Excelente show acústico de Jessie J merecia mais que pouco caso do The Town
Cantora se apresentou sábado (13) no festival em São Paulo (SP)
Créditos da imagem: Jessie J no The Town 2025 (Reprodução)
Um show como o apresentado por Jessie J no final da tarde de hoje (13), no Autódromo de Interlagos, em São Paulo (SP), não é exatamente bom encaixe para um evento como o The Town 2025. Ela própria reconheceu esse desajuste, inclusive, brincando que este era "o show acústico intimista com maior público" de sua carreira.
A escala reduzida se fez indiscutivelmente necessária, no entanto: a popstar britânica, de 37 anos de idade, descobriu um câncer de mama em estágio inicial no último mês de junho, passando a seguir por uma mastectomia (cirurgia onde uma das mamas é completa ou parcialmente retirada para evitar a progressão da doença).
Ainda em recuperação, Jessie não se viu em condições de realizar o seu show de sempre no The Town - um show que, os fãs podem atestar, envolve muita dança e alguma pirotecnia. Ao invés de cancelar, sondou o festival para entender se um set acústico (ela, violão, baixo e piano) e reduzido, de 1h, seria factível.
A organização do The Town topou, demovendo ligeiramente a cantora para um slot menor do Palco Skyline, o principal do evento. Originalmente, Jessie se apresentaria logo antes da headliner Mariah Carey, por volta das 20h30, e agora precisou fazer seu show à luz do crepúsculo, antes de Ivete Sangalo, começando às 18h10.
A incongruência do gigantesco Skyline com a pequenez da produção era impossível de ignorar. Jessie, no entanto, não se apequenou como artista - como já demonstra desde o começo da carreira (o primeiro álbum, Who You Are, incluía a balada acústica gravada ao vivo "Big White Room"), ela não precisa de distrações no palco.
Abrindo com "Do It Like a Dude", a britânica mostrou suas cartas desde o começo, relembrando porque o público caiu de amores, há quase 15 anos, por sua voz de diva soul ardida e modulada para o tempo pop acelerado do século XXI. Graves ferozes, agudos rasantes, cada nota atacada com precisão cristalina e força expressiva.
As intervenções dos três instrumentistas, por suas vezes, se mostraram delicadas. Um baixo deliciosamente suingado aqui, um violão folk ali, as notas doces de um piano agudo acolá -todos regidos pela vocalista como uma orquestra, senhora do palco ao ditar quando segurar o silêncio antes das notas finais um pouquinho mais, ou pedir que o baixo saia um pouco menos ardido na mixagem.
Não é só sobre execução, no entanto. Para além do puro talento, do transporte audacioso de um conjunto quase jazzístico para o contexto inchado do festival, há uma artista de candor irrepreensível, que busca se comunicar com o público constantemente, e nunca apoiada na muleta do cinismo. Se estar aqui já é um ato de coragem para essa Jessie J, ela não vai estar pela metade.
Uma pena, de fato, que tanta gente na plateia estivesse. Desatento e desengajado, por vezes até desdenhoso, o público do The Town não conseguiu olhar e ouvir além de um desajuste de tamanho que a arte de Jessie superava com folga. O The Town pouco cantou, pouco brincou e pouco aplaudiu a estrela à sua frente.
A frustração desse desencontro escapava em algumas interações da artista com a plateia, mas ela tampouco deixou que isso dominasse a história do show. Mérito dela, mas demérito nosso. A muito custo pessoal, Jessie J veio - o mínimo que deveríamos fazer era estar aqui para ouvi-la.
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