Giorgio Moroder, considerado o pai da música de pista moderna, esteve em São Paulo no último final de semana e tocou para uma audiência bem diversificada, composta não só pelos frequentadores de clubes. Moroder, conhecido por seus feitos na música a partir da década de 70, conquistou fama e respeito ao bancar a inclusão do famoso sintetizador Moog na disco music quando o gênero deixou de ser cool nas pistas norte-americanas. Sua aposta se alastrou pelo mundo e gerou uma mudança profunda nas sonoridades de diversos estilos musicais.
Assim, o italiano de 77 anos, responsável por criações marcantes da música e do cinema, esteve no Brasil para uma apresentação única e capaz de surpreender os mais puristas. Se você nunca o viu tocar, a surpresa é garantida desde o início com Moroder apostando em um som pesado, de grave potente, como se estivesse preparando o público para o mix de faixas que ele toca durante seu período nas pick-ups.
Não dá para negar que vê-lo nos decks lembra algo como se seu tio ou seu avô fossem os responsáveis pela playlist da festa da família, porém eles sabem mixar - muito bem - e estão ligados ao que acontece nas pistas de dança ao redor do mundo. Assim, após colocar seu fone Beats vermelho e soltar a primeira pedrada, o produtor mostra que não está parado no tempo e segue com um mix que pode ser tocado em qualquer festival ao redor do mundo.
E claro, além da música, Moroder conversa com o público, pede a ajuda da galera e solta uma versão pesada de "Love To Love You Baby", lançado em 2013.
O DJ joga bem com a audiência, é animador nos moldes antigos, conversa, faz dancinha, finge cantar ao microfone em algumas faixas, conta o tempo das músicas e puxa as palmas. Entre as surpresas de seu set estão produções de Calvin Harris, Zedd e David Guetta, devidamente inseridas entre alguns de seus clássicos.
E isso mostra que somente alguém que entende o seu papel na música e o seu significado dentro do segmento arriscaria tanto, sem medo. É uma mistura farofa? É; mas distribuída de forma bem pontuada e que possibilita a Moroder transitar nesse novo mundo da música eletrônica entre quem o conheceu há três décadas ou quem o conheceu depois da parceria com o Daft Punk.
Com isso, Moroder solta sua salada sonora, se diverte, sorri e parece estar curtindo seu momento atrás do deck. Entre as faixas que fazem parte de seu set estão uma versão trap para “Tony's Theme” - faixa da trilha sonora de Scarface, que ele escreveu e produziu - que mantém o peso de sua performance.
Depois de todo esse caminho, ele ainda solta a faixa do Daft Punk que o recolocou no mercado, conta um pouco da história de como aconteceu o convite e o trabalho com o duo francês e segue com sua proposta festiva. Toca uma faixa em italiano, comenta o resultado da final da Champions League, "Hoje é um dia triste para a Itália. O real matou a Juve", canta, abre os braços, faz sinal de que precisa dormir e comenta sobre a música que irá tocar: "Essa vai ser a última, última". O que não acontece, graças a insistência do público que pede para que ele continue tocando. Por fim, atendendo os pedidos, Moroder permanece no palco e se despede ao som do drop de "Call Me", do Blondie.
Não dá para negar que ver Giorgio Moroder ao vivo é presenciar a história acontecendo e experimentar os caminhos que levaram o produtor até o ponto no qual ele está atualmente. Moroder deixa claro que a música caminha e que nem mesmo ele, que construiu o caminho, está preso a um único segmento. O DJ/Produtor se diverte e diverte a audiência, sem cobrar muita coisa e sem se exigir demais.
Seu retorno às pistas em 2013 deve ter ampliado ainda mais sua visão sobre música e agora, aos 77 anos, ele está curtindo todas as possibilidades que essas faixas podem dar. Moroder apresenta um set que pode ser tocado em qualquer lugar para, praticamente, qualquer público, e deixa claro que seu destino dentro da música é entreter e garantir que mais pessoas possam ver ao vivo um mestre da criação musical. Por isso, se você estiver em algum lugar do mundo e uma apresentação de Giorgio Moroder for anunciada, vá. Vai valer a pena estar lá para ver como a arte pode ser algo que te mantém jovem.