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<i>Acústico MTV - Ira!</i>

<i>Acústico MTV - Ira!</i>

01.07.2004, às 00H00.
Atualizada em 16.12.2016, ÀS 05H02
Acústico MTV - IRA!

Sony Music
Produção: Rick Bonadio
5 ovos!

O selo Unplugged da MTV nasceu em 1991, com uma apresentação intimista e antológica de Paul McCartney. De lá pra cá, o formato evoluiu para obras sofisticadas e com pretensões eruditas, especialmente no Brasil, país onde o projeto tem sua dimensão mais grandiosa.

Depois de um começo similar ao original, com shows que primavam pela simplicidade, foi com os Titãs que a marca Acústico MTV ganhou novas proporções. Com o mega-sucesso titânico em 1997, o selo passou a ser a menina dos olhos do canal de clipes e um grande gancho comercial para artistas meio sumidos da grande imprensa reerguerem suas carreiras.

Na cola dessa grife de sucesso, até artistas que não são conhecidos por usar guitarras ou sintetizadores entraram na onda. Apesar de pouco acrescentar em termos de conteúdo, foram lançados CDs acústicos de Roberto Carlos, Gal Costa e Zeca Pagodinho, todos com sucesso garantido.

Todavia, como já foi dito aqui no Omelete, o formato banquinho e violão ganha força mesmo com veteranos do pop-rock. Quase todos os nomes de ponta dos anos 80 já passaram pelo ritual solene dos acústicos MTV. E chegou a vez do Ira!, uma das bandas mais honestas e coesas de sua geração.

Mais de dois anos depois do lançamento do álbum Entre seus rins, o grupo resolveu repassar seu repertório de favoritas (não necessariamente as mais famosas), escolhidas com a ajuda dos fãs por meio de seu site oficial. Primeira banda a participar dos dois principais projetos fonográficos da emissora, o MTV ao vivo e o Acústico, o Ira! está naquela fase de não precisar provar mais nada pra ninguém. E, mesmo assim, fez questão de arrasar. O show foi exibido em maio na MTV e também foi lançado em DVD com making of, entrevista, ensaios e três faixas-bônus. Desde já, esse especial do Ira! pode ser considerado um dos melhores trabalhos do grupo e um dos mais inspirados acústicos da MTV.

Mesmo contando com excelentes músicos de apoio encorpando o som, a sólida base instrumental de Edgard Scandurra (aqui, apenas tocando violão), Ricardo Gaspa (baixo) e André Jung (bateria) preserva o pique característico da banda. Idem para as vozes de Nasi e Edgard, ambos com pleno domínio de seus estilos e harmonias. E é impossível não lamentar que Edgard, talvez o melhor guitarrista de sua geração, esteja munido apenas de um violão. Entretanto, ele mostra que está muito à vontade no formato acústico, coisa que já havia feito como convidado em duas músicas no álbum similar do Kid Abelha, em 2002.

Abrindo o repertório, a faixa Pra ficar comigo, versão de Nasi e André Jung para Train in vain, clássico do The Clash, uma das inspirações da banda. Em seguida, entra a primeira música de trabalho, a bonita O girassol. A canção apareceu pela primeira vez no álbum 7, lançado em 1996. Originalmente gravada com a voz de seu compositor Edgard, a versão do acústico tem Nasi fazendo a voz principal, por sugestão do produtor Rick Bonadio. A música realmente merecia uma segunda chance de virar hit, assim como as emocionantes 15 anos (do disco Vivendo e não aprendendo, de 1986) e Rubro Zorro (Psicoacústica, de 1988).

E também não faltaram convidados ilustres. Representando a nova geração do pop-rock brasileiro, Pitty participa da faixa Eu quero sempre mais (outra do disco 7). Samuel Rosa, do Skank, comparece na canção Tarde vazia, extraída de Clandestino, disco de 1989. Fã confesso do quarteto, Samuel já havia cantado com eles em 1999, na música Um girassol da cor do seu cabelo, presente no disco Isso é amor.

Porém, é na versão do hit obrigatório Envelheço na cidade (Vivendo e não aprendendo) que ocorre o momento mais antológico: os Paralamas do Sucesso comparecerem em peso, com Herbert Vianna, Bi Ribeiro e João Barone. Mais do que um registro histórico, a reunião das duas bandas mostrou a força daquela geração do rock brasileiro.

Tem gente que torce o nariz para projetos comerciais assim, dizendo que o artista se vendeu e caiu de qualidade, o que nesse caso é uma grande bobagem. Se o acústico do Ira! tiver grande repercussão popular e for assobiado e cantarolado pelos quatro cantos do Brasil, só vai fazer bem à cultura musical do país.

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