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Franz Ferdinand - <i>Franz Ferdinand </i>

Franz Ferdinand - <i>Franz Ferdinand </i>

EV
13.07.2004, às 00H00.
Atualizada em 13.07.2017, ÀS 04H00
Franz Ferdinand

Franz Ferdinand (Trama)
5 ovos

Em uma primeira audição despreparada, o CD quase engana. O primeiro minuto só traz voz, num quase-folk, acompanhada de poucos acordes de violão. Um falsete arriscado aqui, outro ali, é fácil pensar que se trata de apenas mais uma banda fofinha de Glasgow, Escócia.

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Mas é só o baixo pontuar a chegada do refrão, logo seguido pela bateria e pela guitarra num crescendo, que se dá conta da carga da música.

A voz, que era meiga, mergulha numa sobriedade bêbada e abafada e dá um tapa na cara do ouvinte. Só o primeiro do disco.

O nome aqui, como dá pra ler na capa minimalista do primeiro disco da banda, é Franz Ferdinand. Vindo diretamente de Glasgow, o quarteto é a nova sensação do rock naquele lado do oceano e chega por aqui pelos braços da Trama.

Tão novos, mas já com tantas lendas pra contar

O Franz Ferdinand é formado por Alex Kapranos (guitarra e voz principal), Nick McCarthy (guitarra e teclados), Bob Hardy (baixo) e Paul Thompson (bateria). Os quatro se conheceram dentro de um grupo que orbitava a Escola de Artes da cidade escocesa. Começaram a ensaiar juntos no final de 2001 e no verão seguinte, com quatro músicas no currículo, participaram de uma exposição de arte feminina. Conta-se que o sucesso foi tão grande que foram obrigados a repetir as mesmas quatro músicas logo em seguida.

Apesar de filhotes do meio artístico - ou seja, com uma propensão natural à cabecice - os FF não declaram querer muito da vida. A grande filosofia apregoada pela banda é a diversão própria e fazer músicas para as garotas dançarem.

Quando viram que a fórmula dava certo, ocuparam um andar de uma casa no subúrbio de Glasgow para formar o quartel-general da banda. A energia elétrica era roubada da linha ferroviária próxima. O lugar, batizado de Chateau, deveria abrigar eventos que reuniam shows e exposições de artistas amigos. Na segunda noite organizada, porém, a polícia apareceu e deteu Alex Kapranos.

Corta pra meados de 2003. Mesmo forçados a abandonar os eventos do agora lendário Chateau, onde ainda moram, os rapazes são um sucesso no underground de sua cidade. Em uma viagem para shows em Londres, conhecem o dono do selo independente Domino Records. O contrato é rapidamente assinado e o Franz Ferdinand começa a aparecer, na mídia e nas paradas.

No começo de 2004, com dois singles lançados, eles já são eleitos como grande revelação de 2004, viram figurinhas carimbadas na NME e fazem turnê com o tio velho Morrissey.

Hype injustificado?

Nem pensar. A qualidade do álbum de estréia eleva rapidamente o Franz Ferdinand ao patamar do que surgiu de mais interessante nessa última leva do renascimento roqueiro.

As onze faixas do disco fluem fáceis, sem cansar. Com identidade própria, o conjunto segue no mesmo clima, não abusam de grandes reviravoltas. A fórmula para as garotas dançarem foi levada a cabo, e a banda manda ver num indie pop perfeito para pistas de dança, carregado no ritmo do baixo.

Os detratores vão seguir na ladainha que o som do Franz Ferdinand não é a coisa mais original do mundo. E não é mesmo: ecoa bastante do pós-punk, do industrial, de Joy Division, Smiths e Gang of Four, e por aí vai. O vocal, mutante, flutua entre Nick Cave e David Bowie, passando por trechos que até podem lembrar, vá lá, Julian Casablancas. Mas numa época de hibridismos e releituras, isso não é um grave defeito.

FF - faixa a faixa

O desespero de Jacqueline, a primeira faixa, dá logo lugar ao riff divertido de guitarra de Tell her tonight. Aqui, o ápice quebrado e com o coro em falsete da metade final parece ter sido calculadíssimo para agradar. Tão calculado quanto as roupas de brechó e os cabelos desarrumados - ou não?

Take me out, um dos primeiros singles da banda, vai em frente levando o disco a outro patamar. O andamento da música desacelera de repente e se mantém assim, levando o ouvinte à loucura. Não à toa, a letra fala da tensão sexual não realizada entre duas pessoas.

Dark of matinee e Auf achse retomam o desespero. A primeira bebe no new wave enquanto a segunda tem sua base num piano e constrói uma ambiência soturna que ganha mais consistência e abriga um refrão ótimo, cortesia de Kapranos.

Cheating on you é a faixa com o pé no punk do disco e é quase banal, apesar de divertida. This fire contrapõe o vocal grandioso e ecoante das estrofes com o coral rápido do refrão, do tipo grudento.

Então chega o outro single que ajudou a banda a ocupar as paradas, Darts of pleasure. Assim como Take me out, esta também trata da tensão sexual, mas desta vez muito bem realizada. Nota-se pelo vigor na base instrumental. O orgasmo está ali, no imperdível trecho final em alemão.

A faixa seguinte, Michael, com seu conteúdo explicitamente homoerótico, causou burburinho em torno da sexualidade dos integrantes da banda. Nada que realmente importe, mas é divertido notar que é a única faixa em que a empostação da voz é claramente máscula. O clima e a batida são perfeitas, novamente, para uma pista.

Fechando o disco, Come on home mistura melancolia em falsete no refrão à batida enérgica do restante, resultando na faixa mais fraca do conjunto. A última, 40, poderia até surpreender por um refrão de la-la-las. Mas a este ponto, depois de tanta coisa acontecendo, já se espera qualquer coisa.

Vida longa ao arquiduque

Dizem que pra toda ação, há uma reação. Lá em 1914, quando o arquiduque Franz Ferdinand foi assassinado, a carreira de eventos desencadeou na Primeira Guerra Mundial.

No mundo da música, as coisas seguem o mesmo padrão. Todo movimento de sucesso acaba gerando uma resposta. E este Franz Ferdinand pode ser considerado a resposta britânica ao novo rock que veio dos EUA, com Strokes e companhia.

Ação, reação. A grande diferença aqui é que não foi bem em sentido contrário. Pode até não durar muito, mas já deixou sua marca.

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