Música

Entrevista

Kenny “Dope” Gonzales | Um mestre de seleções musicais

Com remixes de Michael Jackson a Daft Punk e tocando do soul ao Techno, o produtor se apresenta no Rio e em SP neste final de semana

20.07.2018, às 14H08.

Kenny Dope Gonzales é um daqueles grandes nomes nascidos e criados na música eletrônica. Artista único, nascido no Brooklyn, na década de 70, o norte-americano começou sua história com as pick-ups na adolescência, graças a vontade de entregar boa música das melhores formas possíveis.

Facebook/reprodução

Atualmente, Kenny é conhecido por entregar sets que misturam de tudo um pouco, abusando da influência de sonoridades negras e swingadas apesar de ter confessado que ultimamente tem ficado mais próximo do Techno.

O DJ e produtor norte-americano que já remixou faixas de Michael Jackson, Madonna, Bjork, Neneh Cherry, Daft Punk, Chemical Brothers entre vários outros nomes conhecidos da música, retorna ao Brasil - dessa vez para tocar em um local menor (já que esteve aqui anteriormente como atração do Rock in Rio) - para se apresentar no Rio e em São Paulo e, em conversa exclusiva com o Omelete, comenta sobre o que o mantém na estrada por tanto tempo, sua caça por bons discos, a rotina de DJ e um pai e um homem de família mais a vontade de mostrar boas música para os jovens ao redor do mundo.

Abrindo a pista direto no drop, Kenny faz questão de destacar que nos mais de 30 anos que tem de estrada, a grande mudança que aconteceu em sua carreira está ligada a compor  música nova. Os longos períodos viajando e a família o aguardando quando retorna são fatores que mudam a dinâmica da sua rotina como produtor. “Quando eu chego em casa, meu tempo é deles, não da minha criatividade. E tem sido bem complicado ficar longe deles, especialmente este ano, mas eu tenho que descobrir uma maneira de lidar com isso”.

E já que o assunto viagens surgiu, esta é a primeira vez que o norte-americano realiza uma turnê pela América do Sul. Kenny toca no Brasil e na Argentina e aproveitando o embalo do que quase todo produtor costuma dizer: A Argentina é um lugar especial para a música eletrônica. Não custa saber o que ele acha deste cenário. Mas ele deixa claro que, por nunca ter tocado lá, não dá pra ter uma ideia concreta, mas comenta: “Eu tenho ouvido muitas coisas boas dos amigos que já estiveram por lá”.

Sobre suas apresentações no Brasil, como parte do Rock in Rio, Kenny comenta que ter feito parte do evento foi incrível, mas que tocou pra muita gente. “Tem uma vibe diferente tocar em locais grandes, ou para 2000 pessoas. Então, com essa turnê eu quero muito ver qual é a onda da América do Sul e do Brasil”.

E como deve ser interessante para um artista com tanto tempo de carreira, que já esteve em tantos lugares, poder fazer uma estreia em uma parte tão bacana do planeta - no caso, porque a gente vive nessa parte -. Sobre este detalhe o DJ enfatiza que a sensação de tocar em um lugar ou para públicos novos está sempre presente.

“Honestamente, a cada 2 ou 3 anos existe uma nova audiência, não importa onde eu toque. É um ciclo constante. Por exemplo, mesmo tocando na Itália desde a década de 90, sempre tem uma galera diferente. Os jovens sempre surgem na equação do que nós estamos fazendo. É uma coisa muito bacana tocar por todo esse tempo e poder experienciar isso”.

E ele segue destacando a importância de assumir o papel de educar musicalmente. “[...] Por outro lado, nós, a geração mais velha, também temos que estar dispostos a educar. Alguns desses jovens nunca saíram. Nós temos que dar um passo à frente, especialmente em Ibiza (o epicentro da música eletrônica durante o verão) - este ano -”.

Música e pessoas

E claro, um artista como Kenny impacta as pistas não só com suas produções originais ou remixes. O norte-americano também é conhecido por entregar seleções musicais amplas, sempre em busca de fazer com que as pessoas dancem. Mas com todas essas possibilidades sonoras em aberto, o que uma música precisa ter para entrar na lista do DJ?

“Cada set é diferente, então é difícil prever o que eu vou tocar. Se é um formato aberto, o que eu faço é criar pastas, colocar discos diferentes lá e sentir à medida que as coisas vão acontecendo. Nem todo set é igual. nem todo público é igual, nem todo país é igual. Então, é uma experiência diferente em cada lugar que eu toco”. Logo, esperar surpresas é o mínimo que a gente pode fazer quando vai pra uma pista com ele, certo?

Toda a musicalidade que ele abraça desde os primórdios estão presentes em todas as suas apostas como artista, principalmente na ampla gama de nomes que Kenny já remixou.

Mas como funciona o processo de criar um remix para um produtor que tem uma trajetória tão ampla? E como ele escolhe quem ele vai remixar? Sobre isso ele é categórico: “A forma como o processo de remix funciona é bem simples. Se nos oferecem uma faixa para remixar, nós pedimos para que nos enviem uma demo. Se eu ouvir algo que me inspire eu começo a criar. Eu costumo começar pelos vocais e sigo por aí. Minha escolha fica toda focada em ser inspirado pela faixa”.

E claro, nem só de inspiração pura e simples vive Kenny, já que para chegar em todo esse mix sonoro o produtor criou uma ligação muito forte com a busca por discos e sons raros, algo que colabora muito para a criação de cada um de seus sets.

Isso fica bem explicado em artigo do Alataj que conta um pouquinho mais da ligação de Kenny e suas caçadas. Aproveitando esse link, Kenny comenta que sua coleção conta com muitos discos e que não tem ideia de qual foi a sua descoberta mais emocionante. “Por eu gostar de muitos estilos diferentes é difícil dizer qual foi o meu maior achado. Neste ponto, se eu puder achar 2 ou 3 bons [durante uma caçada], eu já estou mais do que satisfeito por tê-los na coleção”.

Isso tudo desemboca no link com a música brasileira, sonoridade com a qual ele afirma ter uma boa conexão. “Eu amo Tony Tornado, o James Brown brasileiro. Tim Maia é demais, ele tem muita coisa incrível. Eu gosto de uma artista chamada Joyce, ela é realmente incrível. Isso só pra falar de alguns”.

E pra fechar, ele comenta sobre algo muito especial em sua carreira: A necessidade de mostrar música para os jovens. Assim, sobre assumir este papel e continuar fazendo isso até hoje, ele comenta que faz só o básico.

“Eu só pego um punhado de discos e boto pra tocar. Você tem que amar o que você faz. Eu tenho tocado um monte de coisas diferentes. Eu estou mergulhando nas vibes do Tech e do Techno e incorporando isso ao que eu tenho feito. Mas isso depende, eu tenho que sentir a galera. Se eu puder tocar sons diferentes, eu vou tocar. Se não, eu vou dar a eles o que eles querem”.

Então que assim seja. Kenny Dope Gonzales toca na festa Rara no Rio de Janeiro, neste sábado (21) e em São Paulo, na Funk the Vibe no domingo (22). 

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Confira os destaques desta última semana

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