Festival Indie Rock 2007
The Magic Numbers, The Rakes em show mal dimensionado
As duas noites do Festival Indie Rock, que aconteceu em São Paulo na semana passada, foram marcadas por covers. De Magic Numbers, com Beyoncé, e The Rakes, com Serge Gainsbourg, aos brasileiros do Móveis Coloniais de Acaju, que releram "Glory box", do Portishead, tirando uma casquinha da platéia blasé.
Nada mais apropriado para um festival que ganhou também a fama de cover, como uma versão de um evento que poderia ter sido bem sucedido - mas não foi por uma série de pequenos equívocos. O maior deles, abrigar o festival em um lugar grande como o Via Funchal, a R$ 100 por noite, sem nomes gringos de grande expressão para chamar público. As duas bandas, que não são exatamente headliners nem na sua Inglaterra de origem, tocaram para uma audiência diminuta, que poderia muito bem lotar um lugar menor, como o Sesc Pompéia, a ingressos mais agradáveis.
Os nomes brasileiros sofreram na escalação, por mais uma série de pequenos erros. A paulistana Hurtmold, com seu pós-rock instrumental mais habituado a público interessado, foi um balde de água fria. Apesar da costumeira boa apresentação, esfriaram quem se empolgou com o rock requentado da carioca Moptop - que, apesar de criativamente quase nulo, agitou o começo da primeira noite. Ruim para os paulistanos, que ficaram sem a apresentação de Lucas Santanna, rara por aqui e restrita à versão carioca do evento.
A Nação Zumbi, escalada de última hora para substituir a conterrânea Mombojó (que cancelou o show por causa do falecimento de um dos membros, no começo do mês), enfrentou platéia minúscula na segunda noite. Entrando no palco enquanto o público ainda enfrentava o frio paulistano para chegar à casa, os recifenses deram o troco e, num show mal humorado, maltrataram o lugar com versões hardcore de suas músicas, abafando os tambores em uma parede de distorção. Ranzinza, Jorge du Peixe anunciou disco novo para outubro, provocou ("Afinal de contas, somos indies brasileiros", disse antes de "Maracatu atômico") e nem deu trela para a atração maior da noite, The Rakes, classificada por ele como "mais uma banda que não vou lembrar o nome".
Os Móveis Coloniais de Acaju, que tocaram em seguida, tiveram a proeza de conquistar um público indie-rabugento com sua música estranha. A big band de Brasília, que vem ganhando força no cenário nacional, recebeu o troféu de show mais agitado do festival. Com dez pessoas no palco (incluindo flauta, saxofones e trombone) e misturando gafieira com rock e música cigana, o grupo diverte com sua instrumentalidade elaborada - que foi mal aproveitada pelo som da casa -, seu bom humor e coreografias no palco.
Todo o show foi em cima de Idem, o primeiro disco lançado no ano passado, com uma faixa nova, "Cheia de manha". Ao final, como já é costumeiro nas apresentações dos Móveis, o vocalista desceu ao chão com metade dos músicos, formando uma roda de dança na platéia. Agradaram parte dos presentes, mas arriscaram a pele: a audiência pentelha, que só estava ali pelo hype inglês de fim de noite, olhava com desdém para os animados Móveis. Alguns até ensaiaram agressões contra os músicos, de longe. Se demorassem mais um pouco, a festa dos brasilienses ia acabar mal.
Encerrando a segunda noite, os ingleses The Rakes subiram ao palco e não conseguiram provar o falatório que orbitou o nome da banda há algum tempo. O show foi praticamente em cima do primeiro disco Capture/Release, lançado em 2005, incluindo dois lados B. Ten new messages, lancado neste ano, compareceu com poucas músicas mas, ironicamente, as que mais empolgaram - como "We danced together", "When Tom Cruise cries" e "The world was a mess, but his hair was perfect", que encerrou o bis.
A banda tem boas canções, que ficam melhores ao vivo. Mas para quem já viu Franz Ferdinand ao vivo, os Rakes acabam passando como bandinha menor, que não merece ainda o status de "grande atração da noite". E o vocalista Alan Donohoe - que, visivelmente chapado, passou o tempo tirando sarro da platéia que pedia músicas -, não ajuda.
Cenário diferente foi pintado pelos Magic Numbers, que fecharam a primeira noite do Indie Rock, no dia anteiror. Simpáticos e falantes, já conquistaram o Via Funchal de cara - na segunda música, "Take a chance", a platéia já fazia corinho e dançava junto. Daí emendaram um excelente show de quase duas horas, revezando músicas dos seus dois ótimos álbuns (The Magic Numbers, de 2005, e Those the brokes, de 2006). O carisma é o forte do quarteto, que estava claramente feliz pela acolhida calorosa dos brasileiros, mesmo com a casa com um terço do público possível. E assim fizeram um dos melhores shows do ano, com direito a música nova ("Fear of sleep", gravada para um EP a ser lançado em setembro).
No bis (entre "Wheels on fire" ao violão, "Mornings eleven", melhor canção da banda, e "The beard", costumeiro encerramento dos seus shows), os ingleses atenderam aos pedidos e encaixaram "Crazy in love", da Beyoncé, que nem estava no roteiro, mostrando sua competência musical em um arranjo que melhorou o hit da cantora em 200%. Daí se faz uma boa cover, coisa que o festival deveria se fiar.
Nação Zumbi
The Magic Numbers
Moptop
magic numbers
indie
Móveis Coloniais de Aracajú
Hurtmold