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Deus é mulher e tem o rosto de Elza Soares

Cantora nos deixou, aos 91 anos

JJ
21.01.2022, às 12H47.
Atualizada em 21.01.2022, ÀS 13H00
Elza Soares

Créditos da imagem: Reprodução/Instagram

 

Elza Soares, mulher preta, artista, de 91 anos, morreu de causas naturais no Brasil. Notícia de uma perda que entristece, mas que também reverbera a oportunidade que tivemos de conviver e compartilhar o mesmo mundo, por tanto tempo, com uma artista como ela.

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Musicalmente, Elza se destacou com seu talento em diversas fases da carreira; foram mais de 60 anos na estrada e 35 discos lançados. No período mais recente, a partir de 2000, seu trabalho ganhou ainda mais força. Eleita a voz do milênio, em 1999, pela Rádio BBC, ela permaneceu olhando para o futuro, e também entregou algumas das suas obras de maior impacto, como seu primeiro disco só de inéditas, A Mulher do Fim do Mundo, que rendeu novas sonoridades a sua voz consagrada.

Realizou shows lotados por todo o país, tocou no Rock in Rio, angariou novos fãs, e mostrou seu talento, sua voz e sua forma de cantar para todo o mundo.

Nas seis décadas em que passou nos palcos, Elza Soares interpretou do samba à bossa nova, do rock ao eletrônico, do hip-hop ao funk, desbravando terrenos como a Sapucaí, onde foi uma das primeiras puxadoras de samba-enredo. Sempre falou de amor, preconceito e feminismo, mesmo quando esses temas ainda não estavam estruturados e não eram amplamente debatidos na sociedade.

Esteve sempre à frente do seu tempo, mesmo fazendo questão de dizer que pensava no presente. Talvez essa mistura entre olhar para o agora com uma mente do futuro tenha gerado a necessidade de falar constantemente sobre temas tão caros à sociedade brasileira. Elza entendia sua importância e o quanto sua voz reverberava na música e em seus posicionamentos, sempre claros, nas redes, na TV e onde mais fosse possível falar.

A partida e o legado de uma deusa

Uma mulher que nasceu no berço da pobreza brasileira de 1933, em um morro carioca, e precisou lutar diariamente contra um mundo que fez de tudo para que ela não existisse. 

Foi ridicularizada em sua primeira apresentação, por causa da aparência e da forma como se comunicava. Demorou para gravar seu primeiro disco, por causa da cor da sua pele, lutou contra a fome e a morte de seus filhos, teve a vida privada invadida quando casou com Garrincha. Sobreviveu às tragédias da vida entregue ao chamado da sua música.

Enfrentou o pior do racismo e do classicismo à brasileira, enquanto era atração nos festivais da década de 60 e cantava pelo mundo, tornando-se referência de empoderamento e talento para diversas gerações de pessoas pretas de todo o país.

Elementos esses que potencializam ainda mais a notícia de sua morte, a qual foi recebida com pesar e homenagens de diversos artistas e publicações no Brasil e no mundo. No entanto, para compreender o tamanho e a importância de um artista, não há melhor parâmetro que a manifestação das pessoas que tiveram suas vidas impactadas por ela. E as linhas escritas pelos fãs de Elza foram inúmeras, lindas e comoventes.

Sua importância como parte da cultura brasileira e mundial, seus posicionamentos e lutas, suas histórias, são tantas e tão importantes que, agora, nem todas terão o destaque que merecem. Isso, com certeza, irá proporcionar ainda mais oportunidades para continuar descobrindo e enaltecendo o que Elza fez pela música, pela arte e pelas pessoas.

Se deus existe, ela é uma mulher e tem o rosto de Elza.

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