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<i>8-Mile: Rua das ilusões</i> - A trilha sonora

<i>8-Mile: Rua das ilusões</i> - A trilha sonora

LT
20.03.2003, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H13

8 Mile - Rua das ilusões
Vários, Trilha sonora
Universal Music

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Pois é, trocando papéis. Eu esqueci a Poison a fim de dissecar uma das personagens mais controversas já surgidas na música. Seria fácil, extremamente fácil fazer do Eminem uma das minhas vítimas na Poison on the rocks. Entretanto, o rapazola não me deixa, ele não dá espaço. O Midas não erra. E eu ainda nem vi o filme, mas sei, através de fervorosos odiadores do rapper que é, no mínimo, digno de respeito.

Desde seu primeiro álbum, The Slim Shady, eu venho tentando encontrar uma brechinha para destilar meu veneno. Hoje, ouvindo a trilha sonora de 8 Mile - Rua das ilusões, vejo que, se por um lado não consegui meu intuito, por outro, ganhei música de boa qualidade, contemporaneidade com a história da cultura pop e intimidade com uma das principais vozes de um país que não sai da nossa cabeça, querendo ou não.

George W. Bush, ele mesmo, o campeão de presença nas passeatas pela paz, elegeu Eminem o segundo maior perigo à juventude americana, depois da pólio. O rapaz é ou não é digno de simpatia?

Quer gostem ou odeiem, o fato é que Eminem é um fenômeno. Não há nada que ele toque que não vire sucesso, por isso o apelidei de Midas. Foi assim com seus discos (The Slim Shady, The Marshall Mathers, The Eminem Show), que venderam centenas de milhares de cópias. Está sendo assim com os rappers que ele apadrinha (Obie Trice, 50 Cent, D-12), com o filme 8 Mile (bilheteria de 117 milhões de dólares só nos Estados Unidos), com a trilha para o filme e futuramente, com a grife de roupas que lançou e com a própria gravadora, a Shady Records. Alguém aqui duvida? Eu não!

A trilha sonora de 8 Mile é composta basicamente de rap. São três canções do próprio Eminem, sendo que Lose Yourself concorre a um Oscar (!!!) na categoria Melhor Canção Original. É ou não é um paradoxo delicioso? Não é sempre que podemos assistir a um marginal pisando no tapetão vermelho da Academia.

Não sei se por ser brasileira e despeitada pela não indicação de Cidade de Deus à categoria de Melhor Filme Estrangeiro, mas para mim, assistir à cerimônia do Oscar vai ter um sabor especial esse ano. Principalmente porque há rumores de que, mesmo indicado, Eminem não vai nem aparecer. Não me lembro de ter esperado tão ansiosamente para NÃO ver alguém aparecer. Coisas que você sente quando assume o instinto agressivo que faz parte de sua persona, coisas que Eminem te ajuda a encarar.

As outras duas canções do Eminem, 8 Mile e Run Rabbit Run, mostram uma faceta mais séria, mas não o suficiente para que caia no exagero. São longas, discorrem sobre as inúmeras adversidades que enfrentou pela vida antes de se dar bem. Pesadas, densas, com um batidão embriagante, Eminem em seu melhor estilo rapper triste, bem mais emocionado do que em seu último álbum, o Eminem Show.

Além dessas, também chama a atenção Love Me (Obie Trice, Eminem & 50 Cent), outro rap obscuro, cantado a três vozes masculinas e temperado na medida com uma voz feminina, responsável por uma suavidade equilibrada, que deixa a música sutilmente mais leve. Para quem não tem medo de balanço, mesmo quando estamos tratando de assunto sério. Ótima pedida.

50 Cent aparece em mais duas faixas, Places to Go e Wanksta. Pelo que demonstra a boa vontade da mídia internacional, 50 Cent é cotado para ser o próximo rapper fenômeno. Apesar do visível apoio dado a ele por Eminem, eu diria que ele é um rapper comum. Ele é bom, mas sem o carisma de Dr Dre, Snoop Dogg ou do próprio Eminem. Não é o caso de duvidar de seu sucesso, afinal, ele foi tocado por Midas, mas tenho minhas dúvidas de seu merecimento.

Gang Starr, que aparece na faixa 11, Battle, é muito mais divertido e comanda o microfone com mais desenvoltura, qualidade que separa os rappers bons dos maus.

Xzibit, que participou ao lado de Eminem, Dr Dre, Ice Cube e Snopp Dogg da turnê Up in Smoke mostra um rap mais agressivo em Spitshine. Este é mais um exemplo de artista underrated, como dizem os gringos quando falam de alguém que tem talento, estão na hora certa no lugar certo, mas não emplacam sabe-se lá porquê.

Até Macy Gray faz sua colaboração. E ao contrário do que dizem por aí, não acho que ela esteja deslocada. Em Time of your life, Gray está afinada como sempre. É um descanso para os ouvidos tensos de tanto ouvir os xingamentos pré e posteriores. Um oásis no meio do deserto, necessário, ainda assim, seco e quente. A todos, um lembrete: trata-se de uma trilha sonora e não um disco de rap. Por este ponto de vista, Macy Gray e sua voz aveludada são, sim, muito bem-vindas!

Wasting my time, com Taryn Manning, do Boomkat, deve servir como pano de fundo para as cenas de romance do filme. Balada linda, no melhor estilo emoção na medida certa sem soar piegas.

Enfim, se você não gosta de rap, mas pretende assistir ao filme para tentar entender porque Eminem é tão importante na cultura pop atual, essa trilha pode muito bem superar suas expectativas e fazê-lo rever sua opinião em relação ao estilo musical e seu astro maior.

Agora, se você já gosta de rap e do Marshall Matters III, corra para o cinema. Compre o disco. Delicie-se.

8 Mile - Rua das ilusões
Vários, Trilha sonora
Universal Music

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