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Kraftwerk: <i>Tour de France</i>

Kraftwerk: <i>Tour de France</i>

08.10.2003, às 00H00.
Atualizada em 18.11.2016, ÀS 14H01
Tour de France Soundtracks

Kraftwerk
4,5 ovos
ótimo!

A banda

Considerado por muitos críticos como o grupo musical mais influente do cenário pop atual, comparável apenas aos Beatles, os alemães do Kraftwerk apresentam ao público sua obra mais recente: Tour de France soundtracks.

O conceito e a sonoridade deste álbum são reflexos de vários acontecimentos que se deram após o lançamento de Electric café em 1986, o último disco com músicas inéditas da banda e o primeiro a ser feito com tecnologia digital.

Plenamente convictos de que a interação homem/máquina obrigava-os a acompanhar as mudanças trazidas pelas novas tecnologias, os líderes, Ralf Hutter e Florian Schneider, iniciaram a meticulosa transformação dos sons analógicos de suas composições anteriores em uma síntese digital da melhor qualidade.

Ao longo do demorado processo, outros dois integrantes da formação clássica, Wolfgang Flur e Karl Bartos, deixaram o conjunto. Em 1989, partiram para carreiras individuais em novos projetos, respectivamente, Yamo e Electric Music.

O Kraftwerk, porém, manteve uma constante e discreta pesquisa sonora em Kling Klang, seu mitológico estúdio privado em Düsseldorf. Para garantir a concentração, o acesso ao interior do prédio foi restrito apenas aos músicos, aos técnicos e aos engenheiros de som. Até os currículos que lá chegavam eram imediatamente devolvidos. Como resultado de tamanho empenho, Hutter e Schneider lançaram, em 1991, o álbum The mix, com versões dançantes das músicas mais importantes de sua carreira. Na mesma oportunidade, foram apresentados os novos integrantes da banda, Fritz Hilpert e Henning Schmitz.

The mix foi um raro registro do grupo nos anos 90, década em que definitivamente os softwares e o computador impuseram-se como ferramentas da música contemporânea. A este CD, seguiu-se um novo período de reclusão com mais pesquisas que culminaram no single Expo 2000, trazendo quatro versões para o tema da feira em Hannover.

Tanto The mix quanto Expo 2000 agregam elementos que se consolidam em Tour de France soundtracks. Do ponto de vista tecnológico, a evolução já se fez evidente nos shows realizados no início de 2003, em que os teclados foram substituídos por notebooks. De um só golpe, obteve-se praticidade no transporte e uma execução mais limpa, otimizando a qualidade das músicas e sincronizando-as com o conteúdo dos tradicionais telões usados em seus shows.

Conceitualmente, portanto, resta agora interpretar a clássica relação homem/máquina diante de um novo elemento: a natureza. Essa tendência fica evidente com a participação, em 1992, de um show chamado Stop Sellafield, em que o Kraftwerk, ao lado de U2 e Public Enemy, pedia o fechamento de uma usina nuclear na Irlanda.

Entre outros clássicos, tocaram a música Radioactivity, em uma versão para The Mix, com nova letra enfocando os perigos da contaminação nuclear, acrescida do refrão, Stop radioactivity.

Expo 2000, o single, apresenta em sua letra minimalista um novo flerte dessa relação homem/natureza/tecnologia, uma tendência que alcança toda a maturidade em Tour de France soundtracks.

O álbum

Tour de France soundtracks apresenta, ao todo, seis músicas distribuídas em doze faixas, servindo de trilha sonora para a tradicional competição de ciclismo que dá nome ao álbum. Apesar de terem composto um single, em 1983, para a corrida, o centenário da prova e os recursos tecnológicos atuais levaram o Kraftwerk a explorar novamente o tema.

A primeira música apresenta-se em cinco faixas chamadas de Prologue, Tour de France etape 1, Tour de France etape 2, Tour de France etape 3 e Chrono. Pode ser considerada uma composição-chave para o disco, porque mostra como o Kraftwerk serve de referência para si mesmo, aplicando e redefinindo conceitos que ele próprio criou.

Se nos anos 70, surpreendeu e influenciou David Bowie com Autobahn, unindo o som sintetizado e gravações de ruídos de uma auto-estrada com violino e flauta, o grupo agora oferece ao novo milênio uma musicalidade diretamente extraída do computador, numa linguagem própria em que o timing, o silêncio e a composição são privilegiados.

Vitamin talvez seja a música que mais se aproxima da sonoridade de álbuns como Radioactivity e Trans Europe Express. Uma pequena melodia, vez ou outra, passeia entre ruídos e ondas que remetem ao músico erudito Kaerlheinz Stockhausen. A letra, como sempre minimalista, é um punhado de compostos químicos que circulam no organismo do atleta durante a corrida.

Aero Dynamik/Titanium, composição em duas faixas, conquistou logo a aceitação do público e da crítica, uma vez que é a mais dançante do álbum, bebendo direto do electrofunk, com batidas mais rápidas, mas não menos elegantes.

O eletrocardiograma é um aparelho que traz informações importantes sobre o coração do atleta. Na composição de mesmo nome, Elektro Kardiogramm, que já nasce clássica, primeiro ouvem-se as pulsações. Em seguida, surge a cadência de uma respiração e, ato contínuo, uma batida eletrônica define um ritmo.

La forme/régéneration é o momento mais fraco. Composta unicamente por Ralf Hutter, a música, mesmo com sua levada oriental a princípio sedutora, destoa-se das demais, privada do brilho que permeia todo o disco. Por fim, Tour de France, que esteve presente no single de 1983, mostra por que é considerada uma das melhores composições do Kraftwerk.

O álbum deve agradar o público mais acostumado com construções suaves e melodiosas como as de Moby ou New Order, o que o torna menos indicado para quem prefere uma pegada mais agressiva, a la Prodigy ou Atari Teenage Riot.

Vale lembrar que Tour de France soundtracks, lançado pela EMI brasileira, é copy controlled, ou seja, vale-se de uma nova tecnologia que impede a conversão para MP3 e a gravação de cópias. Como efeito colateral, a gravadora adverte na, contracapa, que problemas de reprodução poderão ocorrer em alguns equipamentos.

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