Hermeto Pascoal, gênio da música brasileira, morre aos 89 anos
Família confirmou a informação nas redes sociais
Hermeto Pascoal, um dos maiores gênios da música brasileira, morreu neste sábado (13) no Rio de Janeiro, aos 89 anos. A informação veio da própria família, que confirmou o fato nas redes sociais. Conhecido como “o bruxo da música”, ele deixa um legado que transcende gêneros e fronteiras. A família declarou que que Hermeto “fez sua passagem para o plano espiritual” exatamente como queria: cercado por música e por seus companheiros de palco.
Nascido em Lagoa da Canoa, no interior de Alagoas, Hermeto foi autodidata e transformou sua relação com os sons em arte pura. Seu estilo inconfundível misturava baião, jazz, frevo e improvisações que iam além do convencional. Mais do que um instrumentista, ele via a música em qualquer objeto: chaleiras, panelas, regadores e até copos d’água se tornavam parte de sua arte. Não à toa, chamou sua obra de “música universal”, um conceito que inspirou músicos no Brasil e fora dele.
Em 2024, o artista lançou o disco Pra Você, Ilza, homenagem à esposa, e mantinha a rotina de shows e experimentações.Com sua morte, a música brasileira perde um de seus mestres mais criativos, mas sua obra continua como referência incontornável de liberdade artística e invenção.
Quem era e como começou Hermeto Pascoal
Hermeto Pascoal começou a despontar ainda muito jovem no Nordeste: era autodidata, logo cedo já tocava acordeão — aos 10 anos — andava refinando sua escuta pelos sons da natureza, dos objetos improvisados, de tudo ao redor. Seu talento chamou atenção ao integrá-rádios em Recife e João Pessoa, trabalhar em orquestras regionais, e depois mudar para São Paulo e Rio de Janeiro, onde mergulhou nos circuitos de música popular, festivais e gravações.
Um marco decisivo veio com o Quarteto Novo, grupo que agrupou Hermeto com Theo de Barros, Airto Moreira e Heraldo do Monte. Foi uma experiência musical que mesclava ritmos nordestinos com sofisticação harmônica, e ajudou a projetá-lo para um público maior no Brasil.
A partir de meados dos anos 60 e 70, sua carreira internacional ganha força: ele gravou e apresentou trabalhos nos Estados Unidos, colaborou com música de Miles Davis (“Nem Um Talvez” e “Igrejinha” são exemplos), participou de festivais como Montreux, e lançou discos que ficaram clássicos, como Slaves Mass.
Além disso, Hermeto é reconhecido por nunca parar de experimentar. Seu “Calendário do Som” — uma música por dia por um ano — mostra sua dedicação à musicalidade em qualquer espaço de tempo ou lugar. Ele ganhou prêmios, produziu álbuns em distintos formatos (solo, com grupo, com big band, com orquestra sinfônica), e influenciou gerações de músicos brasileiros e estrangeiros.
Sua capacidade de transformar o cotidiano em som — a partir de objetos simples, da água, do silêncio — fez dele uma figura emblemática da criatividade musical, reconhecida como “o Bruxo” ou “mago” dos sons.