente a região é agora uma das que mais cresce para o gênero, e essa é uma das razões para eu estar aqui visitando o Rio e o Rio Music Conference", destaca. O manager ainda enfatiza que a Asia, especialmente a China, também tem crescido e "está se tornando um mercado gigante, e revela o desejo de, nos próximos anos, ver mais músicas do segmento sendo criadas e lançadas na América do Sul e na China.

Com tudo isso acontecendo em pontos tão distintos do planeta, tentar traçar um link com a importância do que acontece no ADE e como esses acontecimentos reverberam no mundo, se torna algo necessário. Ziljma, novamente lança um olhar não só de quem trabalha com o segmento, mas de quem também gosta de música eletrônica e explica que "[...]sobre conexões, a música eletrônica ou só o fato de estar em uma pista de dança é algo que conecta globalmente, então, por esse ponto de vista, somos todos parte de uma mesma cena gigante".

E volta a falar sobre o Brasil, afirmando que está ligado no que acontece por aqui. "É muito bom ver um país que não tem necessariamente nenhuma raiz com o início da cena chegando tão rápido e produzindo novos DJs e eventos únicos que são completamente brasileiros", e segue comentando sobre o que ele acha necessário para fazer com que o segmento cresça e chegue às pessoas que não necessariamente já estão ligadas à essa vertente musical. "Claramente grandes eventos ao vivo criam uma sensação de comunidade e destino coletivo que é muito importante para todos envolvidos e, acima de tudo isso, espero que os clubes do país estejam aptos a realizar seu papel no crescimento da popularidade da música eletrônica, oferecendo oportunidades para os jovens talentos locais".

Isso, mais uma vez, deixa claro o valor que os jovens talentos têm para sua visão de crescimento, principalmente quando fala sobre a quantidade de top DJs que a Holanda produz. "Para um país tão pequeno, nós, com certeza, produzimos um número desproporcional de Top DJs e isso se tornou uma parte importante da nossa cultura musical e da exportação cultural do país. A coisa mais bacana é que não é somente uma geração, você tem as pessoas que estavam lá primeiro como Eddie de Clerq, e Dimitri, depois a geração seguinte com Tiesto, Ferry Corsten, Laidback Luke e Armin van Buuren, e mais recentemente os artistas mais novos como Nicky Romero, R3HAB e Oliver Heldens. Mas a Holanda também tem um cenário rico e muito criativo de Hip-Hop, alguns grandes números de jazz e uma cena clássica próspera. É um país muito musical", afirma.

Pra encerrar a entrevista, Ziljma quando perguntado sobre qual a parte boa e a parte ruim de estar à frente de um dos maiores eventos de música eletrônica do planeta responde que não há parte ruim, a não ser o cansaço inerente ao ser humano. "A melhor parte é conhecer pessoas criativas, fascinantes e inspiradoras, e poder visitar grandes eventos como o Rio Music Conference. Eu realmente não vejo nenhum aspecto negativo, tirando o lado de ser humano e ter limitações, o que significa ficar cansado em alguns momentos. Mas eu amo meu trabalho e sou muito grato às pessoas que acreditam em mim e me deixam seguir com isso".

Richard Zijlma esteve no Brasil a convite da Rio Music Conference para conversar sobre a evolução do Amsterdam Dance Event, saindo do patamar inicial, com 300 representantes e três localidades e seguindo para algo gigantesco que atualmente leva 8900 representantes, quase 400 mil pessoas em 120 locais da capital holandesa. Esse ano o evento acontece entre os dias 18 e 22 de outubro - informações disponíveis no site oficial do evento.

O Rio Music Conference acontece no Rio de Janeiro e vai até o próximo dia 28 de fevereiro com oficinas, palestras e diversos eventos interligando os mais variados segmentos da música eletrônica do Brasil e do mundo.

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