Los Hermanos: <i>Ventura</i>
Los Hermanos: <i>Ventura</i>
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Síndrome do segundo disco é um clichê largamente utilizado pela imprensa musical por aí. A expressão é usada para pra quando uma banda emplaca um grande sucesso no disco e todo mundo fica roendo as unhas pra ver se o álbum seguinte vai repetir o êxito.
Depois do mega-sucesso de "Anna Julia", toda a atenção ficou voltada para o próximo chiclete composto pelo pessoal do Los Hermanos. Nesse sentido, o Bloco do eu sozinho foi um choque, com toda sua inventividade e fragmentação. Saiu o peso do rock de guitarras e entrou uma bela peça de MPB, saiu a dor-de-cotovelo adolescente e entrou a maturidade sonora de uma quarta-feira de cinzas "ressaquenta".
Sendo aclamado um dos melhores álbuns de 2001, o Bloco... serviu pra abrir outro porém: e o seguinte? Estava aberta a temporada da síndrome do terceiro disco, só desvendada com o lançamento de Ventura, há algumas semanas.
Agora que o bloco passou...
Com este lançamento, os Hermanos parecem ter alcançado um ápice, sedimentando um estilo próprio. O fino do Bloco... ainda está presente: arranjos elaborados, naipes de metais, letras apuradas e o jeito característico de cantar. Por outro lado, se o álbum anterior chamava atenção pela inventividade, Ventura grita pela consistência: nada de arranjos excessivamente rebuscados desta vez. Do primeiro disco, o rock marcado pelas guitarras novamente se faz notar.
De quebra, estão trilhando um caminho cada vez mais enveredado pela MPB - a visão do grupo sobre ela - com ecos da celebração vaudeville tão querida por eles. "Samba a dois" traz referência a Chico Buarque, num batuque que faria Cartola abrir um sorriso, se vivo. Em outros arranjos, o Ivan Lins dos anos setenta parece dar as caras. E o que dizer de "O pouco que sobrou"? Uma bossa nova surpresa, cantada sobre a base de um instrumental que poderia fazer parte de um dos primeiros filmes dos Trapalhões.
O álbum traz também um Rodrigo Amarante mais "aparecido". É óbvio o fato que ele se desenvolveu cada vez mais, desde as suas tímidas duas músicas no primeiro álbum. Marcelo Camelo ainda é o compositor principal, mas um quinto das faixas traz o dedo de Amarante, responsável por alguns momentos brilhantes (como "Do sétimo andar").
A disparidade de estilos entre um e outro, aliás, é cada vez mais presente. E talvez por isso o conjunto das faixas não alcança uma unidade, algumas canções parecem perdidas no conceito do álbum - se é que há apenas um.
Mas não faz mal, porque "Ventura" é o tipo de disco pra se ouvir aos poucos. "Samba a dois" num dia, "O velho e o moço" no outro e por aí vai. No meio do caminho, volte e ouça tudo de novo com fone de ouvido pra perceber os detalhes das melodias e as peculiaridades das letras.
E lá vamos nós para a "síndrome do quarto disco".
Leia também a nossa entrevista com o Los Hermanos.
