Mariah Carey durante show no Allianz Parque, em São Paulo (Caio Coletti/Omelete)

Créditos da imagem: Mariah Carey durante show no Allianz Parque, em São Paulo (Caio Coletti/Omelete)

Música

Artigo

Mariah Carey traz show com cara de residência em Las Vegas para SP

Abertamente cafona e indulgente, apresentação fluiu impecavelmente no Allianz

Omelete
3 min de leitura
21.09.2024, às 14H06.

Mariah Carey está atualmente no meio de sua quinta residência em Las Vegas (EUA) - para quem não sabe, a expressão se refere aos períodos em que um artista de grande nome se apresenta repetidamente no mesmo hotel e/ou cassino de luxo na capital dos jogos de azar. Provavelmente é por isso, então, que o show que Carey trouxe para o Allianz Parque na noite de ontem (20) segue a mesma tradição estética luxuosa, meio circense - e abertamente cafona -, que define essas residências desde sua gênese, com Elvis Presley nos anos 1960.

Os toques Vegas estão em todo canto: na banda, reduzida a quatro instrumentistas (baixo, bateria e dois teclados), porque quem precisa de uma guitarra ou um saxofone quando as teclinhas eletrônicas o simulam com aquele tom de artifício velho que a gente ama; no cenário, adornado por plataformas brancas curvadas, um telão que exibe constantes descansos de tela do Windows mais brilhosos, e em certo período do show um sofá confortável para Carey se sentar, envolta em mantas de veludo; e por aí vai.

Incontestável, é claro, o poderio vocal da artista. Já nas primeiras canções (a notoriamente aeróbica "Emotions" é a segunda) ela desfila os seus agudos de golfinho, e durante toda a apresentação - de mais de 20 faixas, totalizando perto de 2h - a voz não lhe falha uma única vez, a ponto de merecer aquela velha máxima do "parece que engoliu um disco". Os graves de Carey são cheios, os melismas saem inesitantes, e ela abusa da postura de diva elegante para encontrar apoio físico para as notas mais altas.

Como estrela do show - frontwoman de uma trupe que ainda inclui três backing vocals e um grupo de dançarinos animadíssimos -, ela desfila um carisma bem treinado de quem deixou de se importar com besteiras como ser "gente como a gente" há muito tempo. Carey é obscenamente rica e famosa, e seus interlúdios, interações roteirizadas e conversas com o público são sobre ser obscenamente rica e famosa. Uma das historinhas contadas nos telões, por exemplo, fala sobre a menina que vivia em uma mansão, com todas as roupas mais caras do mundo... mas se sentia vazia por dentro, é claro.

O que foi preciso para ela compreender esse vazio e finalmente dar as costas para a sua mansão? A visão de uma borboleta na sua lareira, por algum motivo - e tome "Butterfly", executada à perfeição, seguida de mais uma pausa para troca de figurino. O show de Mariah, enfim, é adoração à diva refinada ao seu extrato mais puro, por quem sabe fazer: uma estrela noventista que passou muito tempo (mas, por enquanto, não tempo demais) nos halls nada sagrados de Las Vegas.

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