London Arena
London Arena

...............................................
Beijando a Rainha com um celular na mão
Estou
no Hyde Park, com o Paul McCartney na minha frente, e milhares de ingleses ao
meu redor. Tá um tesão!, foi a mensagem que mandei para um amigo, também
habitante de Londres. Isso mesmo: mensagem. Dessas que você digita no minúsculo
teclado do celular e envia para outro aparelho. Quem me conhece vai até se espantar
quando souber que eu, o último dos moicanos ao se tratar de celular, me rendi
e comprei um. Há pouco tempo, aqui na London Arena, cheguei a rogar praga contra
as pessoas irritantes que adoram brincar com os joguinhos chatos de celular
no metrô. Bem, desses eu continuo não gostando...
Mas não é que eu já estou me sentindo confortável nesse admirável novo mundo das chamadas pré-pagas? Eu tava lá, no meio da multidão, quase no escuro, com um ex-beatle na minha frente e ainda assim queria achar os caracteres certos para transportar os meus sentimentos para a caixinha de meu amigo, há quilômetros de distância. Que metido!
Pior. Esse momento não só representou a minha derrota na luta contra o mobile (como a peste é chamada aqui nessa terra) como também a minha rendição perante a monarquia. Afinal, eu e mais trocentos ingleses estávamos ali por um motivo: celebrar os 50 anos de trono da rainha Elizabeth.
Claro, esse era apenas o pretexto. Se você colocar Paul McCartney, Brian Wilson, Ricky Martin, Rod Stewart e Ozzy Osborne em Pindamonhangaba para celebrar a terceira vitória do Rubinho na Fórmula 1, vai lotar de gente. Além disso, era um belo e relativamente quente domingo em Londres, perfeito para um passeio pelos agradáveis parques da cidade. E foi isso o que muita gente fez. Armados de bebidas, sanduíches e muita animação, a inglesada invadiu o gramado em frente aos lugares em que a BBC colocou um telão para transmitir os shows direto de Buckingham Palace. E eu também fui. Cheguei tarde (perdi a maioria dos shows) e acabei pegando só o Macca fazendo todos cantarem em uníssono canções dos Beatles. Mesmo sem ser inglês e não me importando com a monarquia, lembro que fiquei arrepiado. Mas pode ter sido culpa do frio, que começava a invadir a noite londrina...
Ps: Após a recente morte da Rainha Mãe, fato que mudou a rotina de pouquíssimos britânicos, parte da imprensa local apostava que as comemorações do jubileu de ouro da Rainha Elizabeth estavam destinadas ao fracasso. A eterna suave-arrogância da Rainha sempre impôs uma barreira entre a figura real e seus súditos. Em um documentário sobre a sua vida, exibido pela TV durante a semana de comemorações, os críticos apontaram como grave a sua vontande de permanecer na sua casa na Escócia ao invés de voltar a Londres e se manifestar sobre a morte da princesa Diana. Mas nada, nem mesmo as pequenas manisfestações contra o jubileu, ofuscou a festa.
...............................................
Os Punks (ou A pré-geração Gap)
Empolgados
com o jubileu da rainha, alguns centros culturais da cidade programaram eventos
especiais durante o mês de junho. O ICA (Instituto de Arte Contemporânea), foi
palco do Sonic Mook Experiment, um festival de quatro dias que
celebrou a nova onda de bandas punks. The Eighties Matchbox B-Line Disaster,
Liars, The Toes, The Beatings, The Parkinsons, Yeah
Yeah Yeahs, Zongamin, National Bandit e The Buff Medways
entre outras subiram ao palco. Basta dar uma olhada no flyer que você
vai entender o clima que reinou por lá. Pena que não pude ir.
Já o NFT (National Film Theatre), um espaço bem legal na margem sul do rio Tâmisa, passou um batalhão de filmes sobre o movimento punk norte-americano e inglês. Fui conferir a película The Blank Generation. Isso mesmo, película, já que não se trata nem de um filme nem de um documentário.
Registrado em Nova York durante o inverno de 1975 por Amos Poe e Ivan Král, Blank Generation mostra trechos curtos, fora de foco, tremidos, com o enquadramento errado, luz estourada e som totalmente fora de sincronia das bandas da cena New Wave e Punk da cidade. Mesmo sendo um atentado cinematográfico até mesmo às flexíveis leis do Dogma, o filme é bom. Na verdade, ele acaba funcionando mais como um álbum de fotos em movimento. E, claro, com uma ótima trilha sonora.
A primeira a aparecer na tela é Patti Smith. Logo depois, vêm os Ramones, únicos em todo o filme a vestirem calça jeans rasgadas e casaco de couro preto. Um dos bons momentos está nas cenas com o Televison, que, segundo a minha humilde opinião, produziu o melhor álbum dessa época, o sensacional Marquee Moon. Está lá o enorme pescoço de Tom Verlaine, a maluquice de Wayne County e a quase-caretice do Blondie. Aliás, a festa no lofty do pessoal do Blondie que reuniu todo o pessoal da cena é uma das melhores partes do filme.
Além disso, o ar de vídeo caseiro invade o CBGB e o Max´s Kansas City, clubes que dominaram a preferência dos músicos da época, para mostar cenas de várias bandas pouco ou nada conhecidas como Tuff Darts, Harry Toledo, Miamis, Shirts e Marbles (quem?).
Amos Poe, um taxista na época, e Král são também culpados de terem feito Night Lunch, um dos primeiros filmes a incorporar a estética punk. Mas este eu não vi. Antes do filme, Gary Valentine, membro original do Blondie, apareceu na sala para ler trechos do seu novo livro New York Rocker - My Life In The Blank Generation With Blondie, Iggy Pop and Others 1974-1981.
Obs 1: Para quem não sabe, Blank Generation é uma canção dos The Heartbreakers que se transformou em uma espécie de hino desse período. Nela, Richard Hell canta I am the Blank Generation and I can take it or leave it each time. Ás vezes, Hell não canta a parte em que diz Blank. A idéia era deixar em branco mesmo. Assim cada pessoa podia preencher com o que bem entendesse. Para Hell, esse era a grande façanha de sua geração, a capacidade de poder fazer e ser o que bem entender.
Obs 2- Richard Hell foi também um importante instrumento para a criação do punk inglês. O seu visual desleixado com camisetas rasgadas, alfinetes na roupa e cabelos quase-espetados inspirou Malcolm McLaren, que levou essa estética para a Inglaterra e montou os Sex Pistols.
Obs 3- Mais Inferno. Hell ainda está na ativa. Recentemente, lançou o disco duplo Time pela Matador. O álbum foi até bem aceito pela crítica. Eu ainda não escutei uma canção.
...............................................
I LOVE MONDAYS!!!
![]() |
![]() |
A melhor noite de segunda-feira do mundo, provavelmente, é a Trash. Enfiada em um beco entre a Tottenham Court Road e Holborn, a casa noturna The End abre as portas todo começo de semana para abrigar boa parte da galera indie e descolada da cidade. Sempre que posso, dou um pulo por lá. A dica da coluna é tentar chegar o mais cedo possível. Primeiro, porque a cerva custa mais barato. Segundo, porque a discotecagem no lounge, cortesia do esperto DJ Rory, é sempre novidadeira e segue o lado indie-eletrônico. Foi com ele que ouvi Emerge do Fisherspooner pela primeira vez, em outubro do ano passado. Pena que rola só até à meia-noite. Depois, o som da pista principal invade o lounge. Não que isso seja de todo ruim, já que o quase lendário DJ Erol está nos comandos. A mistura de rock, pop-brega, electro, punk e dance dá muito certo. E Erol adora pôr as chamadas músicas híbridas (duas canções em uma) para girar. Saca só o que ele rolou na última semana: Get Me Off Peaches Vs Basement Jaxx, Blue Monday New Order Vs Kylie, Miss Lucifer, nova do Primal Scream, e Main Offender The Hives.
Além do ambiente bacana, cerveja não tão cara, pessoas bonitas, música boa, você sempre acaba esbarrando em alguma figura interessante. Na primeira vez que pisei no Trash, dei de cara com todo o pessoal do Strokes. Na última segunda, me esbarrei no vocalista do Idlewild, peguei fila com o guitarrista do Kings of Convenience, e fiquei na frente do ator Jared Leto (pior que não fazia muito tempo que eu tinha visto e adorado Requiem Para um Sonho"). Ah, também fui cobrar música novas e tentar marcar uma entrevista com a Karen O., vocalista dos Yeah Yeah Yeahs!. Menina malvada no palco, ela estava bem comportadinha ao lado de seus companheiros de banda e bebericando uma vodka com tônica.
Tá esperando o quê? Pega logo um avião e vem pra cá! Daí você aproveita e confere todos os festivais de verão desse ano. Aliás, já viu quem vai tocar no primeiro dia do Reading esse ano? Não? Nem te falo....
...............................................
London
Xpress
::
notas rápidas, curtas e essenciais ::
- Assisti Brasil
X Inglaterra em casa.
Minha vizinhança, acredito, é formada por uma maioria de ingleses (bandeiras
da Inglaterra e pôsteres da Rainha são fortes evidências). Mas andei reparando
que falta agitação durante os jogos da seleção de Beckham e Cia. Resolvi fazer
um teste durante o jogo contra o time de Big Phil, como o nosso técnico
é chamado pelos comentaristas daqui.
Assim que o Owen fez o gol, com um puta frio na barriga, coloquei a televisão no mute e abri a janela. Nada. Limpei os ouvidos e abri a porta de casa. Silêncio. Inacreditável. A única manifestação foi o meu celular anunciando a chegada de uma mensagem. Era um amigo inglês gritando GOAL na minha telinha. A alegria dele durou pouco. Quando o Brasil marcou o primeiro, além de eu pular feito um doido, gritar como um doente, chutar o sofá como um retardado, jogar a almofada contra o teto como um raivoso, eu escrevi GOAL como um torcedor fanático e enviei para ele.
Após o gol do Ronaldinho, fiz tudo de novo, só não mandei a mensagem. Antes mesmo do jogo acabar, o meu celular alertava para um novo recado do inglês. Quando o juiz apitou o final da partida, comemorei e fui conferir o que tava escrito. Em letras maiúsculas, o inglês, que não vê seu time chegar à uma final da Copa do Mundo desde 1977, escreveu: Arse!. Eu dei risadas...
- Sei que o
dólar não para de subir, mas se você tiver uma graninha separada esse
mês para comprar uma revista importada, vá de Uncut. A nova edição
tem uma matéria muito boa com o Led Zeppelin e um CD que tá um absurdo de
tão bom. Tem lá a nova sensação de NY, os Yeah Yeah Yeahs!, uma ótima música
do Kid Loco, a linda colaboração de Kurt Wagner (Lambchop) com o Morcheeba,
um lado B do The Charlatans, o projeto de Mali com o Damon Albarn (Blur e
Gorillaz) e muito, muito mais. O CD é intitulado Neat Neat Neat em
homenagem à excelente canção homônima dos punks do The Damned, que também
vem no álbum.
- E eu continuo
com a minha campanha Prodigy: não se deixe enganar.
Já disse na última coluna o quanto ruim é a nova música dos caras. Dia desses,
tava com um amigo e Baby´s Got a Temper começou a tocar no rádio.
Perguntei o que ele achava da música nova deles. Nova!?, ele respondeu
gritando, pensei que fosse um remix.
Banda que precisa de polêmica e vídeos bizarros para aparecer não cheira bem.
- Uma amiga minha foi ver o Suede tocar no festival Meltdowns, com curadoria de ninguém menos do que o doutor David Bowie. Ela disse que gostou, que as músicas novas até que são legalzinhas, e jura que eles ainda estão bonitinhos. O novo álbum de Bret Anderson e seus amigos deve sair logo, logo.
...............................................
Resultado da Promoção Stephen Malkmus
É uma pena que o Pavement tenha acabado. A dissolução do grupo deu a luz dois filhos não tão levados quanto os pais. Fui ver um show do Preston School Of Industry, nova banda do maluco Scott Spiral Stairs Kannberg, ex-guitarrista do Pavement. Achei apenas legalzinho. Faltava algo... A carreira solo de Malkmus ainda está no começo e pode gerar bons frutos. E, infelizmente, não vi show do cara, mas sei que a banda não é tão competente quanto o Pavement foi. Vamos torcer pra que melhorem.
Bem, o sorteio do EP foi realizado no dia 28 de junho, dois minutos após eu ter lido a notícia sobre a morte de Jonh Entwistle, baixista do The Who. O e-mail do vencedor é:
aipim_epileptico@hotmail.com
...............................................
Novo sorteio - Promoção The Cooper Temple Clause
A
gravadora BMG inglesa está apostando tanto nos ingleses do The Cooper Temple
Clause que mandou um jabá enorme aqui pra casa. Camiseta, álbum duplo, todos
os singles e uma caixa com seis LPs (isso mesmo, LP!) de sete polegadas com
algumas músicas de See Through And Leave, primeiro álbum dos caras.
Como sou um cara bonzinho, vou sortear algo do pacote.
O TCTC ganhou espaço já na primeira London Arena, em um comentário que fiz sobre uma capa da revista musical NME sobre novas bandas inglesas (aliás, prometo a voltar a falar no assunto na próxima edição). O som deles é bacana, cheio de energia. E toda vez que Who Needs Enemies? toca na rádio eu canto junto. O vocal de Ben Gautrey parece um mistura de Liam Gallagher (Oasis) com Kelly Jones (Stereophonics). Não sei bem se isso é um elogio...
Bem, já que, até agora, a BMG não tem planos de lançar o álbum pelas bandas brasileiras, eu vou sortear um aqui. Mande um e-mail com o assunto Deu Zebra para o e-mail jzappia@omelete.com.br com o seu endereço completo.
Corra! E boa sorte!
...............................................
Feijoada Vs Fish and Chips
Essa parte da coluna é apenas uma brincadeira. Quero aproveitar o espaço para comparar coisas boas daqui com ruins do Brasil, vice-versa e coisas boas ou ruins dos dois países.
De novo, Brasil Vs Inglaterra.
Categoria: Para não precisar esperar o natal
Coisa boa - Brasil: Panetone e Chocotone
Eu sou o tipo de cara que só come panetone de uma maneira: depois de amassá-lo com a mão. Mesmo deixando os dedos melados, acredito que a consistência melhora muito. Antes seco, depois do meu aperto carinhoso, o panetone ganha uma umidade e uma textura que me agradam muito. O problema é a reação da família.E todo Natal é a mesma história. Eu no meu canto amassando o meu panetone sossegado e a minha mãe explicando para alguém - normalmente com uma cara de espanto - por que eu tô fazendo aquilo.
Mesmo estando perto da Itália, os ingleses não incorporaram o delicioso Panetone (ou Chocotone) ao cardápio natalino. Azar deles, que têm que se contentar com o tal de Chistimas Pudding que é um horror. Mas, chegou a hora de eles darem o troco. Continue lendo...
Coisa muito, muito boa - Inglaterra: Triple Chocolate Tear and Share Bread
Se você estiver lendo essa coluna em Londres, faça o seguinte, abra a carteira, pegue uma libra e setenta e cinco pís e dirija-se ao supermercado Tesco mais próximo da sua casa. Chegando lá, vá até a parte de bolos e doces e procure o Triple Chocolate Tear and Share Bread. Pegue um. Quer dizer, pegue quantos você puder pagar. Corra até o caixa, assim você não cai na tentação de querer abrir o pacote antes de pagar (a embalagem é transparente e basta uma olhadinha no bolo para a boca já se encher de água). Aí é só partir pro abraço!O Tesco, uma das maiores redes de supermercado da Inglaterra, acaba de lançar a melhor combinação de pão com chocolate que eu já comi na vida (Chocotone está em segundo lugar e Croissant de Chocolate em terceiro). Na semana em que o produto chegou às prateleiras, eles, espertamente, colocaram meninas em mini-saias oferecendo pedaços para degustação. Funcionou! Mal terminei de engolir a primeira mordida e, mesmo atrasado para pegar o metrô, já estava na fila com um pacote debaixo do braço.
Para você achar que não estou exagerando, três dias depois, cheguei em casa tarde, cansado e pronto para dormir, mas um flashback do sabor me fez pegar a bicicleta e ir pedalando na maior velocidade até o Tesco. Mesmo sem ter a tradição do panetone, a Inglaterra está na frente. Você não precisa esperar dezembro...
...............................................
Nome da coluna
Para quem ainda não sabe, London Arena é um dos maiores espaços para shows e eventos da cidade - teve show do Red Hot Chili Peppers essa semana e, olha, como tinha menina bonita! Acho que eu deveria virar fã da banda. É também o nome de uma estação de DLR (Docklands Light Rail), uma espécie de metrô de superfície que percorre os cais da área de Docklands.
Além de tudo isso, fica aqui ao lado de casa.
Abraço e Rock N´
Roll!
Juliano
Zappia
Ps: Parte da coluna foi escrita ao som da colorida, triste, romântica, cheia de acordeão, infantil e delicada música de Yann Tiersen, compositor da trilha sonora do ótimo filme Amelie, do cineasta francês Jean-Pierre Jeunet. Escutei também o bacana e bem gravado The Jam At The BBC, e o espacial, repetitivo e gostoso álbum de remix Reset do Peace Orchestra.

