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Finalmente chegou ao mercado Once, o novo trabalho dos finlandeses do Nightwish. O álbum era um dos mais esperados do ano e, sem sombra de dúvidas, é o que teve mais polêmicas antes de seu lançamento. Tudo por causa do furacão Evanescence, que varreu os Estados Unidos e reverberou ao redor do mundo.
Depois que Amy Lee e companhia surgiram e despertaram nas gravadoras um grande interesse por bandas que façam um som pesado - sem ser necessariamente heavy metal -, mas que tenham uma mulher como vocalista principal, todas as atenções se voltaram para o Nightwish. Afinal, queiram ou não, a banda é o maior representante do gênero "heavy metal com vocal lírica" e muitos acreditavam que os finlandeses usariam esse interesse súbito a seu favor. Especulava-se que o novo álbum teria seu som suavizado, e que a banda moldaria sua música para um formato mais comercial. As fotos de divulgação de Once, menos sombrias do que seu predecessor, Century Child ajudavam aos "Profetas do Apocalipse" de plantão.
No fim das contas, as profecias acima acabaram se concretizando em parte. O Nightwish - assim como o Lacuna Coil, da Itália e, em menor escala, os holandeses do After Forever - está se aproveitando do interesse criado pelo Evanescence para entrar em lugares onde nunca estivera antes (como rádios não-especializadas e a MTV) para dar um gás na sua carreira e, quem sabe, tornar Once o álbum mais bem sucedido comercialmente falando de sua história. A título de curiosidade, Century Child é, até o momento, o álbum mais bem sucedido da banda, alcançando algo em torno de 350 mil cópias vendidas ao redor do mundo. Números insignificantes se comparados aos da música pop, mas significativos para uma banda até então quase desconhecida.
Por outro lado, quem apostava que, a exemplo do Metallica, o Nightwish investiria numa espécie de "pop metal" para expandir seus horizontes, se deu mal. Once não é o melhor álbum da banda, mas figura entre os mais pesados de sua história. Há uma presença maior das guitarras de Emppu Vuorinen em detrimento ao onipresente teclado de Tuomas Holopainen, uma tendência já iniciada no trabalho anterior. As linhas de baixo e os vocais de Marco Hietala também progrediram desde o disco anterior, seu trabalho de estréia com a banda. Jukka Nevalainen mostra sua competência usual atrás das baquetas. Já a vocalista Tarja Turunen... bom, pra variar, Tarja dispensa comentários e prova, mais uma vez, porque é idolatrada entre os fãs da banda. É impressionante como a menina evolui a cada novo álbum.
"Dark chest of wonders" é a primeira faixa do CD e já traz uma pequena amostra de como será o álbum. A introdução da música - que foi gravada com o auxílio de uma orquestra de verdade - é aberta pela guitarra furiosa de Emppu e os teclados climáticos de Tuomas. Quando a voz de Tarja aparece pela primeira vez, causa uma certa estranheza, já que ela soa um tanto quanto diferente, menos lírica do que o habitual. Impressão que se desfaz ao longo da faixa, bastante marcada pelo peso e que afasta de cara todos os temores citados nos parágrafos anteriores.
"I wish I had an angel" começa mais cadenciada, adquire um pouco de peso e vai nessa toada até o final. A música, que vai estar na trilha sonora do jogo Alone in the dark III e, por isso, já tem seu videoclipe circulando pela Internet, é a primeira do CD a trazer Marco Hietala fazendo a segunda voz. Destacam-se as guitarras de Emppu e o excelente refrão (tipicamente "grudentos"), feitos sob encomenda para ser gritado pelos fãs nos shows da banda.
"Nemo" foi a faixa escolhida como a primeira música de trabalho do álbum. Trata-se de uma da faixa típica do Nightwish, com um belo trabalho de voz, teclado e guitarra. Não é o grande destaque do álbum, mas, segundo a vocalista Tarja Turunen, era a escolha ideal para ser a música mais trabalhada na mídia, por ser, ao mesmo tempo, pesada, fácil de ouvir e a candidata ideal para se transformar em um videoclipe.
Coral e orquestrações introduzem "Planet hell", mas engana-se quem imagina que vai ficar nisso. Mais uma vez, Marco e Tarja fazem um dueto, dividindo-se entre as estrofes da música, que termina por mostrar-se a mais pesada do álbum.
Tambores e cantos indígenas complementados por orquestrações abrem "Creek Marys blood". A letra fala do massacre sofrido pelos índios por parte dos colonizadores brancos e, devido à isso, em seus dois minutos iniciais (a música tem mais de oito minutos) a voz de Tarja adquire uma tristeza comovente que, aliada aos instrumentos bem colocados, fazem com que o ouvinte seja transportado para a história ali contada. Mesmo quando a música adquire um pouco mais de peso, Tarja modula sua voz para que esse efeito permaneça. Mais da metade da letra de "Creek Marys blood" é composta por uma longa citação, declamada em um idioma nativo pelo índio americano John Two-Hawks, que também foi o responsável pelos cantos e orações indígenas presentes na música.
Em toda a história do Nightwish, o tecladista Tuomas Holopainen acumulou as funções de letrista e compositor, cabendo aos demais membros apenas darem idéias sobre o que seria feito em cada música. Em Once ele resolveu ser um pouco mais aberto a idéias e, assim, a composição de "The siren" traz assinatura conjunta dele e do guitarrista Emppu. É outra música climática, em que se nota uma influência indiana, na qual a sereia (Tarja) enfeitiça um navegador (Marco) com sua canção. É uma idéia interessante, mas talvez seja a faixa mais fraca de todo o álbum.
Belos riffs de guitarra abrem e fecham "Dead gardens". É outra faixa que traz guitarras pesadas em contraste com a voz de Tarja, que adquire um tom mais suave do que nas músicas anteriores. Não estranhe o final da música, ela acaba bem de repente mesmo.
Mais guitarras pesadas, dessa vez acompanhados de orquestrações e corais introduzem "Romanticide", um dos destaques individuais do álbum. Pesada do início ao fim, mostra toda a competência do guitarrista Emppu e a versatilidade da dupla Tarja/Marco que só melhoraram o entrosamento adquirido em Century Child. O baixista também assina a composição da música, ao lado do onipresente Tuomas.
É um fato conhecido entre os fãs do Nightwish que Tuomas Holopainen é um fã de trilha sonoras. No disco anterior ele pôde exercer sua paixão na música "Beauty of the beast". Em Once, "Ghost love score" assume esse papel. Em seus dez minutos cravados, a música mostra uma incontável variação de atmosferas e passagens, indo do etéreo ao pesado e voltando, com orquestrações bem encaixadas, que lembram, às vezes, algumas das composições encontradas na trilha sonora de "O Senhor dos Anéis", de Howard Shore. O fato de poder contar com uma orquestra de verdade foi essencial para dar esse clima épico à música, que contou até mesmo com uma cítara, tocada por Sami Yli-Sirniö (Kreator). Isso sem contar que Tuomas tem a sorte de contar com uma vocalista do calibre de Tarja Turunen dando vida às suas composições. De longe é o grande destaque do álbum.
Em seu primeiro álbum, Angels fall first, lançado nos idos de 1996, o Nightwish gravou uma faixa em finlandês, intitulada "Erämaajäri", que fazia parte de uma música maior, "Lappi (lapland)". Quatro anos depois, a banda decidiu atender aos pedidos daqueles que gostariam de ver mais uma música da banda em sua língua natal e o resultado é essa "Kuolema tekee taiteilijan". Trata-se de uma faixa semi-acústica, atmosférica, em que a vocalista é o grande destaque.
Finalmente, "Higher than hope", outra composição de Marco e Tuomas, fecha o álbum. É uma canção bastante cadenciada, quase uma balada, sem muitos atrativos extras. É uma música legal, com belos vocais - o que, convenhamos, é chover no molhado - guitarras bem encaixadas e só.
Com Once o Nightwish cala aqueles clamavam que a banda suavizaria seu som com fins comerciais e segue a evolução que marcou cada um de seus trabalhos. Um trabalho muito bom, um disco superior ao seu antecessor e, obviamente, candidato certo a melhor disco do ano.
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