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Festival de Paredes de Coura 2005

Festival de Paredes de Coura 2005

PZ
24.08.2005, às 00H00.
Atualizada em 18.11.2016, ÀS 15H04

Foto:
!!!

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Arcade Fire
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Woven hand
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Juliette & The Licks
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Vincent Gallo
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Nick Cave
Fotos: JP Almeida

O Festival de Paredes de Coura (Portugal), que se realizou nos dias 15, 16, 17 e 18 de agosto, teve seu elenco considerado um dos melhores da Europa e o melhor de todos os tempos em Portugal. Perto da fronteira com a Espanha, o cenário montanhoso e verdejante foi mais uma vez perfeito para todos que foram até a cidade, que fica 418 km ao norte de Lisboa.

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Dia 1

Já era noite quando os membros da banda Sons And Daughters entraram no palco para abrir o primeiro dia do festival. As quatro figuras criaram a expectativa de um grande show mesmo antes de começarem a tocar, e foi exatamente isso que o público presenciou. A vocalista Adele Bethel (que também se aventura na guitarra e piano) trajando um vestido curto e com os lábios fortemente pintados de vermelho criou um ritmo selvagem, frenético e sensual, que potencializou de uma forma inimaginável os temas gravados pela banda em estúdio. Com movimentos muitas vezes semelhantes aos de Karen O (Yeah Yeah Yeahs), Adele deu um verdadeiro show e conseguiu conquistar o público. A intensidade da performance aumentou gradualmente durante o decorrer da apresentação e teve como um dos pontos altos a vocalista se enforcando com o fio do microfone. Um excelente show de abertura marcado pelos vocais gritados de Adele e pela força do resto da banda, que tem uma dinâmica quase mágica, condizente com o som country rock agressivo produzido pelo quarteto escocês.

Dia 2

O segundo dia de festival prometia atrair um público mais jovem graças aos radiofônicos Kaiser Chiefs, The Bravery e Foo Fighters, mas acabou se revelando a data mais fácil de se mover entre as fileiras próximas ao palco. Devido a problemas técnicos a banda que deveria abrir o dia, MxPx, acabou tendo seu show transferido para o palco secundário, depois do show dos Foo Fighters. Sendo assim, Death From Above 1979 foi a primeira banda a pisar o palco principal. O curisoso dueto de baixo e bateria cria em seus álbums uma massa sonora que não permite destinguir os intrumentos que estão sendo tocados, fazendo uma música forte e cheia. E o mesmo acontece no palco. Porém, com apenas dois intrumentos, o arsenal da banda é limitado e acaba levando as músicas à uma inevitável repetição. Apesar disto, Death From Above 1979 fez o show que todos esperavam: duro, direto, agressivo e ainda com espaço para piadas no meio de algumas músicas, deixando um gosto de suor e fuligem na boca do público, que apreciou e ficou com fome por mais.

A surpresa da noite foi a banda de nome !!! (pronuncia-se Chk Chk Chk). Injustamente colocada antes de Kaiser Chiefs e The Bravery a banda protagonizou um dos melhores shows do festival. A performance ao vivo ultrapassou largamente os registros em estúdio, cativando um público que foi pego de surpresa pelo vocalista Nic Offer. Vestido com uma camiseta rosa e um short azul acima do joelho Nic subiu ao palco sabendo que faria o melhor show do dia. !!!, a máquina de fazer dançar, deixou os mais desatentos chocados graças à performance de Nic, que pulou freneticamente e chegou a derramar em si mesmo um copo de cerveja oferecido por um fã. O ritmo tribal das músicas aliado à performance da banda fez todos que sabiam dançar mexer as ancas, e todos os que não sabiam também. Destaque especial para o dueto de Nic Offer, cantando no palco, e John Pugh (baterista), cantando no meio do público. Nic se despediu dizendo "Esta é a nossa última música, acho que alguém vai vir tocar depois de nós…", e a sensação que fica é que depois da apresentação do !!! absolutamente nada poderia ser melhor, e que qualquer banda que viesse a seguir seria totalmente dispensável.

Kaiser Chiefs possui bons singles, mas não consegue passar da barreira pop/catchy. Um público bem composto aguardava a atuação da banda, que acabou sendo ofuscada pelo incrível show anterior. Logo no inicio, enquanto cantava um dos grandes hits, "Everyday I Love You Less And Less", o vocalista Ricky Wilson caiu de mau jeito quando foi dar um de seus saltos e torceu o tornozelo. Ainda deitado, continuou cantando a música enquanto rolava de dor pelo chão. Certamente este foi um dos motivos para o fraco show realizado. Mesmo com a dor evidente em seu rosto, Ricky continuou dando o melhor que poderia nesta situação, pulou várias vezes caindo em um só pé e sempre puxou a participação do público. No fim, o que aconteceu foi um concerto satisfatório realizado por uma banda mediana, que só vai lançar mais um álbum, e ainda bem.

Não existe nenhum motivo que justifique a posição que The Bravery ocupou no cartaz do festival. !!! e até mesmo Kaiser Chiefs mereciam ocupar o lugar de penúltima atração da noite. Desde o princípio isso era evidente e durante o show só ficou mais óbvio. The Bravery é simplesmente medíocre e banal, apesar de existir o esforço para cativar o público e dar um bom show, ele é mínimo e ineficiente. Não existe arrogância, não existe um mau comportamento e eles realmente parecem se esforçar, mas não existe talento e o vocalista Sam Endicott simplesmente não tem voz! Mais um revival dos anos 80 destinado ao esquecimento…

Os espaços vazios entre as pessoas desaparecem, a pressão cresce, o calor aumenta e o Foo Fighters entra no palco. O grupo, que após um ano volta para mais uma apresentação em Portugal, começa com a música que dá nome ao novo álbum, "In Your Honor". O show é o que se pode esperar do Foo Fighters e de Dave Grohl: forte, áspero, bem humorado e com muita interação entre o público e a banda, mas infelizmente não vai muito além disto. Sempre competentes na execução das músicas, os membros da banda deixam a bem humorada personalidade de Grohl dominar e ser o responsável pelos momentos mais inusitados. Um dos fatos mais marcantes aconteceu durante o bis, quando Grohl entrou no palco dando uma cambalhota e tocou a última música com a bandeira de Portugal amarrada em seu pescoço, como se fosse uma capa. E o momento mais inesperado foi quando o ex-Nirvana trocou de lugar com o baterista Taylor Hawkins e desceu o braço, enquanto Taylor tocava guitarra e cantava.

Dia 3

O dia com o casting mais bem composto do festival teve início com as novas promessas do rock, passou a um dos grandes astros da atualidade e terminou com os já lendário Pixies.

O power-pop com influências new-wave dos Futureheads foi cativante e eficiente durante seu curto show, que durou cerca de 30 minutos. Os quatro membros da banda de Sunderland esbanjaram simpatia e fizeram um show divertido e dinâmico. Ideal para um ótimo início de tarde.

Usando um casaco da nova coleção da seção feminina da Zara, Steve Bays, o peculiar vocalista da banda Hot Hot Heat, desfilou seus temas pop de fácil digestão. A figura com longos cachos loiros mostrou ser um vocalista com boa capacidade vocal e, junto com o resto da banda, teve o público na mão durante todo o show, realizando mais uma performance bem humorada e cativante. E com o repertório pop cheio de letras e melodias catchy a banda teria que se esforçar muito para conseguir um resultado inferior ao alcançado. Ficou a vontade por mais e a sensação de que a banda poderia tocar por várias horas que a diversão seria a mesma.

Tudo que dizem sobre um show do Arcade Fire é verdade. Toda a mística, toda a emoção, toda a energia, é tudo verdade. Eles próprios fizeram o soundcheck e quando deram o primeiro acorde de "Wake Up" tudo funcionou como um verdadeiro despertar para um mundo alternativo. A emoção à flor da pele passada pela banda atingiu o público como uma flecha, destruindo tudo que tentasse resistir. A performance frenética e teatral deixou todos os que já estavam à espera de um grande show chocados, e pegou de surpresa quem estava desatento. A maior prova disto é a sequencia de "Crown of Love" e "Cold Wind", a música composta pela banda para a série A sete palmos (Six Feet Under), que criou um dos momentos mais mágicos, trazendo lágrimas aos olhos de muitas pessoas do público, inclusive a um incauto fã de Queens of the Stone Age, que antes do show começar estava desinteressado, mas que ao fim dizia ter acabado de presenciar o melhor espetáculo de sua vida. Neighborhood #2 (Laika), Will Butler e Richard Parry se batem e se jogam no chão enquanto tocam percussão. Régine Chassagne e Sarah Neufold iniciam um duelo entre violino e acordeão como duas panteras se encarando antes de partir para o ataque. O espetáculo é tão grande que se torna impossível prestar atenção em tudo que acontece em palco. O curto show terminou com a poderosa seqüência de "Power Out" e "Rebellion", músicas que não deixaram os milhares de espectadores ficarem calados. Para encerrar de vez, o alto vocalista e guitarrista Win Butler deu um stage diving totalmente inesperado durante um dos últimos versos de "Rebellion". Sentado no chão, no meio do público, em um transe profundo, com os olhos fechados e ainda tocando guitarra Butler fechou a apresentação de forma arrebatadora, colocando mais um tijolo na sólida parede de misticismo que envolve o Arcade Fire e encerrando qualquer duvida sobre quem faria o melhor show do festival.

The Roots, uma banda de hip hop totalmente deslocada em um festival basicamente de rock não poderia fazer muito para conquistar a atenção do público, principalmente depois da atuação que havia acabado há pouco. A banda pecou em fazer versões de músicas de outras bandas e muitas improvisações e solos, dando a idéia de uma grande jam session e não de um verdadeiro show. O profissionalismo e a qualidade dos músicos é inegavel, mas apesar disto The Roots não conseguiu atingir um público ainda atordoado pelo espetáculo do Arcade Fire.

Josh Homme e o Queens Of The Stone Age entram em palco para sua terceira apresentação no festival de Paredes de Coura. Sem nenhuma dúvida o show mais brutal dos quatro dias, tanto pelas músicas quanto pela reação do público, que não se conteve nem um pouco, gerando um mosh pit descontrolado e violento. Sem Nick Olivieri, as músicas do recém-lançado Lullabies to Paralyze dominaram o repertório, tendo como pontos altos o single "Little Sisters" e o final com uma versão da famosa "No One Knows". Ainda que esta apresentação não tenha tido a mesma grandeza que em outras do grupo em Portugal, o QOTSA mostrou mais uma vez a potência e a qualidade que a tornam uma das maiores bandas de rock da atualidade.

Milhares de pessoas aguardavam ansiosas para ver o lendário Pixies. Vários anos depois do fim da banda Frank Black não pára de engordar, Kim Deal parece uma dona de casa pronta para dar sua caminhada matinal, Joey Santiago está cada vez mais cool e David Lovering ainda mais careca depois de raspar os cabelos que já não tinha. O show começou com uma lenta versão de "Wave Of Mutilation" e a partir daí se seguiram todos as outras grandes músicas do Pixies. Mas por melhor que elas sejam, a energia já não é mais a mesma. Qualquer coisa ficou perdida no meio do caminho. O público vibrou, mas algo realmente não está como há 15 anos. Parece que a pausa fez a banda perder a vontade de dar grandes shows. Mas o sorriso sempre aberto de Kim Deal é delicioso e deixou todos confortáveis para esquecer estes detalhes e seguir viagem pelo mundo da banda, que, apesar de tudo ainda é o Pixies.

Dia 4

O último dia, que para muitos parecia ser o menos atrativo do Festival, acabou se mostrando o mais surpreendente. Com uma hora de atraso o The National entrou no palco para fazer a divulgação de seu último e mais aclamado álbum, Alligator. A banda apresentou um espetáculo intenso em que a dor e o sofrimento passados pelo vocalista Matt Berninger, que parecia prestes a se suicidar, se fez sentir no público de uma maneira positiva, por mais estranho que isto possa parecer. Um show que começou morno, aqueceu rapidamente e deixou o publico sedento por mais.

Por motivos de doença o Killing Joke cancelou sua participação em cima da hora, promovendo para o palco principal uma banda destinada inicialmente para a área Songwriters. E não poderia haver melhor hora para Jaz Coleman ficar doente. Woven Hand, liderada por David Eugene Edwards, que também tocou no 16 Horsepower, foi a grande surpresa da noite. Durante o decorrer do show, o cenário apocalíptico criado por David, filho da um pastor Nazareno, levou todos a uma viagem bizarra e insana enquanto o céu deixava de ser azul e ficava cada vez mais negro. Graças às letras de forte teor religioso, David incorporava a figura de um pregador insano, residente em alguma pequena cidade no interior dos Estados Unidos. O trio composto por bateria e duas guitarras elétricas criou ambiências que tornaram impossível imaginar como o Woven Hand poderia entrar no contexto do palco Songwriters, pois a banda é musicalmente grande demais para isso. O ataque sonoro contra os espectadores é constante e possui uma dinâmica e agressividade incríveis. Woven Hand deixou para trás um público dividido: alguns maravilhados e outros simplesmente chocados, sem entender o que tinha acontecido.

Logo depois veio o já esperado refugo de Juliette & The Licks. A banda formada pela atriz Juliette Lewis (Assassinos por natureza) não consegue sair da banalidade. Todo o pouco interesse musical que o álbum Youre Speaking My Language poderia despertar desaparece durante o cansativo show. Se não vale pelo que se ouve, pelo menos há bastante para se ver. Juliette é uma ótima entertainer e o resto da banda não fica para trás.

Saímos do punk afetado e passamos para a calmaria de Vincent Gallo. O multifacetado artista entrou no palco com um guitarrista e uma mulher grávida, que durante a primeira música sentou-se ao teclado e depois passou a maior parte do tempo tocando bateria, suavemente. E foi este o agradável ritmo que o show seguiu, conforme o tempo passava e o frio começava a ficar mais forte as pessoas eram embaladas pela beleza melódica das músicas e também pela beleza visual que existia no palco. Vincent, famoso por sua arrogância, foi extremamente cativante e deixou o público deliciado com suas piadas leves e com as histórias que contou. Um show que pediu por um ambiente mais intimista para potencializar um dos espetáculos mais belos do festival.

Nick Cave entrou em cena todo de negro, junto com seus Bad Seeds para encerrar o Festival de Paredes de Coura. Logo na primeira música, "Get Ready For Love", foi dado o tom para o show pesado que se seguiria. Mesmo com um repertório dominado pelo álbum duplo Abbatoir Blues/The Lyre of Orpheus, que está longe de ser um dos seus melhores trabalhos, e a falta de temas de "No More Shall We Part", que só apareceu durante o bis, representado pela belíssima "God Is In The House", o show foi extremamente potente. Sempre o mais perto possível do público, Nick Cave apontou, olhou as pessoas nos olhos e enquanto a luz vermelha batia em sua face ele contou de forma teatral e intimista a história de "Red Righ Hand".

A extremamente competente Bad Seeds, liderada por Mick Harvey, não deixou absolutamente nada a desejar. A energia passada foi algo único e claramente impossível de se recriar pelas mãos de outras pesssoas que não os próprios membros deste grupo. Sem Blixa Bargeld um pouco da magia de "The Weeping Song" se foi, mas mesmo sendo cantada apenas por Nick Cave a canção foi um dos pontos mais altos do show, junto com clássicos como "The Mercy Seat" e "Tupelo". Sob um céu negro e denso em que a lua se sobressaía como um farol Nick Cave & The Bad Seeds se despediram com força total em uma alucinante versão de "Stagger Lee", libertando uma última e devastadora vaga de energia e encerrando o festival de maneira sublime.

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