Marcelo D2 <i>à procura da batida perfeita</i>
Marcelo D2 <i>à procura da batida perfeita</i>
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Marcelo D2 está à procura da batida perfeita. Em seu segundo álbum, chega bem perto disso. O único problema é: existe a batida perfeita? Acredito que nem D2 ache que sim, mas no intuito de alcançar o impossível, nos brinda com um respiro de ineditismo que há muito não se via na música jovem brasileira. No caldeirão do segundo disco solo de D2 entraram hip hop, uma pitada de rap, uma boa colherada de samba dos bão e tudo mais que possa prover algum tipo de ritmo.
Não se trata de samba-rock, primeira verdade a ser dita. Seria muito simplista rotulá-lo desta forma, já que ele vai muito além. Aliás, tachá-lo de apenas uma coisa só seria uma grande injustiça. O mais próximo que se pode chegar de uma definição é observando a inusitada mistura de rap com samba e o resultado final é de cair o queixo: balanço, refinamento, amadurecimento, criatividade e cultura popular. Entretanto, o problema de dar um só nome a tudo isso continua insolúvel. Segundo o próprio Marcelo D2 em Vai vendo, Não sei se sirvo o rap ou o rap é quem me serve. Se nem ele tem certeza, passemos adiante.
Segundo ponto a ser esclarecido: não acredito que seja difícil dissociar D2 do Planet Hemp, como muitos podem pregar. Ele sempre foi um elemento independente dentro da banda, cuja temática repetitiva limita a genialidade que timidamente começou a mostrar em seu primeiro disco solo e que agora chega à máxima exuberância.
O nome do álbum é tradução de um dos maiores sucessos do Afrika Bambaataa, Looking for the perfect beat, uma das fortes influências de D2, ao lado do partido alto, este presente em toda a vida do cantor. Caminhando na contramão de quem acredita que rap e samba são heterogêneos como água e óleo, o cantor mistura elementos de diversas influências para produzir a própria obra. Porque, na gíria da malandragem, quem fica parado é poste, mané!
Gravado no Rio de Janeiro e mixado em Los Angeles, À procura da batida perfeita conta com convidados do porte de Seu Jorge - mais famoso pelo personagem de Mané Galinha de Cidade de Deus, outra referência explícita no trabalho de D2 -, João Donato, o rapper americano Will I.A.M, o baterista Dom Um Romão e o tecladista Lafaiete. No entanto, a presença que talvez mereça maior destaque é a do filho de D2, Stephan, em Loadeando. Sua interpretação ingênua, despretensiosa e até por isso belissimamente natural mostra que molejo tem sua carga genética, sim, senhor.
Em tempos de vacas magras, com Gabriel, o Pensador martelando em nossos ouvidos diariamente e O Rappa em retiro criativo aparentemente eterno, o álbum coroa o rap nacional ao seu modo, num trabalho difícil de classificar, mas de fácil contextualização. Registro histórico de nosso tempo.
Tracklist completo:
- Pra posteridade
- À procura da batida perfeita
- Vai vendo
- A maldição do samba
- Pilotando o bonde da excursão
- Loadeando
- Profissão MC
- CB (Sangue bom)
- Batidas e levadas
- Re-batucada
- Qual é?
